4. Ameaça invisível

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Ninguém sabe como surgiu a doença

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Ninguém sabe como surgiu a doença. O primeiro relato veio de quando eu ainda tinha 3 anos de idade.

Segundo a minha mãe, no início as pessoas simplesmente a chamavam de "gripe", porque ainda não era forte o suficiente para ser uma ameaça. Demorou quase dez anos até que se transformasse em algo agressivo o suficiente para destruir metade da população mundial.

O vírus era altamente contagioso e sofreu diversas mutações — de maneira acelerada — ao longo do tempo. Tudo aconteceu tão rápido que os governos do mundo não tiveram tempo para se preparar para o que viria.

De repente, quando você era infectado, as manchas na pele surgiam e seu corpo começava a demonstrar sinais de uma infeção pesada. Era difícil respirar, andar ou controlar suas ações e memória durante a infeção.

Caso você não fosse sortudo, dentro de um mês acabava morto envolto em catarro, sangue e pus... Uma combinação nada agradável, devo dizer.

Resumindo, se eu pudesse voltar no tempo avisaria aos meus pais para que se preparassem para o que viria. Porque a pior parte daquilo tudo foi ver meus parentes morrerem um a um, até que sobrassem somente Ciano e eu.

— Preciso ficar em quarentena. – falei, ainda abalado com a notícia. – Temos espaço pra isso na nave, selamos uma das salas e talvez...

— É tarde demais, sabe disso. O vírus ficou no seu organismo um bom tempo antes de começar o ciclo de contágio. Se a Laranja soubesse disso quando te aplicamos a vacina, ela teria te abandonado na Terra.

— Você não deveria ter me acobertado.

— Não vem com essa, fiz o que era preciso. Por você e pelo seu irmão.

Respirei fundo, relembrando o passado...

Na época, todos os tripulantes precisaram ficar em quarentena para testes por 60 dias antes de enfim tomarem a vacina (algo experimental, com efeitos colaterais terríveis).

Ao mesmo tempo, do outro lado da cidade, minha mãe estava morrendo. Sabia que não seria forte o suficiente para aguentar ficar longe dela, então tomei uma decisão terrível, que colocou todos os demais em perigo...

Certa noite, Rosa me encobriu enquanto eu saía da área de contenção e corria para me despedir da minha mãe. Não levei o Ciano, com medo da reação dele, mas fiz o que qualquer filho faria: segurei a mão dela, beijei sua testa e fechei seus olhos depois que ela se foi.

Sabia do perigo que corria ali, mas pensava que, se estivesse contaminado, os testes revelariam antes que eu recebesse a vacina.

Mas algo deu errado... A doença ficou encubada em mim durante todo o tempo de decolagem.

Às vezes ainda me perguntava como os médicos deixaram aquilo passar.

— Precisamos verificar os outros. A mutação é forte, mas talvez a vacina também seja... Com um pouco de sorte, talvez nenhum pegou.

— Mas ainda há uma chance.

— Sim. Infelizmente, há.

Me sentei na cadeira perto dele.

Sentia que teria um ataque de pânico a qualquer momento. Minhas mãos suavam, meu corpo tremia e sentia um gosto metálico na boca que me fazia ter vontade de cuspir.

Queria me encolher em um canto, chorar só um pouquinho e tirar de vez aquela máscara de "pessoa forte" que coloquei quando resolvi me chamar Vermelho.

— Isso só pode ser um pesadelo. – falei, com as mãos na cabeça. – O Roxo me odeia, meu irmão não me respeita e todos por aqui querem me derrubar. Não vou aguentar mais. A minha vida inteira está desmoronando bem na minha frente!

— Não diga isso...

— Vou ficar louco nesse lugar. Não sou um líder, sou a porra de uma moleque de uniforme!

— Ei, olha pra mim. – Ele tirou os óculos, abaixando-se para me encarar. – Sabe que não está sozinho, tem muita gente do seu lado nessa nave, só precisa saber em quem confiar.

Ele passou a mão no meu ombro, tentando me passar conforto.

— Sabe que enfrentamos muita coisa juntos. – Lembrou. – Nós quem construímos isso tudo, na garagem do seus pais, muitos anos atrás, lembra?

— É claro que lembro.

— No início era só uma fantasia, um projeto que jamais sairia do papel, mas então o mundo piorou e nós crescemos, fomos atrás de gente que pudesse tornar tudo realidade e olha só o que isso virou: literalmente um novo mundo.

Ele não tirou os olhos do meu.

— Você vai viver, meu amigo. Porque não há nada que nós dois não possamos fazer. – Ele sorriu, esperançoso. – Esse vírus não vai levar mais ninguém que eu amo. Isso eu te prometo.

As lágrimas deveriam ter sido esquecidas na Terra, mas não me segurei quando ele me abraçou.

Caí no choro feito uma criança, com medo do que o futuro me reservava.

O problema era que algo pior estava por vir.

Longe dali, escondida de todos os tripulantes da nave, uma câmara de criogenia estragada desenhava o destino de todos na nave.

Em breve, estaríamos lutando pelas nossas vidas, não importava quem estivesse com o vírus ou não.

Among Us | Gay Fanfic +18Onde histórias criam vida. Descubra agora