À medida que Marcelo ia lendo, encantava-se pela escrita da namorada, estava descobrindo os sentimentos, os temores e os desejos dela, descritos com uma incrível delicadeza, na opinião dele, que o instigava a ler mais.
Ele começa a perguntar o nome na ordem das filas. Estava tão nervosa. Ao longo dos nomes, ele sempre ia tirando uma graça ou fazendo uma brincadeira e eu esperava que ele fizesse isso com meu nome também. Entretanto, quando chegou a minha vez, dei o meu melhor sorriso e disse, mas ele simplesmente pulou para o Pedro. Poxa, qual é o problema de "Larissa"?, eu me perguntava, eu gosto tanto do meu nome. Essa situação já fez eu ficar com uma pontinha de raiva dele.
"Nossa, eu nunca imaginei que ela se sentisse assim com relação a mim no início. Nessa época, que eu me lembre vagamente, eu a achava simplesmente imatura e teimosa, mas agora vejo que não era bem assim, posso entender melhor o que ela sentia, talvez ela não entendesse seus sentimentos, devido à idade, não sabia o que era se sentir atraída por alguém"
Pedro me chamou, no meio da explicação, para conversar e eu não podia recusar, afinal ele era meu único amigo. No entanto, o professor percebeu apenas eu falando, provavelmente porque eu falo mais e mais alto, aí ele me repreendeu na frente de todo mundo.
"Péssimo amigo esse, bem se vê como terminou e que eu me lembre chamei a atenção dos dois, mas tudo bem"
-É Larissa seu nome, certo?-ele pergunta
-É sim
-Pois, Larissa, será que você pode não conversar e prestar atenção na aula, porque assim você atrapalha a minha explicação e aos seus colegas-Henrique
Eu sabia que era uma pergunta, mas eu não respondi só de raiva que eu tava dele. Por que ele tinha que ter citado o meu nome? Pessoa mais antiética.
"Meu Deus, ela me achava antiético"Marcelo pensa sorrindo, achando aquilo engraçado, porque colocando na situação atual, parecia impossível isso ser verdade, "Quanta sinceridade, meu amor"
-Eu vou entender esse seu silêncio como um sim e que isso não se repita mais-Henrique
Eu fiquei com tanta, mas tanta raiva que eu passei o resto da aula dele e das outras aulas sem prestar atenção, apenas nutrindo um intenso ódio por ele
"Nossa, que menina mais zangada" ele sorri novamente
Quando acabou a aula, eu e Pedro voltamos juntos de novo para a rua onde morávamos.
-E aí, gostou dos professores?-Pedro
-Gostei de todos, menos do Henrique.
"Ainda bem que a gente não pode ficar sabendo do nosso futuro"
Decidi perguntar sobre meu pai, ele e minha mãe haviam se divorciado há 5 anos e, cada vez menos, ele vinha me visitar.
-Mãe, e o meu pai, ligou?-perguntei
"Tá aí o problema dela com o pai, deve ter sido horrível"
-Era obrigação dele, mas tu acha mesmo que um macho-tabaco daqueles vai querer se importar contigo. Aqui é só a mamãezinha mesmo. Por isso, reze para eu morrer bem velhinha.
"Meu Deus, não acredito que ela escreveu isso"ele sorri
Cedendo cada vez mais à curiosidade, o homem foi logo para o 2 capítulo, ficando surpreso já com o primeiro parágrafo:
Acordei decidida a perturbar a vida do professor Henrique, se pudesse entrar em seus sonhos para atazaná-lo o faria.
Então, coloquei meu plano em prática e conversei como nunca na vida.
"Coitado desse Henrique, me compadeço tanto dele"
Assim, o tempo ia passando, ele leu o terceiro, o quarto e o quinto capítulo, divertindo-se bastante com a simplicidade e a espontaneidade com que Clarisse escrevia as coisas.
Até que ele olha no relógio e já eram 20:30 e ele ainda tinha que começar o planejamento das aulas de amanhã, então, era melhor começar logo.
Já Clarisse foi a uma festa com todos que a acompanhavam na viagem. Lá, era uma espécie de balada, com música e jogos de luzes, com muitas pessoas dançando. Alguns caras vinham dar em cima dela e sem jeito, tinha que dizer que estava comprometida.
Nos outros dias em que Clarisse permanecia viajando, Marcelo continuava arrumando a casa, pela manhã, fazendo suas coisas habituais e lendo o livro da namorada.
Isso até que chegara o dia da volta de Clarisse que estava marcada para às 4 da tarde.
Marcelo já havia organizado a casa pela manhã com a surpresa, colocado os corações e estava com o anel em fácil acesso para na hora do almoço só se preocupar em comer e mais tarde. buscar sua linda namorada no aeroporto e mostrar a surpresa para ela.
Depois do almoço, descansou assistindo à televisão e, após isso, decidiu ficar lendo a história de Clarisse até a hora combinada de ir buscar ela no aeroporto.
Lendo todos aqueles dias, já estava em um capítulo bastante avançado da história, lembrando-se da sua desastrosa primeira palestra sobre educação sexual, toda a repercussão que ela teve sobre os pais no dia seguinte, acusando-o de estar instigando os alunos a fazerem o ato.
Além disso, isso acabou desencadeando a dolorosa separação dos dois.
Sinto seu corpo unido ao meu, mas com uma sensação diferente, não havia o plástico de sempre, ele provavelmente não planejara o que estava acontecendo. Entretanto, quando tudo terminou, a voluptuosidade deu lugar a um clima de tristeza.
Ele simplesmente me abraçou forte e foi embora pela janela. A dor que sentia era tão intensa que me deitei no
tapete do chão do quarto chorando silenciosamente.
"Muito triste, quando eu penso que a abandonei, me sinto um monstro", Marcelo podia sentir a melancolia daquelas lembranças, não se orgulhava delas, não queria ter feito isso com Clarisse, mas simplesmente foram acontecendo coisas que a melhor opção que ele cogitou, no momento, foi fugir.
Ele foi lendo mais e mais, até chegar em outra parte que o fez refletir.
Quando desnuidei-me, me olhei no espelho e percebi que meu corpo estava diferente, a diferença gritante era nos seios, ele estavam muito, muito maiores do que eram antes, minha barriga parecia um pouco inchada, mas não era muito preocupante. Entretanto, minhas canelas pareciam ainda mais finas do que elas já eram! Eu estava horrível! Preocupada, logo me lembrei das aulas do Henrique, quando ele me dizia que um atraso maior que 2 semanas poderia ser um indício de gravidez e já fazia 1 mês que meu endométrio não descamava!
"Meu Deus, ela achava que tava grávida de mim. Será que ela perdeu depois e não me contar porque é um assunto triste para ela?"
Essa situação só fez ele se apressar ainda mais para avançar na história, ávido de respostas para seus questionamentos.
-Onde eu estou?-perguntei levanto-me e me sentando na cama
-Você está no posto de saúde Ameixa
-O que eu tenho, doutor? Não me diga que aquilo que estou pensando é verdade
-Se for o que penso que é, é, você deve estar com um pouco mais de 1 mês. Mas não se preocupe cada vez cresce mais o número de adolescentes grávidas no Brasil. Você e o pai do seu bebê ainda estão juntos?
-Anda, Pedro, seja homem, fala-Gustavo fala abaixo cutucando Pedro
-Eu sou o pai, doutor-fala Pedro
"Será que ela ficou com ele enquanto estávamos juntos?" Marcelo sentiu uma pontada de ciúmes
Querendo respostas, ele foi lendo e chegou na parte do baile de formatura, onde Clarisse e Rânia brigaram por causa do namorado da segunda.
De repente, uma multidão se aglomerou para ver uma possível briga entre eu e Rute, mas ela logo cortou isso e me deu cheque mate:
-Para de se vitimizar e fica longe do meu homem, senão eu parto a sua cara
-Não faz isso, Rute, Larissa está grávida-Pedro se intromete na conversa
-Mas que tratante, filha da mãe! Vejam, Brasil, ela engravidou do professor Henrique-Rute fala debochando-Depois eu que sou a puta de Massapê. Eu vou poupar você, mas é que se eu te esbofeteasse, você com certeza, perderia o bebê e eu estaria fazendo um bem a você. Agora, te poupando esse bebê seria seu maior castigo, você vai perder toda a sua juventude e beleza, vai passar dificuldades hihihi. Então, te deixo com esse estorvo que você leva aí dentro do ventre. Mas fique longe do meu homem, porque, da próxima vez, pode ter certeza que não te deixarei viva.
"Então, o filho era meu mesmo, será que ela perdeu depois e não quis me contar, porque não é possível que seja o Léo"ele pensa isso com um misto de preocupação e desconfiança.
Aflito, ele continua lendo, temendo o pior, chega na parte do casamento de Clarisse e João Neto, não conseguindo nem rir das partes toscas. Porém, sua angústia só crescia e apareceu raiva, principalmente, na seguinte cena:
Esse sentimento aumentou assim que meu bebezinho foi entregue nos meus braços, misturado ao intenso amor que começara a sentir por aquele serzinho, mirei seus olhos e, neles, vi os olhos de Henrique, verdes e cheios de ternura. Já o nariz, puxara a mim com certeza, era arrebitado e meio gordinho.
"O que raios aconteceu com essa criança? Ela não pode ser o Léo, não pode"
O homem estava visivelmente nervoso com a leitura, seu coração estava em taquicardia enquanto sua mão vacilante segurava o livro.
Mesmo assim, continuava a leitura, queria saber, em ideias claras, o que, realmente, Clarisse escondia dele, sem nenhum remorso, uma dissimulação perfeita.
De repente, no último capítulo, tudo ficou claro, na cabeça do homem, que a informação mais obscura era verdade, quando apareceu uma personagem para representar sua amada filha.
Entretanto, tudo mudou quando ele conheceu uma mocinha pelo Facebook, Ana, 2 anos mais nova do que ele, encantando-se pela delicadeza de sua feições, seus olhos verdes pareciam duas esmeraldas, era assim que ele a descrevia em seus poemas.
Bastante irritado, jogou o celular no chão com força, fazendo a tela quebrar em vários pedacinhos, estava, deveras, irado. Ele nunca tinha estado com tanta raiva assim de alguém, sempre fora tranquilo e equilibrado com as emoções, mas aquilo já era demais, tinham mexido com a pessoa que ele mais amava no mundo, sua filhinha, que agora estava em uma situação bastante complicada, casada com o próprio irmão e com um conjunto de células defeituosas no ventre. E a culpada disso? Clarisse que sabia de tudo e não disse para ninguém, deixando aquelas crianças vítimas de uma situação horrível.
Cada vez que ele pensava nessa situação, sentia mais raiva, chutou os móveis, rebolou tudo que havia na mesa, estragou toda a surpresa, deixando a sala um verdadeira bagunça que poderia ser chamada de caos e, principalmente, rebolou a aliança no chão, fazendo a caixinha dela se quebrar.
Marcelo se sentia enganado por causa da filha e, ainda mais porque a causadora desse crime era a segunda pessoa que ele mais amava na vida. A partir de agora, queria que ela sumisse da sua vida, para que ele não acabasse fazendo uma besteira com ela.
Cansado, ele sentiu uma imensa vontade de chorar, foi ao banheiro, sentou-se em posição fetal, lágrimas rolaram, não imaginava como seria sua vida daqui para frente, mas parecia um futuro horrível, sem a Clarisse sincera.
Já dera 4 horas e nada de Marcelo aparecer para buscar Clarisse, ela já estava ficando preocupada, mandava mensagem, ligava e nada dele responder.
Por volta das 5 horas, decidiu pegar um táxi, rezando para que nada de ruim tivesse acontecido com Marcelo.
Ao chegar no prédio, pediu para o taxista ter a bondade de ajudar a levar as malas para o apartamento.
Abrindo a porta, encontra o apartamento uma verdadeira zona, com uns balões na parede, uns estourados, mas ainda dava para entender que estava escrito "Casa comigo"
O taxista deixa as malas na porta, dizendo:
-Que bagunça, a senhora está de mudança?
-Estou ha ha-ela sorri amarelo entregando o pagamento-Perdão pela bagunça, aqui está o dinheiro, pode ficar com o troco
-Obrigado, senhora-o homem fala indo embora
Quando o homem sai, Clarisse entra na casa, olha horrorizada a bagunça, ficando preocupada com Marcelo, pensando que ele poderia ter sido assaltado ou algo do tipo.
-Marcelo-ela chama por ele angustiada
De repente, ele sai do banheiro, com uma expressão horrível, cabelo bagunçado, olhos vermelhos, claramente estava chorando, Clarisse nunca o tinha visto nesse estado.
-Meu amor, você tá bem? Aconteceu alguma coisa?-ela se aproxima dele para abraçá-lo
-Não me toque, Clarisse, eu já sei de tudo, já sei que o Léo é meu filho
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Não quebre meu coração!
RomanceClarisse é uma mulher de meia-idade que tem um passado sofrido por ter sido abandonada pelo pai aos 5 anos, tendo que conviver com a mãe sempre falando mal dele. Somado a isso, ela foi deixada pelo grande amor de sua vida, relação que lhe rendeu mág...