Cap. 5 - Está Na Hora

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Camila Cabello

Nova Iorque — Estados Unidos

Dias atuais

"Está na hora."

A mensagem, que eu sei que vem de Dinah, apareceu em meu quarto. Uma frase simples que faz meu estômago revirar.

Eu sabia que esse momento viria em breve. É para isso que tenho me preparado desde que fomos sequestradas. Entretanto, quando finalmente preciso colocar minha fuga em ação, estou novamente apavorada como quando despertei depois das drogas que me deram no primeiro dia.

Eu não tenho motivo para duvidar das instruções dela. Se estou viva agora, devo tudo à Dinah.

Criada em meu mundo protegido na ilha, eu jamais teria a engenhosidade de pensar em uma saída. Provavelmente agiria como todas as outras: me rebelado no início até que eles me quebrassem e em seguida, também encontraria o mesmo destino.

Dinah não é só inteligente, mas uma expert na arte da manipulação e eu me tornei uma aluna aplicada. Tenho fingido há tanto tempo, que não sei se há ainda algo de real em mim.

Eu aprendi a representar. É engraçado que pouco antes do meu sequestro, minha mãe disse que tudo o que eu pensava ficava estampado em meu rosto. Não mais. Agora, as pessoas só veem o que eu permito.

Eu sabia, mais por intuição do que por experiência, que a minha única chance de passar por isso sem ser vendida novamente seria fazer o rapaz se afeiçoar a mim.

Ele nunca foi um homem delicado ou doce, mas eu aprendi a amansá-lo, dizendo o que ele desejava ouvir. Ganhei sua confiança ao ponto de enfrentar o pai várias vezes por minha causa.

O homem que passou a se autodenominar meu marido é arrogante, pode ser frio e até cruel às vezes, mas me protege desde que decidiu que eu pertencia a ele.

Quanto ao pai, ali sim está o verdadeiro monstro.

Não gosto do jeito que ele me olha. Eu sei o que há naqueles olhos. Os outros homens que trabalham aqui me olham do mesmo modo.

Cobiça. Desejo.

Eles sabem.

Todos eles sabem que apesar de ocupar o lugar de uma esposa, eu sou intocada. Dentre todos, o que mais temo é o pai de Aleksander. Perto dele, eu me esforço ainda mais para fazer o papel de estúpida. No começo, os homens pareciam não acreditar muito, mas com o passar do tempo, eles começaram a relaxar ao meu redor ao ponto de falarem sobre seus negócios.

Eu acumulo tantas informações que quase posso me considerar um membro de sua organização criminosa. Sei quem eles são e o que fazem. Memorizei quantos carregamentos de drogas e seres humanos chegam a cada semana no Porto. Conheço os nomes de seus principais clientes e também de algumas autoridades em sua folha de pagamento.

Se desconfiassem de tudo o que tenho guardado, não duvido que estaria morta. Mas além do pavor de que descubram que venho mentindo por anos, o que me faz ter pressa em me preparar para fugir agora, é a convicção de que no momento em que não houver mais a barreira do filho se interpondo entre nós, Gjergj virá para cima de mim.

Aperto o papel em meus dedos.

Suas palavras têm um peso maior do que qualquer um adivinharia. Elas significam que o tempo de Aleksander na Terra acabou. Não há mais nada a ser feito. Ele morrerá em breve.

Uma parte de mim, a covarde, gostaria que a mensagem não fosse verdade, mas pelos motivos errados.

Não tem nada a ver com lamentar sua morte. Eu não duvido nem por um segundo que se a situação fosse outra, se ele não estivesse confinado a uma cadeira de rodas ou seu cérebro entrando em colapso, seria tão ou mais cruel do que seu pai.

Se Dinah me enviou o bilhete, é porque conseguiu acesso ao resultado dos exames. A doença dele teve uma escalada nos últimos dois meses e essa mensagem é somente a confirmação de que não há mais nada a ser feito.

Olho para o rapaz adormecido no quarto que compartilhamos. Ele está ainda mais magro e frágil do que quando o conheci e a menina que eu fui um dia, a pura, ingênua garota de uma pequena ilha da Grécia, se compadeceria de seu estado.

Só que aquela garota não existe mais. Meus dezenove anos são somente um número.

No lugar da antiga Camila, há uma mulher que se tornou especialista na própria sobrevivência. Hoje, eu posso ser praticamente quem eu quiser.

A companheira agradável do meu quase marido. Fiel e obediente. Doce e divertida.

A menina burra, com um vocabulário limitado para o pai dele e seus funcionários. Superficial e que não consegue entender uma conversa mais profunda.

E finalmente, dentro da minha cabeça, posso ser eu mesma.

Aquela que talvez nem sequer Dinah conheça.

A que não se permite sentir.

Compaixão, remorso, dor, carinho.

Não deixo nada vir à tona. Desligo minha mente e não faço planos além dos que envolvem nossa fuga.

Nenhum futuro, romance, família ou filhos.

Meu único foco é manter a mim e a Dinah vivas.

Cada uma a seu modo, conseguimos chegar até aqui, mas agora sei que não temos muito tempo. Eu preciso correr se quiser escapar.

Eu fiz tudo direito. Segui todos os conselhos dela para poder atravessar os últimos três anos. Eu sorri, fingi e menti tantas vezes, que já não me reconheço mais quando me olho no espelho.

 Eu sorri, fingi e menti tantas vezes, que já não me reconheço mais quando me olho no espelho

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CAMREN: Proteção Na Máfia? (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora