24 - Quando ficou inseguro

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Mais um dia nascia e despertava Todoroki do sono profundo e aconchegante em que se encontrava.

Ele abriu os olhos lentamente para se acostumar com a claridade do quarto e, ao olhar para o restante da cama, não encontrou Katsuki. Onde teria ido? Ele sempre costumava dormir até mais tarde aos sábados e, por mais que Shoto soubesse que nada havia acontecido, não tê-lo ali era um pouco incômodo.

A melhor coisa a se fazer então, seria procurá-lo. Era bastante provável que o encontraria na cozinha, preparando algo — não importasse o que fosse — maravilhoso para eles tomarem de café da manhã, esse simples pensamento o fazia sorrir.

Sentou-se na cama e alongou os braços o mais alto que pode, depois passou os dedos pelo cabelo e ao chegar ao fim, uma quantidade anormal de fios se encontrava em suas mãos.

Por mais chocante que pudesse parecer, aquilo não o surpreendia. Já estavam por toda a casa: nas suas roupas, espalhados pelos travesseiros e cobertas, no chão de cada cômodo e quase entupindo o ralo da banheira. Ele sabia que isso aconteceria.

Tinha sido avisado na última quimioterapia que a queda de pelos, principalmente cabelo, não demoraria a começar. Mesmo assim, só agora entendia o quão horrível era quando de fato acontecia.

Sem que Todoroki percebesse, Bakugou entrou no quarto, ostentando um sorriso e trazendo uma farta bandeja de café da manhã. Seu sorriso, porém, não se manteve por muito tempo ao ver o marido sentado na cama com uma postura abatida e olhando melancólico para as mãos em seu colo.

— Shoto? — Ele deixou a bandeja nos pés da cama e se sentou à frente do marido que ainda assim não parecia ter notado sua presença. — Está se sentindo bem?

Todoroki estava totalmente alheio às suas perguntas e nem mesmo seu toque parecia surtir efeito. Ele permanecia estático e com um ar perdido.

Foi neste momento então, que Katsuki desceu o olhar de seu rosto para suas mãos e reparou no emaranhado de fios vermelhos e brancos que se enroscavam nos dedos de Todoroki. Aquele momento tão delicado tinha enfim chegado.

— Eu sinto muito... — começou, sem saber ao certo o que dizer. Engoliu em seco e continuou, mesmo sabendo que talvez aquela não fosse a melhor pergunta para a ocasião, mas o silêncio era inquietante. — Você... já sabe o que quer fazer?

Todoroki não respondeu, nem parecia ter escutado. Seu olhar permanecia vidrado em suas mãos, era como se ele estivesse preso em alguma espécie de bolha.

— Disseram que o mais prático seria raspar — Katsuki segurou ambas as mãos dele —, mas você não precisa se não quiser. Eu sei o quanto gosta de ter o cabelo grande... também podemos pensar em outras soluções.

— Sabe por que eu deixei ele crescer? — Sua voz saiu calma, ignorando todas as perguntas feitas anteriormente, e seu olhar continuava baixo, completamente focado em suas mãos juntas agora.

Bakugou realmente nunca tinha parado para pensar que pudesse ter qualquer outro tipo de motivo para o visual do marido exceto pelo simples gosto. Sentiu a culpa em seu peito inflamar. Era uma pergunta tão simples, por que nunca tinha pensado em fazê-la todos esses anos?

— Não — respondeu simples, iniciando um leve carinho com os polegares no dorso da mão dele. — Por que deixou seu cabelo crescer?

— Depois da nossa formatura do terceiro ano, você... — sua voz ficou embargada e ele correspondeu o aperto das mãos de Katsuki, buscando por força. — Você disse que eu ficaria bonito... — finalmente levantou o rosto, e foi doloroso para Bakugou ver aqueles olhos marejados. — Eu nunca tinha me sentido bonito antes.

Ao longo dos anos - TodoBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora