Capítulo 24

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Numa manhã antes do dia dos namorados, Mary estava na sala particular do seu amigo e repórter sênior, Francis Wotton, do departamento político, no sexto andar. Uma sala não muito pequena contendo uma escrivaninha, estante de livros, armário de arquivos, e uma vista vantajosa para a cidade.

– Que milagre você por aqui, Mary. – disse ele, juntado-se a ela, frente à janela.

Mary respirou levemente, cruzou os braços e sorrindo, voltou-se para ele.

– Vim ver como anda as coisas por aqui com você. – declarou.

Francis cantarolou.

– Deve ter percebido que metade dos meus colegas, não estão mais trabalhando…

Ela levantou uma sobrancelha.

– Não? – perguntou intrigada.

Francis balançou a cabeça, coçou com fineza a barba ruiva aparada, em seguida chegou mais perto dela, e de uma maneira confidencial sussurrou:

– Os que, assim como você, não foram convocados para a festa.

Mary colocou uma mão no queixo.

– Já compreendi tudo. – disse, num tom baixo. – O que não entendo, é o motivo de eu ainda estar trabalhando.
– Eles não são tão descuidados a ponto de despedi-la, Mary. Seu trabalho é muito reconhecido.
– Ou, podem ser escrupulosos demais para manter-me aqui. Ao que tudo indica, um jornalista não simpatizante do prefeito, corre o risco.
– Notei isto, também.

Francis segurou os braços de Mary, virou-a defronte pra ele, e com um tom firme e zeloso, falou:

– Tome cuidado.

Ela sorriu astutamente, e disse:

– Por que eu iria direto contra fogo inimigo, conscientemente?

Francis soltou-a suavemente, sorriu e abanou elegantemente a cabeça.

– Eu não duvido mais nada da mulher que vestiu-se afrontosamente de homem. – falou ele.
– Faça o que for preciso por uma matéria. Primeira regra, Francis, lembra?

Ele deu uma breve risada graciosa.

– Não só lembro – disse – , como também arrependo-me de ter dito isso. Mas, mudando de assunto, o que fará amanhã?

Mary suspirou levemente, e tornou com uma expressão sem ânimo.

– Bem, como toda boa noiva, passarei em casa, cuidando de algumas coisas. 

O homem lançou-lhe um olhar de compaixão, e perguntou:

– Tem certeza que não quer ficar comigo e Hank?

Mary fez uma careta.

– Oh céus! – respondeu ela bufando. – Absolutamente não. É sério, conseguirei sobreviver.

No Valentine's day, As repórteres nunca foram tão gratas por cair no final semana. Justamente no dia em que não precisariam trabalhar no jornal, e ter que aguentar de ver todos aqueles enfeites de corações rosa e vermelho, ou imagens de bebês gordos com flechas. Toda as vezes nessa data, quando a família perguntava se a ruiva comemoraria com alguém, Zelda dizia : "Dia dos namorados? Este é o gostinho anual do inferno na vida de vocês, não no meu".
Agora, sem quebrar esse hábito, Zelda Spellman passaria na sua casa, como sempre fizera em qualquer dia normal. Vivendo um céu, no dia que considerava um inferno na vida de muitos. Sua própria companhia, e sozinha na mansão era o seu paraíso. Mas para Mary, o que sempre fora maravilhoso, no entanto, mostrava-se ser diferente. Não só porque Adam não estaria naquele momento – aliás, esse fato não foi um grande motivo para seu descontentamento – , mais sim por querer alguém que ela realmente amasse. Infelizmente, Mary a tinha, porém, essa pessoa não era o doutor. A cada dia Wardwell deixava o seu coração curar um amor não correspondido. Aquela mulher embora ferida, jamais permitia-se ser vencida, fosse em qualquer situação. Depois de um dia inteiro de uma leve faxina na cabana, Mary levava um cesta de roupa limpa para o seu quarto no pavimento de cima.

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