Fondu

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E como todo ano, por um único dia eu acordei depois das onze, ouvindo os passos arrastados de Tsunade pela casa, que agindo como um reloginho, colocou água na chaleira. Eu sabia que tinha vinte minutos até ela começar a me chamar e não perdi tempo em pular para fora da cama e correr para o chuveiro.

Como era meu aniversário, sairíamos às duas para onde eu quisesse ir e estava ansiosa para contar à Tsunade para onde iriamos. Estranhamente, já havia feito isso inúmeras vezes — durante oito anos para ser mais exata —, mas sentia como se fosse a primeira vez, talvez porque de fato fosse.

Era a primeira vez que sairia com a minha tia me sentindo inteira, sentindo como se estivéssemos andando lado a lado e não como se me guiasse, e essa sensação era estarrecedora. Além disso, era meu primeiro aniversário namorando e eu ainda não sabia muito bem como me sentir sobre isso.

Não queria que Tsunade descobrisse assim, do nada, então decidi preparar um discurso para quando ela estivesse de bom-humor, no entanto, percebi ser uma tarefa imensamente difícil quando não consegui esconder o sorriso pelo resto do dia. Sempre me pegava voltando àquele beijo, não importa o que estivesse fazendo, dançando, lendo ou mesmo no meio de uma conversa, seus lábios sempre voltavam aos meus e suas mãos se firmavam em minha cintura. Aquilo fazia meu corpo arder de uma forma diferente, nova, e isso eu também não sabia lidar.

Assim, depois daquela despedida a única resposta que encontrei foi ficar fugindo de todos, agindo como a pessoa mais solicitada do mundo, correndo de um lado para outro enquanto secretamente torcia para que ninguém conseguisse ler meus pensamentos. O Google dizia que isso era impossível, mas dessa vez não sabia se podia confiar nele.

Joguei todas as minhas fichas em um banho gelado e um vestido chamativo, antes de descer para o café da manhã na hora do almoço. Como imaginava, encontrei Tsunade numa rara visão de calças jeans, cabelos soltos e um tênis no pé. Nada parecido com a costumeira diretora da NJ, pelo menos, até ela abrir a boca e começar a me dar ordens.

— Se sente, estamos atrasadas.

— Ok — respondi, me apoiando no balcão e pegando a torrada que ela me estendeu — Você já resolveu tudo na academia?

— É claro, Shizune já está cumprindo meus compromissos e as reuniões foram realocadas para amanhã cedo — explicou como se fosse a coisa mais óbvia, o que, conhecendo minha tia, devia ser mesmo.

Tsunade deve ter organizado tudo isso no fim do mês passado, afinal, precisava só de uma única sapatilha de ponta fora do linóleo quando ela não estivesse para cabeças seriam cortadas. Assim, todo o ano ela deixava uma lista extensa de afazeres para Shizune e todos os outros professores, a qual sinceramente duvidava que eles cumpriam, mas como nunca houve nenhum desastre, duvidava que ela fosse descobrir isso tão cedo.

— Para onde vamos? — perguntou após um longo gole no café preto.

De forma sádica e divertida, não respondi, me preocupando em me servir uma xícara e voltar confortavelmente para o meu lugar. Ela estava desde ontem tentando descobrir para onde iríamos, e, talvez por querer que não fosse mais um daqueles eventos super planejados e controlados, desta vez não contei. Obviamente ela não estava aceitando muito bem a informação, mas depois de eu insistir que esse era meu presente de aniversário — o que ela julgou sendo um argumento infantil — não houve mais discussão.

— Eu preciso saber para onde estamos indo, Sakura! Tenho que saber se preciso levar algo, se minha roupa está de acordo...

— Você está perfeita tia, além disso só vamos precisar do carro, mais nada.

A vi bufar mais uma vez, antes de praticamente virar um shot de café. Me perguntava se até os cinquenta anos ela não ia acabar ficando viciada em alguma coisa por minha causa.

A boneca e o bailarinoOnde histórias criam vida. Descubra agora