Pas Couru

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– Vamos, força! – Ordenei batendo palmas no ritmo da música – É um Assemble Batti e não simples, Tenten!

As alunas se mantinham no centro e não era nem preciso forçar minha vista para ver seu suor manchando os collant, os peitos que subiam desregulados, esforçando-se ao máximo para manter o ritmo acelerado.

– É um Allegro, não um Adagio!

Foquei em Tenten que se mantinha na frente, mas mesmo que ela estivesse no fundo não a perceber não era bem uma opção. Em compensação aos pés tortos – que estavam melhorando com a barra móvel – seus saltos eram invejáveis de tão precisos e altos. Era como ver um herói de filmes de ação que tiram impulso de um único suspiro.

– Pare de morder a boca, Tenten – Briguei ansiosa – E acerte os braços.

Também não foi difícil perceber que à medida que as habilidades da morena cresciam, os olhares que ela me lançava pioravam. Na verdade, não ficaria minimamente surpresa se ela imaginasse um ônibus passando por cima de mim todo dia antes da aula. Pelo menos até hoje seus desejos não tinham se cumprido.

Assim que terminaram a sequência, esperei que se posicionassem todos no centro da sala e dei o sinal para que Asuma iniciasse o música para o agradecimento. Esse era exatamente o momento em que minha mente se desprendia da aula e começava a voar para a próxima hora que passaria treinando. Tinha chegado até mesmo a sonhar com o treino, tinha sido excitante e divertido, e todos riam à minha volta enquanto dançávamos juntos, mas não gostei muito da parte em que o Riquinho metido me tirava para dançar. Até em meu sonho queria dançar com ele e isso não me agradava nem um pouco.

– Obrigada pela aula – Falei aplaudindo junto com os alunos. – Amanhã quero as variações afiadas.

Assisti os alunos se desmancharem porta afora, tirando sapatilhas e meias no meio do caminho. Virei-me para o espelho e sem perder tempo arranquei minha própria redinha mal colocada e ajeitei o rabo-de-cavalo, preparando-me para minha própria e secreta aula. Hoje aprenderia meu solo e era difícil ignorar meu estômago se revirando, na verdade, não fosse a insistência de minha tia, eu duvidava que teria comido alguma coisa de manhã.

– Você é uma boa professora – Asuma me elogiou se aproximando. – Um pouco assustadora, mas uma boa professora.

– Assustadora?

Essa sem dúvida era uma característica que nunca tinha recebido antes.

– Sim, mas como você é sobrinha da Tsunade – Brincou, sussurrando como se fosse algum segredo obsceno.

E antes que pudesse conter, gargalhei alto com o comentário. Senti-me péssima no mesmo instante, afinal ela ainda era minha tia e eu a achava uma profissional muito competente, ainda assim, era impossível sufocar minha parte maliciosa que concordava completamente com as palavras do músico. Minha tia podia ser realmente assustadora.

– É, talvez eu seja um pouco parecida com ela.

– Na verdade, te acho mais parecida com a sua mãe.

­– Mesmo? – Perguntei curiosa.

Era difícil que alguém da Academia falasse sobre minha mãe, na verdade, com exceção da minha tia, a maioria tratava o assunto como um verdadeiro tabu, como se ao citar o nome dela eu fosse me desfazer em lágrimas, o que não era verdade – Ao menos, não mais –. Atualmente, ouvir histórias sobre ela, fazia com que eu a sentisse mais próxima de mim, como se ela própria estivesse ao meu lado contando as loucuras que tinha aprontado quando mais nova, além disso, ouvir sobre ela fazia eu entender mais sobre mim mesma.

– Sim, ela era super energética – Continuou, retirando as partituras – E às vezes podia ser um pouquinho... Energética demais.

Não sabia o que "energética demais" significava, mas pelo rosto que Asuma fez acreditei que não fosse um elogio. Bom, eu já sabia que minha mãe, assim como o restante da família, poderia ter um temperamento difícil, afinal por mais que fosse nova eu ainda me lembrava de algumas broncas que tinha recebido. Também me lembrava de alguns gritos, palavras que hoje são totalmente disléxicas para mim, mas que na época me assustavam e, às vezes, me faziam chorar. Estranhamente, isso nunca tinha durado muito, mas não sabia dizer o porquê e também não era como se tivesse alguém para perguntar.

A boneca e o bailarinoOnde histórias criam vida. Descubra agora