Brás Bas

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Tentei não me sentir mal quando as meninas praticamente se obrigaram a se auto expulsar de minha casa quando meus olhos encararam aflitos o relógio. Ino prometeu-me passar por escrito os cuidados que eu deveria ter que tomar, e me senti confortável com os sorrisos e toques cúmplices de Hinata ao notar nossa interação. Ino parecia estar começando a me aceitar mais como membro do grupo, o que fazia eu me aceitar mais e que por fim tornava tudo radiante. Todavia, tal brilho cessou assim que fechei a porta em minhas costas, correndo escada acima para limpar toda a bagunça que tinha deixado em meu quarto e pia. Eu gostava de rosa, mas preferia ele no meu cabelo ao invés da louça, e tinha certeza que Amélia concordaria comigo.

Minhas mãos e pés moviam-se em sincronia, completamente desconstrastantes de meus olhos que tentavam flagrar meu reflexo para admirar a obra de arte da loira. Estava dividida entre me achar belíssima e desconfiar se aquela pessoa era realmente eu. Depois de algumas toalhas lavadas, aquilo tinha se tornado um jogo, onde eu esperava alguns minutos até criar uma desculpa para passar em frente ao espelho e me fitar por alguns segundos, até finalmente me reconhecer naquela imagem. Era um jogo bobo e repetitivo, mas sempre ficava feliz por me reconhecer no final, então valia a pena.

Estava pensando em fazer mais uma rodada quando ouvi o freio de mão familiar e meus dedos gelaram e minha mente ficou em branco, esquecendo as palavras que tinha ensaiado para dizer. Não que estas valessem de algo, afinal a única certeza que tinha era que não fazia ideia de como minha tia iria reagir. Assim, escolhi por respirar fundo e colocar um pé em frente do outro, me arrastando até o destino findável.

— Cheguei! — A ouvi anunciar.

— Oi, tia. — Sem pensar em algo melhor para dizer, desci as escadas como se nada tivesse acontecido, seguindo até a loira.

Tsunade parecia cansada, de coque desgrenhado e pés inchados. A vi desencaixar o salto, soltando ali mesmo antes de erguer as safiras preguiçosas em minha direção. Seus olhos pareciam cansados, até encontrarem meu rosto e se esbugalharem. Seus lábios estavam abertos, como se estivesse prestes a dizer algo e pude jurar que a cor de seu rosto desapareceu tão rápido quanto suas palavras.

"Vamos, Sakura, pense em algo" tentei me forçar a dizer qualquer coisa que acalmasse a situação, mas mal tive chance de formular uma única palavra quando o vulto loiro passou por mim em uma marcha estrondosa. Tsunade deu a volta, enfiando-se dentro da cozinha sem olhar para mais nada em volta, abandonando-me sozinha no corredor, sem saber o que fazer.

Segui em direção à cozinha, encontrando a enorme figura de mãos trêmulas abrindo os armários, mal segurando uma xícara em sua mão. Tsunade agarrou o pote onde ficava o açúcar, antes de enfiá-lo debaixo do braço para pegar o de sal e marchar até a ilha. Assisti tudo de forma catatônica, sem entender minimamente o que ela estava fazendo, me sentindo ainda mais perdida quando a vi virar o açúcar dentro da xícara, seguido pelo sal, e enfiar o dedo para misturá-los. Meus lábios mal tiveram tempo de exprimir qualquer som quando a loira agarrou a xícara e a levou em direção aos lábios, virando todo o conteúdo.

Meu estômago revirou-se ao ver aquilo, sem querer sentindo o gosto agridoce que o sal junto ao açúcar deveria ter formado, mas que ela tomava como se fosse algum tipo de elixir e, que de fato deveria ser, já que segundos depois a cor voltou ao seu rosto.

— Você está bem? — Consegui exprimir.

— Farmácia.

— O quê?

— Nós vamos à uma farmácia, agora — Respondeu, buscando pelas chaves do carro. — Vamos pintar seu cabelo e arrumar isso.

— Não.

A boneca e o bailarinoOnde histórias criam vida. Descubra agora