Tombe Pas de bourrée

100 10 5
                                    


Já tinha subido as escadas tantas vezes, que o fato de não ter me esborrachado no chão era uma blasfêmia para a estatística, e uma benção para mim. Tinha arrumado uma toalha velha e potes antigos, além de várias presilhas, basicamente tudo que Ino disse que precisaria para pintar meu cabelo. Sendo sincera, ainda não tinha processado bem a informação, mas as meninas me asseguraram que não seria nada muito drástico, apenas acentuariam o tom rosado que ele possuía. Claro que explicar isso para minha tia não foi tão fácil assim.

Ino se ofereceu para fazer a mudança na mesma hora, já que de acordo com ela, a loira já era quase uma expert de tanto que pintou o próprio cabelo — ainda não conseguia imaginá-la de cabelo azul — e fiquei realmente surpresa por ela ter se oferecido tão rápido. Fiquei mais surpresa ainda quando as duas aceitaram facilmente quando eu disse que não poderia no dia seguinte. Estava tão acostumada a ter datas ordenadas que não podiam ser modificadas que, quando falei que só poderia fazer aquilo no fim de semana e elas aceitaram sem problema algum, quase me engasguei.

"— Que cara é essa, Sakura? Não temos doze anos, se você não pode, tudo bem, a gente remarca."

Tinham sido suas exatas palavras que me deixaram realmente feliz por saber que agora tinha amigas tão compreensivas. Uma amiga e meio, na verdade, afinal se ia deixar Ino mexer no meu cabelo, não podia creditá-la apenas como uma mera conhecida. Todavia, não expliquei assim quando mencionei para minha tia que minhas amigas — duas amigas inteiras — viriam no Sábado, para me ajudar a mexer no meu cabelo.

Não soube se foi pelo nosso acordo, ou se ela ainda não tinha digerido a ideia, mas Tsunade não demonstrou nenhuma grande reação, além de me ameaçar caso ficasse careca ou colocasse algum piercing. Aparentemente, fazer o que quisesse da minha rotina durante um mês, não estava incluído no meu corpo. Desde então, não ouvi qualquer comentário, mas podia ver os sutis olhares que me lançava, do meu cabelo para a porta da frente desde cedo. Por sorte, ou infelicidade dela, hoje tinha ensaio na academia, o que significava que ela não estaria aqui para ver seja lá o que acontecesse na minha cabeça.

"O que os olhos não vêem o coração não sente." Foi o que fiquei repetindo a mim mesma desde que acordei, mas o problema em minha teoria era que mais tarde, mais exatamente às seis, seus olhos passariam a ver, e seu coração passaria a sentir e, consequentemente, meus ouvidos passariam a ouvir.

— Depois você se preocupa com isso. — Lembrei a mim mesma, me incentivando a voltar para a sala vazia.

De acordo com as meninas, meu cabelo ajudaria a me destacar entre os demais e, além disso, sempre diziam que eu era séria demais para minha idade, quem sabe dessa forma eu aprendesse a me soltar mais, afinal com o pouco tempo de amizade que estava tendo com outros adolescentes, tinha aprendido que eu queria ser mais solta. Queria me divertir mais, sem me preocupar com o que comia, ou surtar por causa de horários malucos e pernas que não alcançam graus obtusos. Assim como Naruto, Hinata e Ino, que queria ter um lado normal, sem ser a bailarina bitolada de sempre.

"Ou como Sasuke..." Senti meu rosto corar no mesmo instante em que seu nome preencheu minha mente, seguido por seu rosto, e depois pela imagem indecente que eu mesma tinha criado há alguns dias. Depois de me dar conta do que eu aparentemente sentia pelo moreno ser diferente do que sentia pelos outros, sempre era estranho conversar com ele, pois de alguma forma, sempre me pegava policiando meu próprio comportamento, repassando aquela maldita lista em minha cabeça. Checava o que minhas mãos estavam fazendo, meus lábios e até mesmo se minha voz estava em algum tom esquisito, mas não importa o que fizesse, sempre parecia que eu sempre estava agindo de forma totalmente diferente quando conversava com ele, e acabava entrando em pânico, como se todos a minha volta estivessem notando isso. Muito provavelmente era tudo coisa da minha cabeça, mas, ainda assim, sem perceber comecei a evitar ficar a sós com ele.

A boneca e o bailarinoOnde histórias criam vida. Descubra agora