7 - Quando descobriram habilidades

497 59 44
                                    

A cozinha mais parecia uma câmara de tortura. Ali, na sua frente, estava o maior pesadelo da vida de Todoroki: matemática.

- Eu não entendi essa, papa - disse Mitsuki.

Nem eu, pensou ele.

Shoto tinha dito que ajudaria na lição de casa enquanto Katsuki não chegava do trabalho. No começo foi fácil, pois eram lições sobre linguagem e caligrafia, mas quando essas acabaram, vieram as contas.

Ele suava frio, respirou fundo tentando se concentrar. Tinha que conseguir resolver uma questão da quarta série.

- Aqui, querida, é só você somar isso com isso.

- Essa parte eu entendi, mas e depois?

- Depois... - ele pegou o papel e releu a questão. Que depois? - Bom, depois...

- Cheguei! - Bakugou anunciou da sala.

- Graças a Deus! - Comemorou Shoto, correndo e abraçando o marido, também distribuiu vários beijos por seu rosto.

- Uau, sei que sou irresistível, mas o que aconteceu?

- Descobriram a matemática, foi isso que aconteceu.

Katsuki riu.

- Papai! - Touya e Mitsuki correram e o abraçaram.

- Vou ficar mal acostumado com recepções assim. - Pegou os dois no colo e deu um beijo na bochecha de cada um. - O que estavam fazendo?

Ele carregou os dois de volta para a cozinha. Espalhado pela mesa havia vários papéis, cadernos, estojos e alguns lanches.

- Lição de matemática - Respondeu Touya.

- Eu não estou entendendo essa daqui, papai, olha - Mitsuki entregou a folha para ele e mostrou a questão.

Bakugou leu o enunciado e segurou uma risada. Como Shoto não tinha conseguido resolver aquilo?

- É fácil - começou -, você já juntou os dois, agora é só dividir por dois.

Ela pegou a folha novamente feliz por ter entendido. Sentou-se na mesa e continuou a resolver as contas.

- E você, rapazinho? Precisa de ajuda?

- Não, já acabei.

Katsuki pegou a folha de exercícios dele e realmente estavam todos resolvidos corretamente.

- Parece que vamos ter mais um gênio da matemática na família - constatou Bakugou.

- Parabéns, filho! - Disse Todoroki. - O que quer comer?

- Chocolate!

Touya desceu do colo de Katsuki e acompanhou o outro até o armário. Shoto quebrou dois quadrados do doce e deu para ele.

- Eu também quero - pediu Mitsuki.

- Termine sua lição primeiro, querida.

Touya voltou para a mesa e ficou assistindo à irmã com as lições. Bakugou se aproximou do marido com um ar malicioso.

- Não era você que dizia para eu não subornar nossos filhos?

- Isso não é suborno, é um incentivo.

Bakugou sacudiu a cabeça com um sorriso nos lábios.

- Acabei!

A menina recebeu seu prêmio e os dois começaram a organizar as coisas que estavam sobre a mesa, juntaram tudo e colocaram dentro das mochilas penduradas nas cadeiras.

- Vão escovar os dentes - disse Shoto -, já, já vamos colocar vocês para dormir.

Os gêmeos assentiram e foram para o banheiro fazer o que lhes foi pedido.

Até aquele momento, Katsuki nunca tinha realmente parado para observar o quanto Shoto tinha se tornado um excelente pai. Ao longo dos anos, ele tinha conseguido deixar de ser tão inseguro. Ainda se preocupava bastante, mas conseguia controlar isso muito melhor agora.

Todoroki voltou-se para o ômega e o encontrou com um olhar brilhante e encantador.

- O que foi?

- Nada - passou os braços pela cintura do outro, mantendo-os próximos -, só admirando o homem e pai maravilhoso que você é.

Shoto corou. Colaram uma testa na outra e deram um inocente beijo de esquimó.

- É porque tenho você comigo.

Deslizaram sutilmente as cabeças para o lado e selaram os lábios com aquele beijo, esse era um pouco mais intenso, mas o significado e a essência continuavam ali.

- Bom - começou Katsuki quando se separaram -, talvez precise aprender um pouco mais de matemática...

- Quais os cinco principais elementos do gênero narrativo? - Perguntou sério.

- Vai jogar sujo assim?

Eles riram e foram para o quarto dos filhos. Lá, os gêmeos já tinham vestido seus pijamas e esperavam deitados pelos cafunés e beijos de boa noite.

- Amamos vocês - disse Shoto.

- Também amamos vocês... - Touya respondeu pegando no sono.

Escutar aquelas palavras sempre preenchiam Todoroki com a mais pura felicidade.

Os adultos saíram silenciosamente do cômodo e caminharam de mãos dadas até o quarto deles. Então o momento pelo qual eles mais esperavam o dia todo tinha chegado. Depois de tirarem as roupas de trabalho - ou no caso de Shoto, as casuais -, foram relaxar na banheira que nunca pensaram que seria tão essencial.

- Desculpe não ter ido na reunião de pais hoje - falou Bakugou.

- Não se preocupe, terão muitas outras para você ir.

- O que disseram sobre eles?

- A professora de Mitsuki disse que ela dá um pouco de trabalho, mas é esforçada e adora as aulas de educação física; recomendou que a gente a colocasse em algum clube de esportes, disse que isso ajudaria ela a ser mais contida em situações que exigem isso; ela também tem bastante imaginação e gosta de ler na frente da sala. Já a professora do Touya falou que ele é um aluno exemplar; tem um pouco de dificuldade para fazer amigos, mas ultimamente tem se dado bem com uma menina e outro menino; disse também que ele se interessa bastante por matemática e computação; pediu minha autorização para inscrever ele em uma competição de matemática que vai ter entre outras escolas, aceitei, achei que você ficaria orgulhoso.

- Isso é bom. - Suspirou, começava a sentir o cansaço do dia. - Vou dar uma olhada nas nossas economias, mas acho que dá sim para matricular a Mitsuki em um clube.

- Ok. - Quando beijou a nuca de Katsuki, viu um arrepio se espalhar a partir daquela região. - Como foi no trabalho?

- Estressante. Daqui um ano e meio vai haver uma mudança de donos, então temos esse tempo para resolver todas as pendências da empresa. A pior parte é a todo momento encontrar coisa mal resolvida de cinco anos atrás. - Ele esfregou o rosto tentando lavar toda a tensão que sentia.

- Você é Todoroki-Bakugou Katsuki. O orador dos formandos de contabilidade do seu ano. Pai de duas crianças lindas e maravilhosas. Casado com alguém excepcional, diga-se de passagem. - Riram. - Tenho certeza que se alguém consegue resolver qualquer coisa é você!

- Você esqueceu alguns adjetivos...

- É verdade. Você também tem um pavio curto, às vezes ronca ou me chuta sem querer pra fora da cama, ou então esquece de colocar sua roupa suja no cesto...

- Já entendi. - Virou-se para encará-lo.

- Mas nada disso importa, porque eu não consigo mais viver sem nenhuma dessas coisinhas que te tornam você.

Katsuki levou uma mão ao rosto de Shoto que inclinou a cabeça para o mesmo lado como se pedisse por carinho. Ele recebeu e foi puxado para um beijo calmo e gentil.

Eles não tinham pressa. O mundo tinha parado para observá-los.

Ao longo dos anos - TodoBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora