Assemblé

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Foi preciso duas horas para que eu conseguisse explicar tudo que aconteceu com várias pausas para lágrimas e tomar o chá que Amélia tinha feito, prometendo que me deixaria mais calma. Mas além disso, e segurar a minha mão, ela não fez qualquer coisa que me interrompesse, me ouvindo até o fim.

Eu já tinha contato grande parte disso ao Sasuke, mas a sensação era completamente diferente, então imaginei que talvez fosse essa a sensação de ter uma avó.

Funguei. Embora tivesse parado de chorar, meu nariz continuava escorrendo, e rapidamente vi a mais velha sumir, antes de surgir momentos depois com lencinhos de papel.

— Obrigada — disse engasgada.

— Tudo bem, minha pequena.

Notei com afeto sua mão tirar os fios do meu rosto. Um pequeno gesto, mas que quase me fez desatar a chorar.

— Você teve uma semana muito longa.

— Um mês, na verdade — Sorri com sarcasmo

— Tem razão. — Riu me acompanhando. — Mas se quer saber, Sakura, eu estou muito orgulhosa de você.

— Mesmo?

— Claro! Escute, eu entendo as preocupações da sua tia, também sou assim com meu filho. Nós só queremos proteger vocês de coisas que sabemos que vão machucar, e sem perceber, fazemos o errado tentando acertar. — Movi a cabeça em concordância, de alguma forma entendendo o que ela queria dizer. Eu jamais colocaria minha tia como uma pessoa ruim. — E aí, quando percebemos que vocês já estão grandes e que não podemos mais simplesmente segurar na mão de vocês e manter por perto... entenda, querida, não é nada fácil.

— Eu entendo, Amélia, juro. Não estou realmente brava com ela ou algo assim, mas...

— Mas você também não pode deixar de viver sua própria vida. Sabe, Sakura, eu acho que Tsunade te criou muito bem, e também acho que já está na hora de você tomar suas próprias escolhas, certas ou erradas.

— Você acha?

— Sim, então eu vou tentar te ajudar. — Ao sentir o calor de sua mão sobre a minha, não pude deixar de pensar que essa era a melhor explicação que eu podia dar sobre o que era felicidade. — Mas eu lhe imploro, tome cuidado e pense bem antes de tomar grandes decisões. Tudo tem uma consequência, Sakura, e você precisa ter sempre isso em mente. Me promete?

Não era como se entendesse totalmente suas palavras, mas ainda assim concordei, imaginando que ao menos o básico eu tinha entendido, afinal escolher o sabor do sorvete jamais teria o mesmo peso de escolher sair de casa. Ao menos disso eu tinha consciência, então já devia servir para alguma coisa.

— Prometo.

— Ótimo! — Respondeu alegre, dando tapinhas em minha mão. — Eu vou conversar com a sua tia e tentar ajudar vocês como eu puder, está bem? Agora vá lá para cima e tome um banho, eu vou preparar algum lanchinho.

— Tudo bem — Falei, rapidamente puxando-a para um abraço, pouco me importando com a mesa entre nós.

Sasuke tinha razão, saber que eu tinha o apoio de alguém próximo trazia uma sensação única. Me devolvia a sensação de paz e aconchego que tinha se perdido há muitas semanas. Agradeci pela quinta vez por tudo e corri de volta ao meu quarto, pouco me importando com a porta aberta quando comecei a arrancar minhas roupas, indo para o banheiro. Como de costume, parei em frente ao espelho, mas dessa vez não havia remorso em meus traços, mas sim uma grande sensação de felicidade, como se tivessem girado a corda da caixinha de música.

A boneca e o bailarinoOnde histórias criam vida. Descubra agora