Uma espaçonave carrega os últimos resquícios da espécie humana. Sem nomes, sem destino e com a tarefa impossível de sobreviver a um vazio sem fim, os poucos tripulantes precisam enfrentar um mal misterioso entre eles. Algo poderoso, capaz de destrui...
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A lista dos tripulantes da nave foi finalizada antes mesmo da construção ter sido concluída. A Laranja cuidou de todo o processo de seleção e fiquei responsável apenas pela escolha dos que me acompanhariam na área de navegação.
O aval final, sobre quem entraria ou ficaria de fora, foi responsabilidade da equipe médica. A minha sorte foi que o Rosa fazia parte dela, então foi fácil sair da quarentena e trocar os papéis para que o meu irmão não acabasse no gelo.
Foi assim que a minha relação com a Laranja começou a ruir. No início do projeto, conversávamos muito, estudávamos e falávamos sobre como seria o futuro no outro planeta.
No início, considerei que ela fosse uma pessoa boa. Depois, vi o ciúme dela quanto ao projeto. Aquela mulher era possessiva, controladora e se recusava a aceitar as minhas ideias — tanto que, pouco antes da decolagem, quase conseguiu tirar o meu cargo de capitão.
Por isso, tive que lutar. Fiz meus aliados e me firmei como membro essencial da nave.
Na Terra, a Laranja tinha a autoridade que o dinheiro comprou, mas no espaço as coisas eram diferentes. Aquele era o meu território e não desistiria de proteger a minha tripulação a qualquer custo.
— Precisamos ser rápidos. – disse o Rosa, sussurrando para que ninguém mais nos ouvisse. – Quando eu tiver os resultados da autópsia, entro em contato com você. Até lá, não deixe ninguém descobrir o que aconteceu.
Respirei fundo, sem esconder a minha preocupação.
Levar aquele corpo do setor de luxo até a enfermaria foi uma tarefa e tanto, ainda mais com o perigo de a qualquer momento sermos flagrados por alguém.
— Vou isolar a enfermaria. – falei, indo até o painel da porta. – Se tiver sido um assassinato...
— Vamos torcer para que não seja isso. – Rosa agia feito um robô, acostumado a lidar com cadáveres desde que o vírus surgiu. – Depois da autópsia, te chamo.
Ele quis se afastar mim, mas o segurei pelo braço antes de trancar a porta.
— Rosa... - olhei nos olhos dele, tentando encontrar as palavras certas para me desculpar pelo que houve. – Sobre o que falei pra você...
— Esquece, podemos conversar outra hora.
— Posso ter exagerado um pouco. A minha cabeça estava confusa, mas meus sentimentos continuam os mesmos. Sei que o Preto só está te usando.
— Não sou nenhuma criança, Franklin. Sei me cuidar.
— Mesmo assim: vou ficar de olho nele. Pelo seu bem.
Rosa não pareceu satisfeito. Esperou que eu largasse seu braço para sair da área do sensor da porta.
Quando isolei a enfermaria, lembrei de toda a discussão que tivemos. Fui injusto quando o acusei de estar armando um golpe, mas a culpa foi do Preto — ele era o verdadeiro problema ali.