20. Breve análise

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— Tem algo errado com essa nave

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— Tem algo errado com essa nave. – disse Rosa, olhando para a lâmpada piscando no teto da Enfermaria enquanto pensava em toda a nossa situação. – Não parece normal. É como se toda a fiação tivesse sido avariada.

— Sim, temos defeitos por todo lado. – bocejei, deitado na maca com o Amarelo dormindo do meu lado, com a cabeça em meu ombro.

Decidimos passar a noite na Enfermaria. O resto do pessoal escolheu ficar trancado em seus quartos, acreditando que as portas eram as únicas coisas segura na nave.

Ninguém se arriscaria pelos corredores à noite, então não quis deixar o Rosa sozinho com o Preto e usei o fato de o Amarelo ainda estar abalado para ficar com ele.

Ainda investigávamos os assassinatos, mas me sentia cansado demais para raciocinar. Tentava pregar os olhos enquanto o Rosa andava de um lado para o outro tentando juntar as peças reunidas com a autópsia — que não trouxe grandes novidades.

Havíamos acabado de jogar o cadáver do Azul para fora da nave e ver meu colega frio e rígido daquele jeito me deixou com medo de que a qualquer momento o assassino pudesse voltar. E se ele machucasse o Rosa, o Ciano ou mais alguém que eu amava?

— Não faz sentido. – Rosa continuou analisando a lâmpada. – Um setor com luzes defeituosas dá para entender, mas toda a rede...

— Vá dormir, precisa descansar. O seu namorado tá doente, você fez duas autópsias, cuidou de mim e ainda fez as suas tasks. Relaxe um pouco.

— É difícil relaxar depois do que você contou.

É claro que ele estava pensando no Ciano, isso explicava as unhas roídas e a tensão que o fazia ficar agitado e com os ombros enrijecidos.

— O que o Verde quer inventando uma mentira dessas?

Olhei para o Amarelo, que respirava profundamente – perdido em sonhos que eu esperava que o fizesse esquecer tudo o que presenciou. Falei o mais baixo possível para que ele não ouvisse.

— E se não for mentira? – questionei. – O Ciano sempre foi violento e o Roxo estava bem arisco quando conversei com ele.

— Ele tá assim porque te traiu.

— Não dá para saber. E se o Ciano o machucou? Ou forçou a...

— Para! – Rosa não se preocupou com o tom de voz. – Não vem inventar desculpas pra ele, o Ciano jamais faria nada assim com o Roxo e você sabe disso.

Rosa parecia que estava prestes a me dar um soco. Dava para ver a raiva dele.

Me afastei do Amarelo devagar, levando meu amigo até o canto da Enfermaria para podermos conversar sem que o Amarelo acordasse no meio da discussão.

— Só estou falando que essa história toda é estranha.

— Você só quer uma justificativa pra poder voltar pro seu ex-namorado. – Ele revidou. – Isso não vai acontecer. Já briguei contigo por conta disso hoje e posso brigar de novo.

— Tá bem, tá bem. – ergui as mãos e sorri para ele. – Você não costumava ser tão esquentadinho assim.

— Autópsias costumam me deixar irritado. – Ele suspirou, ajeitou os óculos e soltou a respiração. – Desculpe pela bronca mais cedo. Tudo o que houve com o Preto me deixou transtornado.

— A culpa não foi sua. – Me sentei em uma das mesas e tentei relaxar. – Tudo aconteceu rápido demais, não deveria ter deixado meus sentimentos subirem à cabeça. Se tivesse agido mais rápido talvez o Azul ainda estivesse vivo.

Minhas mãos tremiam de nervosismo, tinha vontade de chorar e me encolher em um canto. Uma pessoa havia morrido, alguém com quem eu convivia diariamente e que compartilhou inúmeros momentos tentando me ajudar.

A vida do Azul poderia ter sido preservada se eu não estivesse tão preocupado com os outros problemas da minha vida.

— Não chore, Franklin. – Rosa disse, sério. – Precisamos de você mais firme do que nunca. Já vimos centenas de pessoas morrerem de formas piores na Terra, nada disso é novidade pra gente.

— Sim, eu sei. – falei, enxugando o rosto. – É só que... Contei tudo a eles, menos o fato de estar doente. Tenho medo do que pode acontecer quando descobrirem.

— Medicamente falando, você está bem. Tem veias escuras se espalhando pelo seu peito, mas os sintomas estão controlados e não tá demonstrando agressividade ou agitação...

Os sintomas do vírus incluíam confusão mental, por isso tínhamos pessoas que agiam de diferentes modos conforme avançavam na doença. Algumas ficavam extremamente agressivas, outras se colocavam em estado catatônico (como a minha mãe) e ainda existiam as alucinações.

Não fui capaz de contar para o Rosa sobre as manchas de sangue que enxergava quando ficava confuso ou nervoso — por isso desviei o olhar e percebi a bagunça espalhada pela mesa onde eu estava sentado.

— Por que pessoas inteligentes são tão bagunceiras? – perguntei, vendo todos os objetos espalhados. – Isso é um bisturi? É perigoso deixar essa coisa espalhada por aí.

— Essa é uma "bagunça organizada". – ele bateu no meu ombro e tirou o bisturi das minhas mãos, jogando de volta na bancada. – Agora vá dormir. É uma ordem!

— Sim, senhor!

Não pensei que conseguiria pregar os olhos, mas estava mais cansado do que aparentava e dormi em poucos minutos.

Rosa ficou de guarda e combinou de me acordar no meio do horário de dormir para que pudéssemos trocar de turno. Mas não foi o que aconteceu. Devo ter cochilado somente algumas horas quando despertei com as mãos do Amarelo me sacudindo.

Meus olhos ainda estavam embaçados e a minha cabeça dolorida quando levantei e percebi a movimentação estranha na Enfermaria.

Olhei para a parede e vi sangue escorrendo por toda a parte.

Era a minha imaginação? Algum delírio?

Não tive certeza, mas fiquei em alerta quando percebi a gravidade da situação: bem na nossa frente, o Preto estava com as mãos no pescoço, tentando respirar enquanto um bisturi atravessava a sua garganta.

— ALGUÉM ME AJUDA! – gritou Rosa, desesperado. – ALGUÉM FAZ ALGUMA COISA!

Meu amigo tinha razão quando disse que vimos mortes piores na Terra, mas naquele dia iríamos sentir o que era terror de verdade. O que tínhamos a bordo era um serial killer disposto a tudo para escapar. 

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