Uma espaçonave carrega os últimos resquícios da espécie humana. Sem nomes, sem destino e com a tarefa impossível de sobreviver a um vazio sem fim, os poucos tripulantes precisam enfrentar um mal misterioso entre eles. Algo poderoso, capaz de destrui...
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Acordei com dor de cabeça e falta de ar. Meu peito ardia e por conta disso tirei a blusa e vi o quanto os vergões haviam aumentado de tamanho — nada que o colete não escondesse, mas, mesmo assim, aquilo era como um cronômetro biológico avisando que a minha hora estava chegando.
Precisei de alguns minutos para acalmar a minha respiração. Tomei meus remédios, olhei para o teto e pensei em todas as tasks que tinha pela frente.
As pessoas sabiam que a Laranja estava na enfermaria, o Preto se ocupou de avisas a todos, e agora precisava ver uma forma de revelar que ela estava morta sem causar pânico. Seria uma missão e tanto!
— Café da manhã, capitão.
Ouvi as batidas da porta e vesti minha blusa às pressas. Ajeitei o colete e escondi os vergões do jeito que deu antes de girar a maçaneta e encontrar o Verde com uma bandeja grande de café da manhã à minha espera.
— Frutas? – fiquei surpreso com a novidade. – O que fiz para merecer esse agrado?
— A cozinha vai fechar. Estão todos nervosos sobre o que houve com a Laranja, por isso peguei o que pude e vim pra cá.
— Veio atrás de informações, então?
— Estou tirando uma pausa das fofocas da nave, chefe. – Ele me entregou a bandeja e entrou no quarto, sentando-se na cama e tirando o colete. – Estou exausto de tanto trabalho. Quero uma pausa para conversar um pouquinho com o meu amigo.
Joguei na boca um pedaço de maçã e mastiguei alto. Estava horrível, com mais gosto de agrotóxico do que de fruta.
— Vou para a enfermaria daqui a pouco. De lá, conto pra todo mundo o que houve.
— Já disse que não quero saber de fofocas.
— O que quer, então?
— Só conversar... As pessoas estão comentando. Sabem que você foi ver seu irmão ontem à noite.
— Pensei que não queria saber de fofocas.
Não consegui esconder um sorriso.
— A verdade é que estão todos de olho em você. – Ele continuou. – Querem saber se a nave está em boas mãos. Até entendo que o Ciano é seu irmão, mas ninguém se sente à vontade com ele circulando por aí.
— Isso não importa. Já tomei minha decisão.
— Acho que esqueceu você só é capitão porque nós deixamos que seja.
O jeito dele falar me incomodou. Verde não costumava ser incisivo daquele jeito. Geralmente ele era bom com as palavras e conseguia convencer qualquer um sem precisar partir para o ataque daquela maneira.
Ele cruzou os braços e suspirou antes de continuar.
— Você conhece a minha história. Antes do vírus destruir São Paulo, meus irmãos e eu criamos um acampamento para sobreviventes. As regras eram rígidas demais... As pessoas até entendiam no começo, mas aos poucos contestaram os protocolos de segurança.