22 - Quando descobriram

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Que horas eram? Todoroki não fazia a menor ideia. Tinha passado o dia todo deitado em seu quarto com as cortinas fechadas, na esperança de que o escuro pudesse ajudar a amenizar a enxaqueca que estava sentindo.

No dia anterior, havia trabalhado mais do que geralmente costumava. A todo momento chegavam mensagens e emails sobre reuniões de última hora ou de reagendamento das datas de entrega de projetos. Agora estava pagando pela sobrecarga de trabalho com aquela dor infernal.

O dia todo parecia ter sido apenas um borrão dolorido. Lembrava-se de Katsuki saindo cedo para trabalhar, depois dos filhos se despedindo para irem à escola... ou estariam avisando que tinham chegado? Também se lembrava de várias vezes escutar seu celular tocando, mas não tinha ideia de onde ele estava e eventualmente a ligação caía. Seria trabalho?

Apenas o ligeiro esforço que havia feito para recordar esses acontecimentos foi suficiente para fazer sua cabeça latejar. Com muito custo, ele se virou na cama e, tateando, buscou pela cartela de comprimidos na mesinha de cabeceira.

Para sua infelicidade, ela estava vazia. Já era a segunda cartela que acabava em uma semana que estava apenas na metade. Sem saída, ele se viu obrigado a fazer o que não tinha feito o dia todo.

Ao sentar-se na cama, tudo girou e uma repentina ânsia trouxe o gosto amargo da bile para sua boca. Tapou a boca para conter o vômito e respirou fundo, amenizando a sensação de enjoo.

Momentos depois, quando se sentiu levemente menos tonto, arriscou colocar os pés para fora da cama e ficar de pé. Utilizou a mão para se apoiar na mesinha de cabeceira e depois seguiu cambaleando até a saída do quarto.

Parou em frente a escada. Sabia de cor a quantidade de degraus, tinha decorado há anos, mas agora, aquela dor latejante deixava sua visão turva e fazia-o perder totalmente a noção de espaço.

Segurando o corrimão o mais firme que conseguia, ele desceu o primeiro degrau. Só precisava chegar até a cozinha. Desceu o segundo. Não era longe. Terceiro ou quarto agora? Ficava logo em frente a escada. Mais alguns. Chegaria lá, tomaria o remédio e a dor se tornaria suportável. Pareciam faltar poucos e foi nesse momento que um passo em falso e uma abrupta fraqueza no corpo inteiro lhe ocorreram.

Suas pernas perderam totalmente as forças e o peso do restante do corpo cedeu. Tentou se agarrar ao corrimão, mas foi a chegada repentina de Bakugou para segurá-lo que impediu que um acidente muito pior tivesse ocorrido.

— O que aconteceu? — Perguntou preocupado, ajudando o marido a se sentar em um dos degraus.

— Eu não sei — respondeu com os olhos fechados e a cabeça abaixada, as coisas pareciam ficar um pouco mais estáveis assim. — Fiquei um pouco zonzo e me desequilibrei.

— Todoroki — ser chamado pelo sobrenome era claramente um sinal de que algo o estava incomodando, e muito —, olhe nos meus olhos e me diga o que está sentindo.

Com muito esforço, ele levantou a cabeça e abriu os olhos, encontrou imediatamente as safiras preocupadas e firmes de Katsuki, mas, então, tudo girou e o gosto amargo voltou a garganta. Ele engoliu em seco e novamente fechou os olhos, colocou uma mão no ombro do marido para suprir a falta de contato visual.

— Dor de cabeça, náuseas e ânsias — confessou —, mas eu só preciso tomar um remédio e isso melhora.

— Quantos você já tomou hoje?

Quantos tinham na cartela ontem à noite? Até o mínimo esforço era capaz de aumentar a dor de forma assustadora.

— Não sei, talvez cinco.

Ao longo dos anos - TodoBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora