25 - Quando houveram imprevistos

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Era algo tão simples e banal. Ninguém nunca reparava no que estava fazendo, até mesmo Todoroki não notava.

Já havia subido e descido aquelas escadas milhares de vezes. Costumava descer para tomar café, e depois voltava para o escritório, onde trabalhava boa parte do dia. Quantas vezes não subiu pulando alguns degraus ou desceu tão depressa que quase caiu? Sempre que esquecia alguma coisa, ficava chateado por ter que voltar ao segundo andar. Mas também havia o momento que mais gostava e pelo qual esperava o dia todo: quando ele e Katsuki subiam juntos para o quarto de mãos dadas, onde tomariam banho enquanto discutiam os acontecimentos do dia. Isso parecia ter sido há tanto tempo.

Agora estava parado ao pé da escadaria, segurando firme o corrimão e olhando para cima pensando em todas essas coisas simples.

Todoroki sabia que a cada dia ficava mais fraco, podia sentir isso, mas às vezes passava despercebido por ser uma diferença tão pequena. Porém havia momentos como agora, em que coisas corriqueiras se tornavam impossíveis e faziam com que ele se lembrasse de como tudo era antes — aquela discrepância gritante — e uma pequena parte se quebrava dentro dele silenciosamente.

Lolla estava ao seu lado abanando o rabo e com a língua para fora em uma espécie de sorriso. Ultimamente ela tinha adquirido o hábito de ficar seguindo Shoto pela casa como uma forma de proteção.

Algo que Lolla gostava de fazer era sentar-se no banco da janela entre o quarto e o escritório no segundo andar e ficar observando as coisas lá fora. Então ela começou a subir as escadas, mas parou e se virou quando percebeu que não estava sendo acompanhada. Ela voltou para o lado de Todoroki e refez o caminho e mais uma vez ao não ser seguida, latiu chamando-o.

— Eu não consigo, Lolla — admitiu e uma dor aguda perfurou seu peito. — Vem.

Caminharam juntos até a sala, onde Todoroki se sentou no sofá e ela se deitou ao lado dele. As orelhas atentas de Alfred logo surgiram de trás do móvel e ele caminhou elegantemente para se juntar a eles, acomodando-se no colo de Shoto.

Assim estavam sendo a maioria das tardes dele enquanto o marido estava no trabalho e os filhos na escola, rodeado de proteção, carinhos, lambidas e muito pelo, mas era bom, ajudava a distrair.

Os gêmeos eram os primeiros a voltarem para casa e assim o silêncio acabava até que eles fossem dormir. Mitsuki nunca poupava detalhes para descrever seu dia e Todoroki amava escutar cada palavra. Touya não dizia muito, mas era prestativo e ajudava com tudo que precisava ser feito.

Depois que Katsuki chegava, eles jantavam, conversavam mais e, dependendo da noite, assistiam filmes ou jogavam algum jogo antes de irem deitar.

O casal já havia desejado boa noite para ambos os filhos e agora se dirigiam para o quarto, mas ali estava outra vez o problema.

Katsuki começou a subir as escadas, porém foi impedido por um sutil puxão em seu braço. Olhando para trás, Shoto ainda não havia subido nenhum degrau e o olhar dolorido dele era de partir o coração.

— O que foi? — Perguntou em um tom brando que ele sempre se chocava em conseguir ter.

Shoto ficou em silêncio encarando o marido. Uma coisa era admitir que não tinha mais a força de antes para Lolla que não compreendia as palavras de fato e nem a gravidade delas. Mas dizer aquilo para Katsuki... era impossível.

A única reação que conseguiu ter foi apertar ainda mais a mão dele, esse gesto e a expressão amedrontada que ele tinha foram suficientes para Bakugou entender a situação.

— Está tudo bem — disse, com um sorriso de canto e ficando na frente dele, então ergueu a mão livre e acariciou sua bochecha —, eu te ajudo.

Ao longo dos anos - TodoBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora