18 - Quando foram separadas

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Era uma monótona tarde de sexta-feira. Mitsuki estava organizando sua estante de livros depois de tê-los limpado, enquanto Kei estava sentada em um canto com um ar pensativo.

— O que aconteceu? — Mitsuki perguntou, vendo o olhar perdido da amiga.

Kei estava amuada desde que tinha chegado e vê-la sem seu usual sorriso animado, dava arrepios em Mitsuki.

Como resposta, ela somente levantou os olhos tristonho e encarou a amiga por alguns segundos antes de voltá-los para o chão.

Mitsuki suspirou ao entender o motivo do desânimo dela.

— De novo o papo de casamento — concluiu e Kei acenou a cabeça levemente.

O padrasto de Kei sempre trazia esse assunto e cada vez ficavam ainda mais frequentes as perguntas sobre "namoradinhos" e indiretas sobre possíveis candidatos. O resultado sempre era Kei perdendo o ânimo para fazer qualquer coisa o dia todo e aqueles olhos tristonhos que doíam.

— Fala sério, em que século ele vive? — Mitsuki bufou indignada. Ela se virou e sentou-se de frente à amiga. — Olha, continua ignorando, uma hora ele para.

— Sabe, eu não quero me casar... com ninguém — sua voz era calma e decidida. — O primeiro casamento do meu padrasto não deu certo, o com a minha mãe não é dos melhores e de tanto ele encher minha cabeça, tenho ódio desse assunto. A relação de seus pais é uma exceção e tenho certeza de que nunca farei parte dela. Então é isso: não vou me casar.

— Quer saber... eu também não.

Kei a encarou confusa e um pouco surpresa, aquela era uma grande decisão para ser feita tão de repente. E Kei também nunca tinha visto percebido nenhum motivo para Mitsuki descartar a ideia tendo exemplos tão bons ao seu redor.

— Tem certeza?

— Para falar a verdade, eu nunca gostei de ninguém.

— Você não gosta de mim? — Seu tom era de preocupação.

— Não, tonta — deu um peteleco bem no meio da testa dela, que soltou um "ai" e esfregou o local. — Claro que gosto de você, também amo o Touya e, óbvio, meus pais. Mas, percebe, é diferente. O que quero dizer é que nunca gostei romanticamente de alguém. Já li vários livros de romances, vi filmes, séries e realmente nunca senti nada que chegasse perto. Sempre preferi jogar vôlei ou... comer pizza. É, seria bom uma pizza agora.

— Aquelas que seu pai fez semana passada estavam boas.

Enquanto se lembravam da noite em questão, suas bocas começaram a salivar e por segundos quase esqueceram do assunto anterior.

— Já sei, vamos fazer um trato — Mitsuki disse de repente, saindo do transe, e chamando a atenção de Kei. — Daqui dois anos, quando fizermos dezoito anos, nós vamos morar juntas.

— Eu posso ter um aquário? — A animação voltava a sua voz.

— Peixes são chatos, Kei... — disse manhosa, arrastando a sílaba do nome da amiga.

— Eu acho fofo os olhinhos vesgos e o biquinho deles — respondeu, imitando as expressões.

— Está bem — concordou, rindo da careta da outra. — Agora me ajuda aqui para irmos jogar. As meninas disseram que estariam no ginásio às três horas.

As duas se levantaram e começaram a recolocar os diversos livros espalhados pelo carpete do quarto de volta na estante, formando um lindo degradê que começava no branco, passava por todas as cores e terminava no preto.

Ao longo dos anos - TodoBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora