Soutenu

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Meus pés tinham começado a ficar dormentes fazia meia hora e não importava o quanto eu batesse a ponta no chão, ou pisasse sobre elas, o formigamento continuava a me incomodar levando a sensibilidades de meus dedos juntos à minha paciência. Além disso, para deleite de meu azar ainda tínhamos uma hora de ensaio e, ao julgar pela animação que Tsunade apresentava em suas correções, ela aproveitaria cada segundo ao máximo.

-Está melhor agora? – Sasori perguntou pisando em meus pés.

Conseguia perceber seus dedos brancos pela força que fazia para se equilibrar usando uma das barras. Seu peso era consideravelmente maior que o meu, algo incrivelmente divino nessas horas e como ele sabia disso, não perdeu tempo em se agarrar à barra e começar a pisotear meus pés até eu voltar a sentir meus dedos.

Conheci Sasori em meu Terceiro ano na Academia, quando fizemos aulas de Padedê juntos e ele terminou virando meu parceiro depois que o rapaz que fazia dupla comigo me derrubou e quebrou seu tornozelo no processo. Desde então terminamos fazendo par nas aulas em que estávamos juntos. Não é como se tivesse do que reclamar, afinal o ruivo me erguia sem a menor dificuldade acima de sua cabeça e não me derrubou uma única vez. O que mais eu poderia pedir de um parceiro?... Além disso, embora competíssemos pela vaga na Companhia, Sasori não me lançava o mesmo olhar carregado de inveja que os outros usavam, na verdade, já o tinha pego me encarando por diversas vezes, mas nenhuma maldade soava de seus olhos. A única coisa que me incomodava no ruivo eram os momentos em que tinha repentinos lapsos de gentileza, se oferecendo para coisas como me ajudar a aquecer ou pagar meu almoço. Para minha sorte, seus lapsos eram raros e não foram precisos muitos cortes para que o ruivo fosse assediar outra bailarina.

-Sim, obrigada. – Respondi satisfeita, enquanto o ruivo descia de cima dos meus pés.

-Ela está energética hoje... – Comentou apontando para minha tia que se movia de um lado para o outro da sala dando ordens aos bailarinos – Uma verdadeira mãe cigana.

Eu ri, mesmo que a piada não fosse boa, na verdade, poucas delas eram. Sasori sempre teve um humor esquisito e distorcido para mim, mas sorrir delas sempre me pareceu uma convenção social – Ao menos fora o que Tsunade me aconselhou quando perguntei – e, além disso, deixar que ele se gabasse de qualquer coisa me dava a perfeita desculpa para não ter que responder à nenhuma pergunta, ou até mesmo demonstrar algo real. Ele devia ser alguém legal, mas não era como se eu viesse para a NJ com intuito de fazer amigos. Nem mesmo conseguia me recordar de ter tido uma conversa de fato com o ruivo, ao menos não como tinha tido com minha tia, ou Naruto. Na verdade, hoje já tinha conversado com Sasuke de forma mais íntima se comparado com Sasori.

-Ei, Sakura, você está a fim de ensaiar mais tarde? – Perguntou de repente abaixando o tom.

Desviei dos olhos castanhos, genuinamente desinteressada demais para promover uma boa desculpa. Tinha tido um dia particularmente intenso e minha mente já estava sendo forçada para se concentrar nas correções da loira. Era quase impossível para mim criar mais alguma teoria do porquê não podia ensaiar com o ruivo que não fosse a dura verdade de que eu simplesmente não queria sair com ele. No idioma de Sasori, ensaiar também significava ter de almoçar juntos e esse não era um erro que pretendia cometer pela segunda vez. No entanto, sabia que usar a desculpa de estar de castigo não funcionaria, pois por mais que fosse verdade, assim que minha tia ouvisse a palavra "treino" conjugada na frase iria me liberar de bom grado.

Notei que essa situação era totalmente diferente da de tarde com Hinata. Eu queria sair com a morena, apenas não tinha coragem para fazê-lo. Será que era por que sentia que éramos amigas? Não sabia, mas imaginei que fosse no mínimo algo semelhante a isso. Para minha sorte, a mudança da música junto à minha deixa me entregou uma fuga.

A boneca e o bailarinoOnde histórias criam vida. Descubra agora