Capítulo 5-Livro parte 1

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Massapê, 1996
Acordei às 6 horas da manhã, como de costume, para ir à escola que era um saco, eu não gostava, mas eu pensava na minha mãe que era costureira e dava um duro danado para me sustentar. Então, eu posso dizer que eu era uma menina esforçada.
Todos os dias, eu ia para escola com meu melhor e único amigo (até o momento). Pedro. Nós éramos o mesmo que irmãos, nos conhecíamos desde que tínhamos 9 anos de idade em um parquinho que havia na praça centra, o qual hoje está reduzido a pó.
-Larissa, você fez as atividades de hoje?-Pedro
-Quê? Que atividades? Hoje é o primeiro dia de aula-falei surpresa com a atenção dele para o ano letivo
-Eu já ia pedir para você me passar as respostas-ele fala com uma voz engraçada-Costume
Pedro era muito brincalhão e sarcástico, sempre me fazia sorrir quando eu estava triste. Entretanto, ele era muito reservado com a vida pessoal dele, acho que nem a mãe dele sabia o que ele fazia quando estava sozinho ou se acontecera algo de importante na vida dele, o pouco que ele falava era para mim e era porque eu perguntava(eu sou curiosa, eu sei). Diferentemente de mim, que sou muito boca aberta e acaba falando muita besteira que não deveria.
Quando chegamos na escola, vamos direto para sala, sentando-se e esperando a aula começar. Eu me sentei na fileira central na cadeira da frente, enquanto ele sentara atrás de mim na segunda carteira.
Alguns minutos depois, o professor chegara.
Ele parecia ser um homem de meia-idade, mas eu não me liguei muito na sua aparência. O jeito dele me chamava atenção, me dava medo.
-Bom dia, jovens, eu me chamo Renan Vasconcelos e serei professor da disciplina de Matemática-ele falava rápido com um olhar sombrio-Eu vou avisando logo para vocês que aquela dinâmica de dar ponto para ajudar na nota, pelo menos na minha matéria, acabou, eu também não passo trabalho valendo ponto. Será apenas sua nota na prova e acabou. Não tô nem aí se você tirou nota baixa, problema seu, se vire. Eu sou prático nas minhas coisas, comigo não tem esse negócio de mimi de aluno não.-ele fala e continuar com uma voz mais aguda-Ah, professor, me ajuda, preciso de um décimo para passar na sua matéria-fala ele e continua com a sua voz normal-Tô nem aí, vai ficar de ré ré, eu já tô fazendo minha obrigação que é dar aula aqui para vocês, que isso tem professor que nem faz. Agora que todos estão avisados, vamos começar a aula.
Eu acho que era apenas essa seria uma breve explicação sobre como seria aquele ano já havia deixado todos com medo, ninguém teve coragem de dar um pio e permaneceram calados até o final da aula.
A próxima aula era de Português, eu não gostei nem desgostei, apenas era uma aula como outra qualquer: a matéria era Orações Subordinadas Substantivas, não era lá divertido, mas era suportável e a professora parecia ser legal.
Já a terceira aula foi...inesquecível. O professor entrou, colocou sua bolsa sobre a mesa dele e começou a se apresentar. Ele tinha os cabelos castanhos, apartados de lado e os olhos azuis mais lindos que eu já tinha visto. Ele não era magro nem gordo, mas era um pouco fortinho, não chegando a ser bombado. Ele era o homem mais atraente que já havia visto em toda minha vida.
-Bom dia, gente-ele começa com uma voz calorosa-Meu nome é Henrique Valadares e eu vou ser o professor de biologia de vocês. Nós vamos ter 4 encontros durante a semana: 2 serão para o estudo da biologia humana em si e nos outros 2 abordaremos os seres vivos de uma forma geral, ok? No mais, a gente vai descobrindo no decorrer do ano letivo. Agora, eu só queria saber como vocês se chamam.
Ele começa a perguntar o nome na ordem das filas. Estava tão nervosa. Ao longo dos nomes, ele sempre ia tirando uma graça ou fazendo uma brincadeira e eu esperava que ele fizesse isso com meu nome também. Entretanto, quando chegou a minha vez, dei o meu melhor sorriso e disse, mas ele simplesmente pulou para o Pedro. Poxa, qual é o problema de "Larissa"?, eu me perguntava, eu gosto tanto do meu nome. Essa situação já fez eu ficar com uma pontinha de raiva dele.
Somado a isso, aconteceu outra coisa, Pedro me chamou, no meio da explicação, para conversar e eu não podia recusar, afinal ele era meu único amigo. No entanto, o professor percebeu apenas eu falando, provavelmente porque eu falo mais e mais alto, aí ele me repreendeu na frente de todo mundo.
-É Larissa seu nome, certo?-ele pergunta
-É sim
-Pois, Larissa, será que você pode não conversar e prestar atenção na aula, porque assim você atrapalha a minha explicação e aos seus colegas-Henrique
Eu sabia que era uma pergunta, mas eu não respondi só de raiva que eu tava dele. Por que ele tinha que ter citado o meu nome? Pessoa mais antiética.
-Eu vou entender esse seu silêncio como um sim e que isso não se repita mais-Henrique
Eu fiquei com tanta, mas tanta raiva que eu passei o resto da aula dele e das outras aulas sem prestar atenção, apenas nutrindo um intenso ódio por ele
Quando acabou a aula, eu e Pedro voltamos juntos de novo para a rua onde morávamos.
-E aí, gostou dos professores?-Pedro
-Gostei de todos, menos do Henrique. Você viu como ele foi injusto comigo, foi você que me chamou para conversar e eu não tava conversando sozinha, ele deveria ter te respreendido também.
Pedro sorri cinicamente.
-Mas deixa estar, amanhã eu vou conversar bem muito na aula dele, vou fazer o escarcéu de propósito, quero ver o que ele vai fazer-falei
-Provavelmente vai te mandar para coordenação , isso sim-Pedro
-Pois que mande, eu tô pagando para ver-falei
Chegando em casa, eu decidi não tocar nesse assunto com minha mãe, éramos muito amigas, mas eu não queria que ela se preocupasse. Então, decidi perguntar sobre meu pai, ele e minha mãe haviam se divorciado há 5 anos e, cada vez menos, ele vinha me visitar.
-Mãe, e o meu pai, ligou?-perguntei
-Era obrigação dele, mas tu acha mesmo que um macho-tabaco daqueles vai querer se importar contigo. Aqui é só a mamãezinha mesmo. Por isso, reze para eu morrer bem velhinha.

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