23 - Quando relembraram

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Todoroki precisou se levantar depressa e ir correndo para o banheiro para evitar que o sofá ou o chão da sala se sujassem de vômito. Bakugou veio logo atrás e abaixou-se ao lado dele para ajudá-lo a segurar o cabelo.

― Você não tomou os remédios para enjoo que a médica passou? ― Katsuki perguntou depois que Shoto colocou para fora o pouco que tinha conseguido comer o dia todo.

― Acho que acabei esquecendo, desculpe ― disse, aceitando a mão do marido como apoio para se levantar e indo lavar a boca.

― Não precisa se desculpar, vou arrumar eles para você e também algo pra comer.

― Tudo bem, obrigado.

Bakugou deu um beijo ingênuo na testa dele e depois foi para a cozinha. Todoroki virou o rosto, observando seu reflexo no espelho e, tirando a leve expressão de cansaço, ele não se parecia em nada com alguém doente, o que era bom. Mas, por outro lado, o mal estar por conta da quimioterapia sempre o lembrava de sua nova condição.

Hoje tinha sido o dia de sua terceira quimio, já fazia um mês e meio desde a descoberta do câncer e seis semanas desde o começo do tratamento. Depois das sessões, as sensações de enjoos eram frequentes e ficavam ainda mais fortes causando vômitos se por ventura Todoroki acabasse esquecendo de tomar os remédios receitados. Exceto isso, tudo corria bem.

Não foi possível esconder a notícia dos gêmeos por muito tempo. O problema que enfrentariam foi exposto logo no fim do jantar do mesmo dia em que tinham chegado do hospital. Touya ficou bastante tenso, mas dava para ver o seu esforço em não deixar transparecer suas preocupações e medos, já Mitsuki mostrou o seu típico otimismo ao dizer:

― É apenas um câncer, quantas pessoas não são tratadas e curadas todos os dias? Papa é forte. Logo, logo vai ser mais um na porcentagem de pacientes recuperados com sucesso ― depois de ver os sorrisos, mesmo que um pouco incertos, nos rostos deles, ela voltou a comer, mas a comida parecia ter certa dificuldade em descer sua garganta.

Os outros parentes e amigos próximos também tentaram disfarçar suas inseguranças e asseguraram que estariam ali sempre que eles precisassem de ajuda.

Tendo terminado de tirar o amargo horrível da boca, Todoroki deixou o banheiro e foi para a cozinha, onde o marido o esperava segurando em uma mão alguns comprimidos e na outra um copo de água; sobre a mesa, em um dos assentos, estava posta uma tigela de cereais com banana e uma colher ao lado.

- Você é maravilhoso, sabia? - Todoroki comentou.

- Sei sim - Katsuki se aproximou dele com um sorriso convencido -, mas não me importaria de ouvir isso mais vezes.

- Não, sério - com as duas mãos, segurou o rosto dele -, o que eu fiz para merecer um marido tão perfeito como você?

- Simplesmente também é uma das pessoas mais incríveis desse mundo.

- Está me elogiando de volta? Quem é você e o que fez com o meu Katsuki? - Provocou, com um quê brincalhão e desconfiado na voz.

- Só estou em um bom dia - ele tentou desconversar -, agora tome logo esses remédios e come o que eu fiz para você.

Todoroki aceitou os comprimidos e o copo d'água e, depois de tomá-los, recebeu um rápido selinho antes de se sentar para comer os cereais.

Bakugou não estava agindo daquela forma apenas naquele dia, Todoroki havia reparado que ele parecia estar se permitindo demonstrar mais afeto desde o dia em que descobriram o câncer. Ao invés de ficar remoendo a hipótese dele estar fazendo isso por medo de algo ruim acontecer, Shoto preferia simplesmente aproveitar intensamente cada elogio, cada beijo, cada carícia e cada um dos abraços apertados que recebia. No fim, acabava não sentindo que aqueles gestos transmitiam medo, mas sim todo o amor de Katsuki por ele.

Ao longo dos anos - TodoBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora