Capítulo 57-Fazendo as pazes com o passado II

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No dia seguinte, Élis liga para Clarisse informando que não poderia sir de casa, pois esperava uma encomenda, pedindo que o casal fosse encontrá-lo na sua própria casa mesmo.
Ao chegarem a casa, o mordomo os conduz até a sala, onde ficaram esperando por Élis, que os cumprimentou um tanto acanhada.
-Bom dia para vocês
-Bom dia-responde Marcelo em tom de voz normal enquanto Clarisse permanecia calada
-E aí, como vocês estão?-pergunta Élis tentando puxar assunto
-Bem-responde Clarisse secamente e continua dizendo-O que você quer conosco?
-Bom, eu quero me desculpar com vocês, Clarisse, me retratar, me explicar pra vocês, porque eu fazia aquilo para que você entenda o meu lado e que eu não fiz aquilo por maldade-diz Élis olhando nos olhos de Clarisse e depois, voltando-se para Marcelo-Me desculpar pela chantagem que fiz com você, Marcelo, acabei te envolvendo
-Tudo bem, Élis, já que você está se desculpando, então, pode me devolver meus 12 mil reais?-pergunta Marcelo sem alterar o tom de voz
-Marcelo!-Clarisse o repreende
-Clarisse, você não sabe o quanto eu me lasquei em dívidas naquela época para proteger nossa imagem-Marcelo continua com mesmo tom, mas um pouco mais sério
A namorada sorri amarelo envergonhada pela situação.
-Tudo bem, ele está certo, Clarisse-fala Élis pensativo-Depois, a gente vê aí, Marcelo, vou te pagando aos pouquinhos
-Tá, pode ser-fala Marcelo contente não vendo a hora de aquele dinheiro que ele perdeu, naquela época, cair na conta dele
-Então, Clarisse-Élis se volta para a enteada, de maneira triste-Nenhum professor deveria ter agido como eu, em sã consciência, morria de ciúmes da sua mãe, desculpa, mas eu odiava ela com toda a minha alma, porque, naquela época, não sei, me sentia tão...injustiçado, porque, mesmo que Fábio não estivesse mais com ela, pelo menos, ele já tinha firmado um compromisso com ela e ainda tinham um filho que, eu sei que não segura casamento, mas era uma ligação que eu achava que eu nunca iria ter com ele e, invejoso, acabei ferindo justamente nesse ponto. Eu sei, eu sei, totalmente irracional.
Dito isso, Élis se calou, esperando ouvir as reações das outras duas pessoas presentes na sala.
Marcelo ficou quieto, pensando se realmente era certo ficar ali ouvindo aquilo, enquanto Clarisse procurava achar as palavras certas para descrever o que sentia:
-É, isso foi totalmente...inesperado... Posso ser sincera, já que você está sendo sincero?
-Claro!-responde Élis animado em ouvir aquilo
-Eu achava que você não tinha sentimentos, quase nunca sorria, sempre sério e focado no trabalho
-Normal isso, acho que porque sou um homem de exatas, pensam que não tenho sentimentos
-Sim-confirma Clarisse
De repente, o alarme do celular de Marcelo toca para lembrar que sua janela de aula acabaria em 1 hora. Assim, ele poderia lidar com o trânsito tranquilamente e chegar cedo no trabalho.
-Pessoal, vou ter que ir embora, tenho uma aula para lecionar às 10:40
-Tá bom, meu amor, vai com Deus-fala Clarisse dando um selinho rápido na boca dele-Te amo
-Também te amo
Após se despedir também de Élis, Marcelo vai embora, deixando os dois sozinhos conversando.
-Pois é, Clarisse, não querendo me vitimizar, mas eu não tava bem mentalmente falando, eu tava doente de amor pelo seu pai e convenhamos que é um pouco mais sofrido para mim sentir ciúmes porque eu sinto ciúmes e homem e mulher e você só de mulher
-Élis, você não confia no meu pai?-pergunta Clarisse preocupada
-Confio, mas sempre tem aquele ciuminho, eu tô até melhor agora que tô fazendo terapia
-É verdade mesmo que melhorou. Pelo menos, você não desconta sua frustração nos outros-brinca Clarisse
Ele sorri meio envergonhado, achando que não tinha o direito de rir disso.
-Clarisse, eu sinto muito pelas coisas que eu te disse e ter prejudicado você, eu sei que não adianta eu ser repetitivo, mas eu quero frisar bem isso. Então, Clarisse, você me perdoa?
-Sim, mas tem uma condição-fala Clarisse pensativa
-O quê?
-Eu quero que você me dê aulas de Matemática, quero aprender tudo o que eu não aprendi naquela época, porque tem algumas matérias em Ciências Biológicas que é a faculdade que eu curso e eu não entendo nada porque tem Matemática no meio, tipo eu já tô perto dos 40 anos e não sei o que é um logaritmo
-Ah, Clarisse, você é um anjo mesmo, vou te ensinar com o maior prazer-fala Élis radiante de felicidade, logo seu semblante se escurece-Agora, Clarisse c você acha que eu deveria contar para o Fábio, não é?
-Você que sabe-fala Clarisse lembrando-se do seu problema
-Ai, Clarisse, você não sabe da indecisão que eu tô se eu contar, tenho medo que ele me deixe-fala Élis tristemente-Você não faz ideia da preocupação que eu tô
-Sei mais do que você imagina-comenta Clarisse com austeridade-Também escondo algo do Marcelo
-Sério?-fala Élis chocado-Pode me contar ou prefere não falar
-Se você prometer não contar para ninguém?-pergunta Clarisse sem notar a puerilidade contida nela
-Prometo-responde Élis
-Lembra que, naquela época que eu terminei os estudos todo mundo ficou comentando que eu tava grávida do Marcelo, mesmo estando casando com João Neto?
-Sim
-Então, não eram só rumores de gente fofoqueira, era verdade, o meu filho mais velho é do Marcelo e ele namorou e engravidou a filha do Marcelo, sem saber que era irmã dele, aí eu não tive coragem de contar nada e então ele casou com ela. Ou seja, ele está casado e vai ter um filho da própria irmã!
-Nossa, senhora, Clarisse, a sua situação tá pior que a minha, eu não queria tá na sua pele
-Pois é, agora você sabe como eu te compreendo
-No seu caso, eu acho que não sei se tem como eles descobrirem, se você tiver 100% de certeza disso, finge que não sabe de nada mesmo e segue a vida-Élis aconselha Clarisse e usa uma sentença optativa-Agora, Deus queira que a criança nasça saudável
-Amém-fala Clarisse-Agora, chega de falar desse assunto que me dá náuseas...Então, cadê meu pai?
-Tá na empresa, mas a qualquer momento...-Élis fica surpreso ao ver o marido entrando na sala, aproximando-se dos dois-...falando nele...
-Bom dia, meu povo-disse Fábio ao entrar no cômodo
-Meu mel, aproveitando que você chegou e a Clarisse já está aqui, eu quero conversar sobre um assunto que tá me deixando incomodado esses dias
-E o que a Clarisse tem a ver com isso?-indaga Fábio preocupado
Ao ver a situação complicada, Élis decide contar tudo de uma vez, sem enrolação:
-Fábio, eu fui um péssimo professor para a Clarisse no ensino médio, eu tratava ela mal, intimidava ela, ela não conseguia aprender nada da minha disciplina e eu ainda chantageie o Marcelo, meu colega de trabalho, por causa dela. Tudo isso meio que por sua causa.
-Minha causa? Por quê?-Fábio arqueia a sobrancelha direita
-Porque eu tinha raiva da Clarisse por ela ser filha da Virgínia
-Meu Deus, Élis, você estragou o futuro brilhante da minha filha por um capricho seu
-Perdão, Fábio
-Para mim não, você tem que pedir a ela
-Eu já perdoei, pai-disse Clarisse com doçura, olhando para o pai-Com a condição de que ele me desse aulas novamente
-Acho uma ótima ideia-Fábio sorri-Se a Clarisse te perdoa, então, está tudo bem
-Sério? Então, volta tudo ao normal entre a gente?-pergunta Élis
-Claro!
-Ai, meu mel, eu te amo tanto-fala Élis beijando o cônjuge
Enquanto isso, Clarisse se afasta para deixá-los mais à vontade, mandando mensagem para o namorado:
Clarisse: Meu amor
                Assim q vc chegar do trabalho, venha me buscar, por favor
-Filha, você vai querer almoçar conosco hoje?
-Eu adoraria, mas eu acabei de pedir para ele vir me buscar e fica chato cancelar assim
-Então, faça disso, chame-o para almoçar conosco também
Assim, Clarisse fez e algum tempo depois, estavam Élis, Fábio, Vargas, Michael, Clarisse e Marcelo reunidos em volta de uma mesa para mais uma refeição do dia, todas as pessoas importantes para Fábio estavam juntas lá. Por isso, sentia-se muito bem no meio dos seus. Porém, Clarisse sentia que faltavam três pessoas àquela mesa:Léo, Liana e Angra, sentindo-se um pouco triste por pensar nelas.
-Filha, quais são as novidades? O que você tem feito?-pergunta Fábio tentando puxar assunto com Clarisse
-Eu tô sempre ocupado com a minha faculdade, arrumando a casa e às vezes, eu escrevo meu livro
-Eu fico tão orgulho por você, filha-exclama Fábio-E esse livro é sobre o quê?
-Uma história de amor entre um homem e uma mulher que enfrentam muitos desafios para ficarem juntos e não conseguem isso em um primeiro momento, seguindo suas vidas. Mas depois se reencontram e ficam juntos
-Clarisse, que legal e quando você pretende publicar?
-Ah, eu não sei, quando eu tiver alguma oportunidade
-Gente, vocês não sabem o quanto ela é misteriosa com essa história, não deixa nem eu olhar pela tela do notebook quando ela tá escrevendo-comenta Marcelo em tom de jogatina
-E eu já expliquei que eu só quero que você leia só quando tiver publicado para não perder a graça-explica Clarisse no mesmo tom do namorado, disfarçando sua insegurança em ele ler
-Tá mais que certa, Clarisse-fala Vargas-Essa história deve estar ótima, se tiver saído criativa como os pais
-Obrigado, querida irmã-diz Fábio ao ouvir aquilo
-De nada, querido irmão
-Clarisse, filha, se você quiser, eu tenho um amigo que é dono de uma editora e eu posso pedir para ele dar uma olhada na sua história para ver se ela é publicável
-Pai, eu iria adorar-fala Clarisse superanimada, mas, ao mesmo tempo, preocupada
-Ótimo, hoje mesmo, ligarei para ela
Depois do almoço, Marcelo deixou Clarisse em casa e voltou ao trabalho. Ela preocupada com Marcelo descobrir algo, mudou algumas coisas na história, justamente na parte problemática, para que não restasse a menor dúvida que a realidade que todos acreditavam era verdade, mesmo não sendo, mas salvou a história original para ter uma recordação da sua verdadeira história de vida.  Entretanto, de repente, durante esse processo, alguém toca a campainha. Ela vai atender e era Karla, sua psicóloga, quem desde que Clarisse começou o relacionamento com Marcelo nunca mais atendeu esta.
-Karla, quanto tempo-fala Clarisse surpresa ao abrir a porta para ela
-Pois é, eu posso entrar?-questiona Karla já entrando
-Claro, que má educação a minha-Clarisse fecha a porta e senta-se ao ver que a psicóloga já estava sentada no sofá
-E aí, como estão as coisas?-a dona da casa inicia o assunto
-Clarisse, vou embora do país-diz a outra numa expressão impassível
-Mas por quê?
-Porque eu não sou psicóloga de verdade, o João Neto me contratou há 17 anos para pastorar você e saber se você não tava traindo ele. Então, agora que ele tá preso, podem descobrir que eu exercia psicologia ilegalmente em você. Por isso, vou sair do país-Karla fala seriamente.
-O quê?-fala Clarisse sem acreditar no que estava ouvindo-Você me enganou esse tempo todo? É sério isso?
-Desculpa, amiga, você é muito gente boa, nossa amizade é sincera. Porém, eu precisava muito do dinheiro e era muito fácil enganar você. Que tipo de psicóloga você acha que iria beber com você?
-Sei lá, achei que tínhamos virado amigas-fala Clarisse sem ter caído a ficha para ela
-E viramos, mas Clarisse, eu sou doida, eu sempre ia pro CAPS de vez em quando, principalmente, depois que eu comecei a te "atender", eu consigo tomar 5 copos de cachaça e continuar sóbria, hahaha-ela dá uma risadinha-Cuidado com a ingenuidade, você tem 18 ou 38, hein?
-Mas pera algo não bate. Se você trabalhava pro João Neto, então por que me aconselhou a dar pro Marcelo?
-Ah, Clarisse, por "n"motivos. Primeiramente, eu já tinha juntado um bom dinheiro para parar de depender do salário do João Neto e se ele me demitisse por isso, não teria problema. Segundamente, você é minha amiga e eu só queria o melhor para você, havia testado na pele o quanto João Neto era ruim de cama, não me pergunte como eu sei disso-ela fala se lembrando com asco da noite que passaram juntos-Terceiramente, era o que você aparentava querer, mas a sua moral não deixava, então, só dei um empurrãozinho.
-Karla, eu tô chocada
-Eu sei, eu sei, dá pra ver pela sua cara-diz Karla e continua-Estou com a garganta seca, você tem uma cerveja por aí?
-Não, Karla, acabou, mas você não acha um pouco cara de pau da sua parte me pedir algo, depois do que me contou?
-Desculpa, você me perdoa? Eu te ajudei com o Marcelo. Não vai me denunciar para a polícia, vai?
-Eu deveria fazer isso, mas não, como sou grata por ter me encorajado com o Marcelo, não vou.
-Ai, amiga-Karla dá um pulo para abraçar Clarisse-Obrigada, você vai se a  1ª pessoa que eu vou convidar para a inauguração do meu restaurante na Argentina-Karla fala "Argentina" com a pronúncia espanhola.
-E agora eu tenho que ir pegar o meu voo, hasta la vista, Clarisse-fala Karla indo embora e Clarisse fecha a porta.

Enquanto isso, Liana, apesar de ter achado estranha sua "trip", gostou e com o apoio do namorado que fumava maconha, decidiu embarcar em outra.
Estando no quarto, o espaço-tempo começara a ficar diferente novamente e o onírico começara a sua vista.
Aos poucos, começa a aparecer uma mulher bastante bonita com a pele verde, tão bonita que Liana chegou a sentir uma inveja branca do corpo dela, que parecia esculpido.
-Oi, Liana, sou a Caju, Pá deve ter falado de mim
-Falou sim-comenta Liana
-Também deve ter falado sobre que íamos conversar, vou fazer revelações subliminares sobre a sua vida
-Tipo o quê?
-Tipo você ser linda e maravilhosa, mas, mesmo assim, se sentir insegura quanto ao seu namorado
-Muito genérico isso, muitas garotas também sofrem disso
-Então, você sente falta da sua mãe, mas não tem coragem de perdoá-la, porque é um pouco orgulhosa
-Eu não sinto falta da minha mãe-fala Liana sem parecer convincente
-Tudo bem, fala com ela só quando você tiver se sentindo preparada, sua mãe vai te perdoar de qualquer jeito mesmo
-Claro né
-Sim e fica tranquila, zen, tudo vai se resolver sozinho, do jeito que se desarranjou sozinho, sua mãe vai perdoar seu pai, vai deixar o Marcelo e vocês voltarão a ser a família feliz de sempre. Além disso, muita coisa ainda vai acontecer com você, você vai fazer faculdade, Guilherme vai deixar de te esconder no closet dele e vai te apresentar aos pais dele e vocês vai morar juntos no próprio apartamento de vocês e você vai mostrar pro mundo o quão maravilhosa você é, não é incrível?

Eram por volta das 4:30 tarde, Marcelo havia chegado mais cedo do trabalho e tomava banho, enquanto Clarisse procurava algum filme na Netflix. Quando, de repente, o celular de Clarisse começa a tocar, era um número que ela desconhecia, mas o ddd era 85 mesmo.
-Alô, quem fala?
-Alô, aqui é a delegada Sabrina Leroy, quem está falando é a senhora Clarisse?
-Sim, sou eu
-Então, sua filha Luana está desaparecida, ela fugiu com alguém do orfanato e a senhora é uma das suspeitas...
Ao ouvir desaparecida no celular, Clarisse cai desmaiada no chão, deixando o celular cair e trincar uma parte da película dele.
-Então, queremos que a senhora compareça para prestar depoimento..., senhora, senhora...

Não quebre meu coração!Onde histórias criam vida. Descubra agora