Cap. 7 - Quase Fuga

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Camila Cabello

Nova Iorque

Depois de colocar o vestido negro o mais rápido que eu consigo e prender o cabelo em um rabo de cavalo baixo, pego o dinheiro enviado por Dinah e escondo por dentro do sutiã.

Adrenalina bombeia em todo o meu corpo.

Eu achei que não era mais capaz de sentir nada, mas estou apavorada. Por mim e por Dinah.

De alguma maneira, morar nos Estados Unidos me dá a ilusão de que me encontro relativamente mais segura do que ela, mas eu sei que isso é só a minha mente criando mecanismos de autodefesa. Nenhuma de nós está protegida realmente.

Passei a noite ao lado do corpo de Aleksander. Embora não tenha qualquer sentimento por ele, ainda assim é triste ver alguém tão jovem partir sem ter vivido praticamente nada. Ele era apenas dois anos mais velho do que eu. Sua doença foi diagnosticada no início da adolescência.

Por outro lado, não sou hipócrita e não direi que lamento sua morte. Como poderia, se ela significa a minha liberdade? Ele, juntamente com o monstro que chamava de pai, roubou anos da minha vida e uma parte da minha alma.

Eu aprendi a suportar para não enlouquecer, mas muitas vezes pensei em mandar tudo para o inferno e simplesmente sucumbir ao meu destino. Somente pensar em Dinah e a certeza de que não era somente com a minha vida que eu estaria jogando, me fez permanecer focada.

Nós ficávamos trancados no quarto. Ele criou uma relação de dependência comigo. Não gostava nem mesmo que o pai viesse nos visitar. Era uma prisão não só para o meu corpo, como para a minha mente também.

A única coisa que não tirou de mim foram os livros. Aleksander era inteligente e tentei aprender o que pude com ele. Não tinha acesso à internet ou a um telefone celular. Não saíamos de casa para nada que não fossem consultas médicas em clínicas privadas em que ele era o único paciente do dia.

Assim, os livros foram meus melhores amigos. Ficção ou não ficção, aprendi um pouco de tudo. Os de não ficção me ensinaram sobre estratégias. Um particularmente me marcou: A Arte da Guerra, do general chinês Sun Tzu. Dele tirei uma importante lição.

Conheça seus pontos fortes.

O meu, sem dúvida, é a resiliência. Sou emocionalmente elástica. Ou pelo menos fui até agora, já que não tenho dúvida de que das meninas sequestradas, de uma maneira deformada, sou a sortuda do grupo.

Os romances me ajudaram a entender mais sobre a alma humana. Suas vaidades e fraquezas. No fim, tudo se resume a dar a alguém o que ele deseja. Amor, dinheiro ou atenção. Só que você não precisa realmente doar algo. Basta deixar que pensem que o possuem.

Desconfio que Aleksander sabia há muito tempo que eu estava representando e que não havia nada de errado com a minha capacidade intelectual, mas acho que quando se deu conta disso, ele já havia desistido de lutar. Pouco se importava com qual seria o meu destino após sua partida.

Por mais de uma vez ele disse que me amava, mas eu nunca caí na armadilha de acreditar.
Quem ama não prende, ameaça, restringe.

Não acho que em sua passagem pela Terra, Aleksander tenha aprendido o que é amor. Talvez para ele, eu era uma espécie de animalzinho de estimação. Um filhote que podia chamar de seu. Alguém a quem não permitia ter vontade própria.

De qualquer modo, o amor não me interessa. Eu não acredito nele. Uma vez eu pensei que meus pais me amavam e ambos me traíram.

Nos primeiros dias de cativeiro, eu chorei. Chorava em silêncio não só pela prisão a qual fui submetida, mas principalmente, pela deslealdade de papai e mamãe. Com o tempo, aprendi a empurrar a dor para um lugar escuro e hoje, eu mal penso neles.

CAMREN: Proteção Na Máfia? (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora