29 - Quando levou flores

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Ironicamente, aquele dia era totalmente oposto ao de dezessete anos atrás. Estava ensolarado, as pessoas caminhando na rua pareciam alegres e Katsuki atravessava sozinho os portões do cemitério.

Ali, ao lado, havia o carrinho de uma florista, repleto de diversos tipos de flores e cores, onde Katsuki parou para comprar um pequeno buquê antes de seguir por entre as lápides.

Algumas tinham uma espécie de lodo cobrindo as inscrições de tão antigas que eram e outras eram tão novas que quase dava para sentir a dor que ainda as rodeava.

Mesmo depois de tanto tempo, Katsuki ainda sabia exatamente onde deveria ir e, chegando lá, teve um flash de lembrança dos vários familiares e amigos reunidos ali tantos anos atrás.

Bakugou sentou no banco de pedra em frente ao túmulo e observou as inscrições na lápide. O nome tão familiar e as duas datas que registravam o início e fim.

Ainda era difícil.

— Desculpe ter demorado tanto para voltar aqui — ele suspirou. Ainda doía, não tão forte quanto antes, mas... — Acho que você entende. Os gêmeos também vieram, estão esperando lá fora; pedi que me dessem um tempo a sós primeiro. Bom, o que posso dizer? Nesses últimos anos tivemos muitos momentos... difíceis, principalmente quando você se foi, talvez você não imaginasse a falta que faria. Mas também tiveram os bons.

Bakugou suspirou novamente, desta vez, em sua mente, se passava um filme dos acontecimentos que compuseram todos aqueles anos.

— Nós estamos indo bem — continuou. — Conseguimos enfrentar muitas coisas. Eu não tenho mais recaídas com o álcool e os gêmeos continuam sendo perfeitos da maneira como sempre foram.

Katsuki não era alguém com muita facilidade para se abrir, mas tinha se esforçado e aquilo provavelmente era o máximo que conseguiria por agora. Então, levantou-se para apoiar o buquê de flores brancas no pé da lápide e retomou seu lugar.

— Perdemos tanto tempo com discussões e implicâncias inúteis — ele riu. — Talvez seja um pouco tarde para dizer, mas eu te amava... continuo amando. Devia ter te dado flores enquanto ainda estava aqui. Não vou cometer o mesmo erro com ele.

Um pouco longe, Katsuki escutou vozes familiares e não demorou para as duas pessoas se aproximarem.

— Esse é o da vovó? — Perguntou Touya, tomando o lugar ao seu lado direito e escorando a cabeça em seu ombro.

— É sim — respondeu, passando a mão por suas costas e o puxando para mais perto.

— Eu queria ter conhecido ela — disse Mitsuki também se sentando ao lado esquerdo dele. — Como ela era, pai?

— Vocês já viram fotos dela — eles assentiram —, então acho que vocês só não sabem que a personalidade dela era talvez mil vezes pior que a minha na adolescência.

Os três soltaram risos fracos.

— Acha que ela teria gostado de nós? — Mitsuki continuou.

— Com certeza. Ela adoraria aprontar com você e mimaria o Touya de todas as formas possíveis.

Mais algumas risadas e então, um breve silêncio para que eles se aconchegassem mais um nos outros.

— Já terminou o que queria dizer para ela? — Questionou Touya.

— Já sim, vocês querem dizer algo?

— Eu gosto de ter seu nome, vovó — Mitsuki falou primeiro, observando as inscrições na pedra.

— Obrigado pelo nosso pai, vovó — foi a resposta de Touya.

Katsuki precisou olhar para cima e apertar forte os olhos e os lábios para impedir as lágrimas de escaparem. Aqueles, definitivamente, eram os melhores filhos do mundo.

Ao longo dos anos - TodoBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora