Capítulo 26

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Os dias sucederam difíceis para as amantes, depois da ligação impróspera. No final de fevereiro, Zelda passava por um novo processo em sua vida. O irremediável estágio de emoções que acomete todo ser humano, a qual, ela, ironicamente, estava sentindo pela pessoa que tinha rejeitado. Afinal, parecia muito justo a negação mútua. Um feitiço, jogado contra o próprio feiticeiro.

Algo arrebatador despertara nela uma suspeita, e daquele dia em diante sua paz acabou-se para sempre. Zelda ficou agitada durante as semanas seguintes que mal conseguia dormir. E quando ela conseguia pegar no sono, sonhava com Mary: seu cabelo castanho-avermelhado, seus incríveis olhos. Não importava a hora, a lembrança das formas do corpo da morena, e a textura de sua pele, vinham como tormento para a ruiva independente da situação, ou qualquer lugar. Isso, trazia o desejo de ter Mary por perto, numa exigência violenta sobre-humana no seu interior. Era como um encantamento, esses apelos, dirigidos a uma única pessoa, àquela que ela, Zelda, via invariavelmente que em tudo e em toda parte.

Nestes mesmos dias, Wardwell esforçou-se ao máximo para trilhar o caminho da redenção com o seu noivo. A morena tinha convicção que tomara a decisão certa. Mary sabia que o envolvimento sexual proibido com a ruiva, tinha sido muito mais significativo pra ela do que para a outra mulher, e imaginava que Zelda, queria usá-la apenas por mero capricho.
Ela a amava, com amor infindável e profundo, mas não se sujeitaria num relacionamento em que não houvesse um sentimento recíproco ao seu. Assim, preferiu permanecer com Adam, pois mais que doesse ter recusado seu verdadeiro amor.

No mês frio de março, a Spellman fez o que pôde para afastar a mulher da mente. As repórteres trabalharam dia após dia com seus artigos individuais no jornal, sentiam-se confortadas por terem suas tarefas como subterfúgios, naquela atmosfera agitada da redação. Elas viam uma a outra quase como raramente no mesmo ambiente do bullpen, o que acabava por ser uma ajuda para esquecer um pouco aquele dilema. Mas quando voltavam para seu lares, tudo retornava. As imagens vinham diante de seus olhos, como slides independente de suas vontades. Zelda vivia uma verdadeira sátira na sua vida. O sentimento que nunca antes lhe interessara, a tal da infeliz casualidade que tanto zombou, agora, graças a Mary, apresentava-se afincadamente para mostrar que ela, pertencia àquele mundo inescapável.

Era um dia gelado em Greendale, de muito vento, ali pelo final de março. Na hora do seu intervalo, Zelda esperava o elevador junto de Marie no primeiro andar. Quando o transporte chegou, e as portas abriram-se automaticamente, a ruiva teve um ímpeto de alegria ao ver quem estava dentro dele. Distraído com o celular e bem vestido, com sua calça cinza de camisa branca, e sobretudo preto.

- Francis! - exclamou ela sorrindo, enquanto entrava no elevador com Marie.

O homem alto guardou o celular no bolso da calça, e deu um largo sorriso para as mulheres. A ruiva se pôs ao lado dele no fundo. As portas se fecharam.

- Olá, Zelda, querida! - saudou Francis, com animação, depois, inclinou a cabeça pro lado esquerdo, e acenou para a outra mulher. - Olá, srta. LeFleur!

- Salut! - disse Marie amigavelmente, exibindo seus dentes perfeitos e brancos.
- Dia agitado, colegas! - comentou ele, puxando conversa.
- Sim! - concordou Marie.
- Oh, sem dúvida... - disse a ruiva. - Demais até para mim, que estou acostumada com certa intensidade.

Francis soltou uma breve risada graciosa.

- Ah, que isso, Zelda. - falou. - Sabemos que você é a mais dedicada daqui, e que trabalha com vigor, independente de sua disposição.

Zelda olhou para o indicador do elevador e sorriu com satisfação. Marie balançou a cabeça, olhou para Francis, e orgulhosamente, disse:

- Nunca vi mulher mais destemida, chère.
- Oui, oui! - disse ele, usando um pouco do seu simples francês.

Collision With LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora