Prólogo-O passado retorna

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Clarisse era uma mulher comum, de meia-idade que beirava os 40 anos. Ela era casada com João Batista Pinto Fernandes Neto, da mesma idade que ela, cujos 21 anos dessa vida havia passado ao lado da esposa.
Os dois estavam se preparando para uma viagem a Fortaleza com os filhos, Leonardo, de 21 anos, e Liana, 16, com o objetivo de conhecerem a família da noiva do filho e também porque o casamento lá ocorreria.
Liana e Clarisse estavam no quarto da última organizando seus pertences, quando Leonardo entra afobado.
-Já arrumaram suas malas?-pergunta ele um pouco apreensivo com a ideia de  se casar dentro de alguns dias
-Quase, falta apenas eu colocar minha escova de dentes-responde Clarisse com naturalidade
-Ah, eu estou tão ansioso para casar com minha amada Angra-comenta Leonardo
-Ah lá vem você com seu romantismo patético-fala Liana brincando
-Patéticos são os Emo góticos-rebate ele
-Concordo com você, Léo, um pouco de romance nunca é demais-a mãe entra na brincadeira
-Aff-a moça finge estar com raiva
De repente, João Neto entra no quarto e é surpreendido por um abraço da filha.
-Papai, diz para eles que eles estão errados-ela fala fazendo vozinha de criança
-O que aconteceu?-ele pergunta sorrindo sem entender nada
-Ela disse que eu era um estúpido por ser romântico-Leonardo finge estar magoado
-Gente, eu sei que a brincadeira está muito boa, mas o motorista já tá aí pra levar a gente pro aeroporto-avisa João Neto
Chegando ao aeroporto, eles perceberam que já estavam sendo chamados para embarcar e, assim, dirigem-se à seção de check-in.
Ao embarcarem no avião de 1ª classe, já estando acostumados ao luxo, eles sentaram-se em torno de uma mesa que lá havia. A cadeira era de um veludo vermelho, cor de sangue, denotando sofisticação.
Poucos minutos depois, uma aeromoça veio perguntá-los se eles necessitavam de algo, demonstrando uma reverência servil diante daquela família que aparentava e era muito rica.
-Quero um copo de água, por favor-solicita Liana
-Traga uma jarra de água logo-pede Léo em tom de jogatina
-Está bem, trago logo-diz a mulher entrando na cozinha do avião
Por volta de 1 hora depois, a família chega a Fortaleza e, após fazerem o check-out, tomam um Uber para irem ao hotel onde iriam se hospedar. O hotel era um dos mais caros da metrópole devido à adoção de um estilo rococó que mesclava graça e elegância.
Subindo a longa escadaria que dava para entrada do hotel, lá em cima havia uma estátua que lembrava as esculturas gregas do período Helenístico que Clarisse havia visto durante uma viagem a Atenas.
Depois de passearem pela recepção, eles sobem, cada um, para seu dormitório.
No quarto do casal, João Neto simplesmente chegou e, como estava cansado do trabalho, deitou na cama e adormeceu em poucos segundos. Enquanto isso, Clarisse se sentiu sozinha sem saber o que fazer. Então, foi tomar um banho e depois dormir. Quando acordou, já era de tardezinha, durante a noite saíram para jantar fora e o resto da noite foi tranquila.
No dia seguinte, as mulheres acordaram um pouco mais cedo para se arrumarem para o almoço com a família de Angra. Quando todos estavam prontos para sair, João Neto reparou na roupa da esposa: era uma jardineira florida que marcava de forma sutil seus glúteos e seu busto e, para arrematar, uma sandália plataforma que fazia sua pequena estatura se tornar uma estatura mediana.
-Você está incrível, querida-elogia João Neto
-Obrigada, querido-diz Clarisse
Alguns minutos depois, Liana chama um Uber, o qual se atrasa um pouco por causa do engarrafamento da cidade.
Ao entrarem no carro, Léo diz:
-Espero que Angra não fique chateada por estarmos atrasados
-Tenho certeza que ela irá compreender-Liana
Chegando a mansão da família Cavaríeis que era do falecido padastro de Angra, pertencente agora à mãe dela.
Assim que chegaram, o mordomo foi avisar à dona da casa e à filha dela. As duas descem elegantemente as escadas. A mãe tinha os cabelos ruivos e encaracolados, com um jeito irreverente, sempre andando com um leque de lado por causa do calor de Fortaleza, lembrando a Nany People, enquanto a filha era loira, com olhos ora azuis, ora verdes, dependendo da intensidade da luz.
-Meu amor, já estava preocupada, porque vocês demoraram a chegar?-pergunta Angra
-Eu queria ter chegado mais cedo, acontece que teve muito engarrafamento
Nesse instante, a mãe de Angra cumprimenta-os de maneira muito cordial.
Entretanto, assim que Clarisse a viu sentiu como se já a conhecesse de algum lugar, mas não conseguiu se lembrar de onde.
-Meu nome é Ismênia e vocês são?
Quando ouviu esse nome, sentiu um mau presságio, o substantivo próprio não parecia lhe trazer boas recordações. Porém, decidiu apresentar -se como mandava a etiqueta, porque ela também poderia apenas parecer-se com alguém que ela conhecia.
-Eu sou Clarisse, como já deve saber, sou a mãe do Léo e esse é João Neto, meu marido e essa é Liana, minha caçula-fala Clarisse
-Prazer em conhecê-los, vamos nos sentar aqui no sofá para conversarmos melhor-ela pediu
Desse modo, todos se dirigiram para a sala de estar onde havia um espaçoso sofá branco em frente a uma televisão de 80 polegadas.
-Então, filha, você já escolheu seu vestido de noiva?
-Não, qualquer dia desses, eu, a senhora e a dona Clarisse podemos ir na rua ver uns vestidos...talvez até a Liana possa vir também
-Não, obrigada, eu acho um saco essas coisas de noiva-Liana responde
Eles conversaram por mais algum tempo sobre Ismênia ter sido casada 2 vezes, o primeiro dela ter se divorciado e o segundo ter morrido, sobre filhos, o casamento e outros assuntos. Entretanto, Ismênia e a filha pareciam esperar mais alguém para sair daquela inércia, até que Clarisse toma coragem e decide perguntar.
-Você está esperando alguém?-pergunta Clarisse
-Estava esperando meu ex-marido, pai de Angra, para começar o almoço, mas como ele está demorando muito, acho que podemos começar sem ele-diz Ismênia
-Não, mãe, de jeito nenhum, meu pai tem que estar presente-Angra
-Então, vamos esperar a tarde inteira e talvez ele não chegue-fala Ismênia impaciente
Nesse instante, o mordomo entra na sala avisando que Marcelo, pai de Angra já havia chegado e que ele iria se juntar a eles.
-Boa tarde, gente, desculpa o atraso-diz Marcelo ao entrar na sala
-Falando no diabo-fala Ismênia
-Pai que demora, a mãe já queria almoçar sem você-diz Angra
-Eu sinto muito mesmo, princesa, acabei de sair de alguns compromissos e acabei me atrasando-ele fala com remorso
-Tá, agora bem rapidinho vou te apresentar a essas pessoas: o Léo você já conhece, agora vamos a família dele:esses são os pais e a irmã dele: dona Clarisse, seu João Neto e a Liana.
Assim que Clarisse pôs seus olhos no rosto dele, não pôde deixar de reconhecê-lo. Ele estava diferente fisicamente: mais forte e mais musculoso, deveria estar beirando os 50 anos, mas ele tinha o mesmo olhar de tolerância, de respeito, típico de pessoas que lecionam por amor à causa. Aqueles olhos azuis que a olharam com muito desejo há 20 anos, o seu primeiro homem. O primeiro nunca se esquece. Uma nostalgia a invadiu, desejava ardentemente no fundo de seu ser que ele não a reconhecesse, a presença dele mexia demais com ela, a lembrança de seu passado com ele de paixões e loucuras a deixava tonta, só conseguia pedir a Deus que ele não a reconhecesse.
Já ele a viu e a achou extremamente bela e jovem para ser mãe daquele rapaz, não a reconhecendo de súbito. Entretanto, após alguns segundos, lembrou-se, encarando fixamente seus olhos claros no rosto dela, pintado com uma delicada maquiagem, o que fez João Neto sentir uma ponta de ciúmes. Logo sua angústia se traduziu para ele: era sua aluna mais dedicada que se converteu em sua amante e os dois viveram muitas loucuras até tudo terminar em tristeza e solidão. Apesar disso, ficou feliz por reencontrá-la.
-Meu Deus, é você, eu mal posso acreditar, pensei que nunca mais iria ver você-ele fala alegremente-E você está tão bonita
No entanto, Clarisse não estava feliz, ela estava tonta e sua visão estava ficando turva, ainda mais por ter tanta gente perto dela.
-Vocês já se conheciam?-João Neto pergunta ao ver sua esposa pálida
-É uma longa história, cara-Marcelo responde e, aproximando-se dela, pergunta-E, você, Clarisse, não diz nada? Não está feliz em me ver
Ao ouvir isso, tudo escureceu e Clarisse não conseguiu ouvir mais nada, acaba caindo nos braços de Marcelo desmaiada.

Não quebre meu coração!Onde histórias criam vida. Descubra agora