Chaine

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Tentei colocar um pé após o outro da forma mais natural que podia. Da forma mais natural que ansiedade me permitia. O simples fato de ter conseguido me concentrar na aula dos primeiranistas já tinha sido surpreendente, já que nem mesmo tinha conseguido me vestir direito essa manhã. Cheguei a rasgar uma de minhas meias ao puxá-la com força quando fui subir cochas acima. Definitivamente coxas grossas e desatento não eram uma boa mistura, todavia não tinha muito o que podia fazer, o misto de pânico e ansiedade rondavam minha mente desde a noite anterior.

"Depende de qual régua você está usando para medir o que é certo, ou errado. Se é na régua da legislação ou...Se é da sua tia" tinham sido as exatas e desconcertantes palavras de meu tio. Passei tanto tempo as destrinchando que o próprio esforço nessa tarefa ajudou a trazer um certo ânimo aos meus saltos durante a Variação, na verdade, no mesmo instante que cheguei a uma resposta, recebi elogios de Tsunade de como minha performance estava mais vívida. Ela provavelmente não teria me elogiado se soubesse a razão desse ânimo.

Parei em frente ao espelho do vestiário do Primeiro ano, passando nervosamente os dedos pelos fios na tentativa de ajeitar o coque. Não tinha recorrida ao gel, porque não queria que meu cabelo ficasse totalmente ajeitado, mas me forcei a prender meu coque com todos os grampos, para que ficasse o mais ajustado possível. Embora quisesse passar um ar mais descontraído, também queria me mostrar a séria bailarina que era. Essa era a única arma que tinha.

De acordo com as minhas contas, se Naruto fosse pontual estaria em frente a entrada em dois minutos, tempo mais que suficiente para eu tentar me acalmar e acertar minhas roupas. Estava com meu collant vermelho que deixava meu cabelo mais claro, quase rosa dependendo de onde a luz batia, e tinha a jaqueta do uniforme, mas o longo debate que tive sozinha desde ontem tinha me convencido a não usá-la. Os amigos de Naruto eram todos belíssimos e, embora não tivesse seios avantajados, considerava que minhas costas e cinturas recompensavam sua falta, e, a não ser que fosse vestida de Sheherazade¹ para o Estúdio, collants eram as roupas mais ajustáveis ao meu corpo. Meu rosto estava pálido evidenciando minhas sardas e meus olhos estavam tão abertos que até mesmo Hinata poderia ver meu pânico.

"Droga..." reclamei passando a língua em meus lábios, seguido de beliscões nas bochechas tentando recuperar alguma cor. Ainda podia me lembrar com clareza ao me trancar em meu quarto e de como minhas mãos estavam trêmulas quando respondi à morena de que iria ao estúdio. No fim, ficou decidido que Naruto me buscaria e me traria de volta já que eu estava sem carro, e que teria que ser em meu horário de almoço. Fiquei tão animada que demorei adormecer, imaginando como seria reencontrar a turma de dançarinos, estava tão excitada que me peguei pensando em como seria rever o certo moreno. Não sabia se eu deveria agir com indiferença, ou ser superior e cumprimentá-lo direito.

Tinha tanta consciência do que estava prestes a fazer que temia que estivesse escrito em minha testa - Afinal tinha espaço -. Até mesmo cheguei a prometer que, se fosse até lá e voltasse em segurança sem minha tia descobrir, iria parar de comer chocolate por dois anos inteiros. Agir sem seu conhecimento me causava dores de estômago, mas percebi que sempre fiz exatamente o que ela queria e agora o destino estava me concedendo a chance de descobrir mais sobre mim mesma, Sakura Haruno, e não Sakura a bailarina, ou a sobrinha da diretora. Eu precisava disso. Eu queria isso há tanto tempo, que nem mesmo sabia que esse desejo ainda existia inconscientemente me consumindo por dentro. Queria começar a formar meus próprios ideais. Queria descobrir meu próprio certo ou errado.

"Na régua da legislação" afirmei a mim mesma, seguindo até o armário do professor, enfiando minha bolsa junto ao agasalho. Levar a bolsa seria óbvio então mantive apenas o celular e carteira nos bolsos da calça. Usei a tela apagada para dar uma última inspecionada em meu rosto. Estava aceitável. Então me apressei porta a fora, acenando de vez em quando para bailarinos, ao mesmo tempo que ignorava as raras fuziladas de meus alunos. A amiga de Tenten me olhava com mais raiva a cada hora, mas não era como se eu me importasse com sua opinião ao meu respeito. Eu iria criar uma opinião ao meu próprio respeito.

A boneca e o bailarinoOnde histórias criam vida. Descubra agora