Em meus sonhos seus lábios tinham gosto de melancia. Provavelmente era por ter sido meu lanche da tarde, mas não importava, só sabia que gostava e por isso continuei a beijá-lo. Ao menos suas mãos eram exatamente como as do mundo real, quentes e pesadas, deixando rastros por onde passavam. Eu queria abrir os olhos, enxergar de fato a figura que me dava meu primeiro beijo de verdade, mas o medo de ver outra figura disforme, ou pior ainda, acordar, era muito maior.
Esse desejo, obviamente sentido apenas pelo meu subconsciente, não podia ser passado para as pessoas ao meu redor, e apenas por isso tentei ao máximo não exprimir todos os xingamentos que Jiraya me ensinou quando fui acordada pela Amélia, com o correio na minha porta. O lado bom era ter uma desculpa sobre as minhas bochechas coradas e peito acelerado. Preferia a morte a confessar que estava sonhando em dar uns amassos no Sasuke. Qualquer coisa seria menos humilhante.
— Obrigada — respondi automática, batendo a porta antes mesmo do rapaz se virar.
Eu tinha descido as escadas com pressa, tentando escrever minha assinatura do melhor jeito possível, mas nada disso foi de perto o suficiente para tirar aquela imagem da minha cabeça. Os olhos negros me olhavam, e seus lábios tinham um sorriso meigo que nunca vi antes. Em meu sonho, estamos de novo naquela sala de aula, e Sasuke ficou apenas em silêncio, me encarando e sorrindo, como uma estátua bela e desconcertante. E, num rompante, numa coragem que eu jamais poderia ter, puxei sua mão, coloquei a minha em seu rosto e colei nossos lábios. Era apenas um sonho, o problema é que foi o meu sonho.
Depois daquela tarde, nos despedimos da melhor forma possível com Itachi ligando para que o irmão se apressasse, e, mesmo depois de duas horas ensaiando uma sequência de saltos com a Tenten, eu não conseguia dissipar o frio que a partida do Sasuke deixou.
Tudo foi muito estranho, muito intenso, e me senti tão exausta que convenci minha tia a chamar um táxi e me deixar vir para casa dormir. O problema não foi só o encontro com o Sasuke, mas tudo que ele me fez perceber naquela tarde.
Dançando com Tenten notei que, só para variar, ele estava certo. Ela dançava exatamente como eu, dava para ver a coreografia passando na cabeça dela, os olhos que de esguelho se buscavam no espelho, só para ter certeza de que estava tudo perfeito. Além disso, além de me ver naquela figura, a sensação de não me identificar mais foi a pior parte. Era como ver minha versão do passado e senti tanto medo de voltar a ser ela, que sem perceber, enquanto dançávamos, tentava me afastar de Tenten, como se aquele sentimento pudesse nos absorver.
Larguei a caixa sobre a mesa da cozinha por um instante, indo até a pia para jogar água no rosto. Se Amélia visse isso, não ia gostar nadinha, mas eu não queria andar até o banheiro. Tinha a sensação de que meus pés estavam flutuando e isso me incomodava. Era uma mistura de mistério e agonia.
"Mistério só porque você não quer ver." Me alfinetei, jogando mais água gelada. A verdade é que meus pés ainda sentiam o aperto da sapatilha e meus músculos, o esforço daquela tarde. Não havia mais como negar, eu amava essa sensação, e rodar sobre o meu corpo deslizando a ponta pelo chão, desenhando círculos com ela... Era uma sensação única. Ao que parecia, só não era uma sensação mais única do que ter Sasuke ao meu lado, com as suas mãos pelo meu corpo e seu rosto a centímetros do meu. Sasuke era como minha sapatilha de ponta.
Da primeira vez em que subi em uma, descobri que nada era como pensava. Eu já tinha estudado sobre, me fortalecido para fazer aquilo, mas quando se sobe numa ponta pela primeira vez, é como se seu corpo simplesmente não soubesse mais como funciona. Minhas pernas tremiam e, se não fosse a barra, não tinha ideia de como teria aguentado fazer aquilo. Eu simplesmente não tinha forças para fazer algo que parecia tão simples, mas com o tempo, com treino, meu corpo aprendeu e aquilo foi ficando cada vez mais natural.
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A boneca e o bailarino
FanfictionEu era uma boneca, uma linda boneca. Se pedissem dez piruetas eu fazia, se dissessem que estava gorda eu parava de comer... Não tinha controle sobre mim, sobre meu corpo, ou até mesmo sobre minhas emoções... Nunca me perguntarão se dói quando faç...