Capítulo 27 - Promenade
Cuidei de bater as palmas acima do piano afinado, anunciando o final daquela extensa aula. Quando a música enfim cessou, apenas não soube dizer se os suspiros que ouvi foram dos alunos ou do Asuma que massageava os dedos. Não dava para ter certeza apenas pelo reflexo borrado, mas imaginei que tivesse sido ambas as opções.
Os alunos estavam exaustos depois de insistir em uma sessão de Allegro pós ensaio, e o pianista não pode fugir do suplício já que o fiz acelerar a música por diversas vezes. Sim... O suspiro veio de ambas as partes, e sequencialmente deixei que o meu saísse, levando consigo a pressão que abafava a enorme sala. Foi maldoso passar tantos saltos ao fim da aula, mas fora um mal necessário. Nesta semana, os papéis da Mostra de talentos seriam delegados e qualquer segundo desocupado os levaria irremediavelmente a uma torrente de tristeza, nervosismo e possíveis maus-hábitos. Olhando por esse lado, ser chamada de cruel era bem melhor.
E talvez por isso, mesmo de cabeça tão cheia e cansada quanto qualquer um, arrastei meus pés até o fundo da sala, mais especificamente onde o corpo exausto da Tenten tentava obrigar a si mesmo o esforço de mais uma sequência. Em duas aulas tinha percebido que ela era a melhor da turma no Allegro — melhor que eu, embora odiasse admitir —, enquanto os outros mal aguentavam três oitavos, Tenten tinha pulmões mutantes e um vigor de dar inveja. Além disso, depois de nossa conversa, qualquer um podia perceber sua melhora. Obviamente, os vícios não tinham ido todos embora e estava começando a duvidar se, por acaso, seus pés um dia alcançariam a força necessária. Era preocupante e cheguei a pensar em mandá-la ao médico, apenas para que ele explicasse melhor sua estrutura física, mas não podia fazer isso, não esta semana. A última coisa que Tenten precisava ouvir era de como seus pés eram fracos, principalmente porque havia outra coisa muito mais fraca em seu corpo.
— Tenten — Chamei, vendo seus olhos se desviarem por segundos até os meus, antes de focá-los novamente no espelho. — Tenten — Insisti, recebendo um suspiro em resposta.
"Tomara que seja o último do dia." Não gostava de salas suspirantes, me lembravam funerais e esta era a última memória que gostaria de ter, principalmente em uma sala de balé.
— Sente-se — ordenei.
Embora a contragosto, a vi se sentar e dobrar-se sobre as sapatilhas. E mais uma vez, como esperado de uma sala suspirante, o tremor em seus dedos rapidamente passou para os ombros, que se estendeu aos lábios, que por sua vez se esforçaram para comprimir os soluços.
"Merde" Por um instante pude me ver naquele frágil corpo, encolhida sobre mim mesma se perguntando por que diabos não era boa o suficiente. Como professora, eu deveria ser mais dura, colocá-la no eixo, mas como uma recente humana, que conseguia sentir aquele desespero como se crescesse em mim, me vi sentando ao seu lado, e sem dizer qualquer palavra, comecei a desatar suas sapatilhas.
Não a olhei para saber sua reação, mas levando em conta que não fugiu, ou afastou meus dedos, imaginei que não estivesse tão ruim — ou ruim até demais. Tudo bem, eu tinha dado o primeiro passo, mas o que fazer agora?
Eu poderia abraçá-la, mas não era tão boa nisso, sem falar que não éramos tão próximas. Também podia dizer algo para acalmá-la, mas o que se diz a alguém que sabe exatamente o que vai acontecer? Não tem como mentir, mas dizer a verdade também não me parece uma opção. Mordi os lábios frustrada, desejando pela milésima vez ter a Hinata ou o Naruto aqui. Eles que eram bons nisso, eu mal sabia lidar com sorrisos, quem dirá com lágrimas.
"Só acompanhe." Tentei lembrar a mim mesma, fazendo o que sempre fazia quando estava em Konoha e não sabia como reagir. Eu apenas ficava em silêncio e assistia até tudo parecer simples o bastante. Bom, a Tenten não era eu, e esta era uma situação bem diferente, mas era o único plano que tinha, então continuei a desamarrar suas sapatilhas e as tirei o mais delicadamente possível, segurando o xingamento quando notei a falta da ponteira.
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A boneca e o bailarino
FanfictionEu era uma boneca, uma linda boneca. Se pedissem dez piruetas eu fazia, se dissessem que estava gorda eu parava de comer... Não tinha controle sobre mim, sobre meu corpo, ou até mesmo sobre minhas emoções... Nunca me perguntarão se dói quando faç...