26. Branco

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— Ei, olha pra mim! – falei, estalando os dedos na frente do rosto do meu amigo

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— Ei, olha pra mim! – falei, estalando os dedos na frente do rosto do meu amigo. – Consegue andar?

Rosa assentiu, saindo do chão com a minha ajuda enquanto os olhos continuavam fixos na porta da Enfermaria. As mãos dele estavam encharcadas de sangue, assim como o meu rosto.

— Tá tudo bem. – Ele disse, mesmo baqueado. – Deixa eu ver sua testa...

— Não é hora pra isso, esquece, eu tô bem.

— Ele bateu muito em você.

— Sim... – lembrei da briga, da maneira como fui atacado brutalmente e fiquei pensando o que havia motivado o Preto a me atacar daquela maneira. – Obrigado por me salvar.

— Era você ou ele, não tive escolha. Né?

Rosa estava mais afetado do que eu imaginava, dava para ver pelo olhar dele, suas pupilas corriam de um lado para o outro e seu peito subia e descia de maneira acelerada.

— Sabe por que o Preto me atacou? – perguntei, enxugando o suor do pescoço.

— Ele estava em coma... Talvez pensou que ainda estivesse no setor de criogenia... Com o assassino... – ele começou a chorar enquanto colocava as ideias em ordem.

Não consegui só olhar aquilo e o puxei para um abraço.

Nunca ficava fácil perder alguém, ainda mais daquela maneira. Uma coisa era um vírus mortal afetar alguém que a gente amava, outra era ser você a ter que cortar a garganta de alguém que significava tanto para você. Aquilo não era justo.

— Sinto muito. – falei, sentindo meu ombro quente com as lágrimas dele. – A culpa foi minha, se tivesse parado o Ciano antes dele atacar o Preto...

Rosa me empurrou quando ouviu aquilo.

— Não foi o Ciano! – ele gritou. – O Ciano não é um assassino!

— Tudo bem, tudo bem, desculpa. – Tentei contornar a situação, mesmo sem concordar com ele. – Vem, vamos sair daqui. Precisamos ficar todos juntos.

Segurei a mão dele e começamos a correr para longe dali. Mais tarde me ocuparia em arrumar a Enfermaria, limpar o sangue e me livrar do corpo para que o Rosa não tivesse que passar por outro trauma. 

Enquanto andávamos, as luzes pelo corredor começaram a piscar, novamente revelando que alguma parte da nave estava sem luz. Aquela merda já estava me irritando, por isso rangi os dentes e puxei o Rosa para andarmos mais rápido, em direção a onde Branco estava.

— Não tô me sentindo bem. – ele falou, parando na metade do corredor.

Rosa curvou o corpo e vomitou.

— Merda... - disse, batendo de leve nas costas dele. - Tá bem, relaxe. Sente um pouco aqui.

Ele tossiu e jogou o corpo no chão de novo. A minha pressa de chegar logo à área das câmeras para encontrar a Branco quase me fez acompanhá-lo em pé, mas precisava entender que era necessário tempo para nós dois nos recuperarmos.

Decidi me sentar o lado dele. Ficamos os dois olhando para a parede e, por mais que a cena fosse melancólica e meio patética, não era a primeira vez que fazíamos aquilo.

Há muito tempo, quando éramos jovens, lembro de segurar a mão dele e falar que tudo ficaria bem. Naquela época, Rosa estava sofrendo, mas a dor dele era diferente. Foi por isso que falei que sempre seríamos uma família. Foi uma promessa que fiz e que não estava cumprindo nos últimos meses.

— Vou ficar bem. – Ele falou, sem jeito. – Precisamos achar os outros.

— Rosa... – parei quando ouvi minha própria voz. Não era justo chamá-lo assim levando em conta nossa história e o que ele havia acabado de fazer por mim. – Isaac...

Fazia tempo que ele não ouvia aquele nome. Consegui até ver a surpresa no semblante dele.

— Sei que sou um chato às vezes, insuportável para falar a verdade, mas eu tava errado quando falei que não éramos mais uma família. – assumi. – Tinha esquecido que só conseguimos chegar até aqui por sua causa.

— Não foi só por minha causa.

— Foi sim. – sorri para ele. – É por isso que, seja lá como queira lidar com o Ciano, vamos fazer do seu jeito. Para o bem ou para o mal, tô com você, irmão.

— Obrigado, Franklin.

Estendi a mão para ele se levantar e corremos para fora dali. Era bom ter aquela sensação boa de que as coisas estavam indo pelo rumo certo, que finalmente estava tomando boas decisões. Tentei ser o líder que resolvia tudo sozinho, que afogava seus sentimentos e conseguia segurar o que jogavam nas suas costas. Agi errado por tempo demais e era hora de mudar.

— PUTA QUE PARIU! – Rosa deu um passo para trás depois que abriu a porta do setor de Segurança.

Meu primeiro instinto foi afastá-lo dali e me aproximar para ver o que havia acontecido.

A grade do duto de ar tinha sido arremessada para um canto. O ambiente estava quente por conta do aquecimento interno e, fora isso, Branco estava bem diante de nós, sentada em frente às telas das câmeras de segurança.

O rosto dela estava em um tom claro de roxo, com um fio de cabo de energia em volta do seu pescoço. Seus olhos esbugalhados escorriam sangue e o cabelo por cima do rosto indicava que alguém tinha a surpreendido por trás, agarrando o coque do seu cabelo e passando o fio ao redor do seu pescoço. Branco não teve chances...

Rosa encostou nela, observando a cena e prestando atenção nos detalhes ao nosso redor. Era um cara analítico, então não fiquei surpreso quando pediu que eu não encostasse em nada. 

— Foi recente. – ele disse, passando o olhar pelo restante do cômodo. – Recente demais.

Meu amigo olhou para o armário da segurança quando disse isso. Trocamos um olhar de um jeito rápido e silencioso.

Dava para ver que a tranca do armário estava aberta, algo que raramente acontecia. A chave tinha sido retirada e havia um pequeno rastro de borracha queimada (provavelmente do sapato de alguém que tentou usar os dutos para fugir).

Rosa caminhou de vagar até o painel de segurança, pegando o abajur e me entregando sem sequer tirá-lo da tomada. Ele sabia que precisaríamos de algo para nos defender, então pegou outro pedaço de fio e começou a enrolar entre as mãos.

— É melhor levarmos ela para a Enfermaria. – Rosa falou enquanto eu me aproximava do armário, disfarçando o tom de voz para que o assassino não percebesse que estávamos nos aproximando dele.

— É... Vamos embora daqui, temos que pegar a maca...

Aproximei a mão da maçaneta do armário. Meu coração estava a mil por hora, não ousei piscar ou engolir a saliva tamanha era a minha determinação e curiosidade para saber quem estava ali.

Acontece que não precisei abrir a porta. Antes que me aproximasse demais, ela veio com tudo para a frente e me acertou. 

A pessoa que estava escondida saiu das sombras e partiu para cima de mim, fazendo o abajur cair junto comigo. Vi a faca na mão dele e, no instante seguinte, ela estava cravada no meu ombro.

— AAAHHH, filha da puta! – gritei de dor.

Teria xingado de novo se não tivesse olhado nos olhos dele e entendido quem entre nós era o assassino.

Among Us | Gay Fanfic +18Onde histórias criam vida. Descubra agora