Penchèe

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Nunca pensei que outra hora poderia chegar tão cedo. No entanto, foi a única coisa que concluí enquanto passava as pernas através da janela, uma depois da outra, tentando não despencar do telhado. Me perguntava se pelo menos a dor física poderia apaziguar a emocional, mas quando acertei em cheio a telha, não foi o que aconteceu.

Meu pé pulsava com a batida dolorosa, mas nem se comparava a dor em meu peito, que estava apertando, de forma tão ridiculamente forte que as lágrimas jorravam quentes pelos meus olhos, já ardidos. A dor física abranda a emocional? O caralho que sim, porque meu próprio coração doía como se alguém estivesse o espremendo entre os dedos, sádico com meus gemidos.

O que eu sentia não era um infarto, e como eu queria que fosse. Queria qualquer coisa, qualquer coisa, do que sentir o que eu sentia agora. Por isso não cessei meus pés nem mesmo quando meu corpo ameaçou cair da beira do telhado, enquanto eu procurava com a vista borrada o cano que se ligava a calha.

Não era inteligente, mas que se foda, eu já tinha me provado extremamente burra de qualquer forma.

Enfiei os dedos entre o espaço da parede e o cano, e encaixei os pé entre os tijolos, consciente da altura que estava. Fiquei ainda mais consciente quando meu pé escorregou.

— Merda! — grunhi.

O som foi todo abafado pelo rangido do cano, me deixando em estado de alerta. O que seria pior? Cair de três metros de altura ou fazer Tsunade vir até aqui? Deus sabia o que eu preferia e, por isso, cravando os dentes em meus lábios e de olhos fechados, me deixei ir escorregando. Pelo menos dessa vez a falta de ar veio por outra coisa que não pelo choro.

Quando meus pés enfim tocaram o chão, não foi surpresa alguma que perdi o equilíbrio, caindo de bunda. A dor em meu cóccix foi quase tão pontuda quanto a do meu peito.

Quase.

"Rápido!" Lembrei a mim mesma, me apressando para ficar de pé antes que minha tia desse por minha falta. Na verdade, parte de mim duvidava que ela fosse me procurar depois daquilo, mas outra parte, a qual eu queria calar, torcia para que ela me procurasse. Não sabia se queria que ela me achasse, ou se queria que ela desse falta de mim, mas queria que ela estivesse ali. E por isso saí correndo pelo jardim.

Com as lágrimas turvando minha visão, foi um milagre não ter me perdido logo de cara. Ainda assim, isso não durou muito.

Alcancei a avenida no mesmo instante que consegui recuperar o fôlego e o choro diminuiu. Não sei se foi melhor assim, já que nesta hora me dei conta do meu estado. Estava de chinelos, pijamas, meu cabelo devia estar um ninho, com os olhos inchados de tanto chorar e completamente sozinha no meio do nada. Perceber isso fez com que as lágrimas voltassem imediatamente aos meus olhos.

Eu estava sozinha, provavelmente perdida, e não tinha nada nem ninguém a quem recorrer, ou pelo menos, ninguém que eu quisesse. Ninguém que me dê o calor que elas me dão. Era idiota uma mulher de dezoito anos chorar pedindo pela mãe, mas era exatamente o que eu estava fazendo no meio de Nova Jersey às 21h00 da noite.

Suspirei sôfrega, me apoiando na parede de seja lá que loja era aquela. Estranho, o clima estava arejado, mas estava cada vez mais difícil de respirar. Apertei meu peito, assustada com a velocidade das batidas, lutando contra mim mesma para focar minha visão. Eu estava morrendo? Deus, eu definitivamente ia morrer.

— Ei, você está bem? — Ouvi ao longe.

Minha primeira reação foi me afastar — uma péssima ideia, já que minhas pernas não me respondiam mais —, cada vez mais assustada com tudo aquilo. A pessoa pareceu entender o recado e se manteve onde estava.

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⏰ Última atualização: Apr 21 ⏰

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A boneca e o bailarinoOnde histórias criam vida. Descubra agora