-Fala logo, Vargas, você me conhece? De onde você me conhece?
-Calma, Clarisse, vou contar do início, assim, você entende melhor, já te adianto que é um problema familiar e desculpa que eu não sou muito boa em resumir-Tudo começou lá pelos anos 80, meu pai Adolfo Montesinos se mudou para Massapê com sua primeira esposa Marcela e com o filho adolescente Fábio de 17 anos, porque ele ganhou o cargo de prefeito da cidade, naquela época ainda tava na ditadura, então tinha muito nepotismo, você entende né? Então, Fábio conheceu uma linda moça chamada Virgínia e acabou engravidando ela e a família dela muito tradicional, obrigou o casamento e ele gostava dela, então aceitou. Porém, minha família, os pais dele eram completamente contra e foram embora de volta para cá, em Fortaleza, deixando ele sem um tostão furado, tendo que realmente trabalhar duro para sustentar a família que estava por vir. Mas, com o tempo, o relacionamento foi se desgastando, pelo menos é isso que meu irmão conta, e aí ele decidiu se separar, saindo de casa por causa das incontáveis brigas com a esposa, mas ele nunca esqueceu a filhinha dele. Para piorar, pouco tempo depois de ir embora de casa, a mãe dele faleceu. Entretanto, sua mãe nunca deixava ele ver a criança, exceto uma vez quando, já adolescente, a menina foi atropelada e precisava de sangue, ele ligou, mas não pôde atender de primeira. Quando retornou, soube que já tinham doado sangue para ela e ela já estava bem. Depois disso, Virgínia continuou seu jogo e nunca deixou ele se aproximar. Lembro bem dessa época, tinha 7 anos e via ele tristinho, não entendia bem o porquê, só fui entender mais velha, quando ele me explicou essa história. Hoje, eu consigo ver que, apesar dele ter seguido a vida dele, casado novamente, ele nunca esqueceu você.
Clarisse escuta a história atônita, enxugando as lágrimas que escorriam em seu rosto.
-Se não for suficiente essa história pra você acreditar, eu tenho uma foto aqui da minha sobrinha com 4 aninhos, que o Fábio levou escondido, sem a Virgínia saber-Vargas tira da gaveta da sua mesa uma foto e entrega a ela
Clarisse olha a imagem e não havia dúvidas, era ela, vestida ao estilo anos 80, escorada na geladeira, fazendo pose.
-Vargas, eu não posso acreditar-Clarisse começa a chorar-Na minha vida, tudo dava errado, eu não posso acreditar que encontro meu pai assim tão facilmente e ainda mais que ele é um homem importante e bem-sucedido, eu não mereço isso
Nesse momento, Vargas se levanta da cadeira e abraça Clarisse.
-Aí, não chora, por favor-a mulher de cabelos roxos tenta encontrar as palavras certas-Claro que você merece, sim, talvez Deus esteja te recompensando por tudo o que você passou. Então, pensa positivo, não deixa isso escapar, deixa a gente se aproximar de você
Em seguida, Clarisse se desvencilha dela, enxugando as inúmeras lágrimas em seu rosto.
-Ai, chega de choro
-Sim, só alegria agora-Vargas concorda-Vamos recuperar o tempo perdido sem você. Quando você quer conhecer meu irmão?
-Calma, antes de qualquer coisa, eu não quero me iludir, se não for verdade. Primeiramente, eu quero fazer o exame de DNA
-Claro, vamos fazer, só me diga o dia e a hora que eu convenço meu irmão a fazer...eu ainda não contei que estou procurando a filha dele
-Podemos fazer o mais rápido possível, mas só uma coisa, como você chegou a conclusão de que eu era sua sobrinha para me chamar pra cá?-questiona Clarisse curiosa
-Bom, eu confesso que já estava meio desanimada de procurar Clarisse Silva de Montesinos nas redes sociais, procuro desde a época do Orkut, mandei procurar na polícia, nos cartórios. Até que um belo dia, que foi há duas semanas atrás, o Instagram me sugeriu que eu seguisse você e assim que eu bati os olhos nas suas fotos, vi que era o mesmo nome e você era bem parecida com a Virgínia, mas tinha a boquinha do Fábio. Mas aí eu precisava confirmar para ver se era verdade mesmo, aí eu pensei que se eu visse sua identidade e, nela, seus dados batessem com o que eu sei, iria confirmar. Então, eu tive a ideia de te chamar para esse trabalho-Vargas suspira depois de uma pausa por falar tanto e diz-Desculpa, se eu fui muito invasiva, mas foi o único jeito que eu pensei para te conhecer pessoalmente
-Tudo bem, o que vale é a intenção, eu sei que você não fez por mal eu também queria saber do meu passado, só não sabia como, tinha tanta coisa acontecendo na minha vida, eu não tinha tempo para pensar nisso e você me possibilitou, ao menos, recordar
-Obrigada por me entender-Vargas sorri
-Bom, eu já vou indo, vamos fazer esse exame logo-Clarisse se despede sorrindo
VOCÊ ESTÁ LENDO
Não quebre meu coração!
Lãng mạnClarisse é uma mulher de meia-idade que tem um passado sofrido por ter sido abandonada pelo pai aos 5 anos, tendo que conviver com a mãe sempre falando mal dele. Somado a isso, ela foi deixada pelo grande amor de sua vida, relação que lhe rendeu mág...