Capítulo 23 - Simão

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- Merda ...

Xinguei entredentes quando a porta do elevador fechou. Nervoso, chamei os elevadores dos dois lados do hall, olhando impaciente para ambos os lados, vendo no display qual deles chegava primeiro.

- Ai! Me desculpa ...

Fitei-a duro, irritado.

- Que deu em você, hein?

- Foi mal ... Mil perdões ... - olhou-me consternada.

Do jeito que eu me sentia, bem que ela podia enfiar os mil perdões naquele lugar. A cagada estava feita. Inês devia estar devastada com o que viu. Imaginando o que não viu. Pensando o pior.

Tirando conclusão errada.

Que porra!

- Eu falo com Inês. - Natália prontificou-se nervosa - Explico tudo pra ela, que fui que te ...

- Você fica quieta! - interrompi gélido.

- Mas é melhor eu resolver logo o estrago que fiz. - insistiu.

- Você fica quieta ou eu não respondo por mim.

Falei com rancor. Natália baixou o olhar, comprometida e culpada. Melindrada também com a agressividade e intolerância do meu tom. Que resolver estrago que nada. Ainda acabava era estragando mais, merda.

Abusada! Mal conseguia olhar na cara dela, tão furioso que estava. Nem entendia o que ela estava fazendo no hotel. Quer dizer, eu até que adivinhava. A idiota com certeza veio passar a noite com Wagner ou com David.

Tarada desfrutável! Piriguete mais oferecida, caralho!

Se jogar em cima de mim, porra? Que merda ela estava querendo? Dar uma rapidinha para relembrar o passado? Me foder gostoso? Foder me fodeu. Bem fodido!

Inês era ciumenta e insegura para caralho. Passou a vida inteira testemunhando as infidelidades do pai nos mídia e nas redes sociais. As safadezas dos amantes da mãe dentro da própria casa. Na cabeça dela, homem era todo igual. Cafajeste.

Como ela ia acreditar em mim?

Agora que estava tendo confiança em mim e no nosso casamento, quando tudo estava tão bem entre a gente, tinha que aparecer esta assanhada para estragar tudo, sujando a minha ficha?

Foda-se!

Finalmente um dos elevadores chegou e eu entrei apressado, sem me despedir sequer. Me encostei na parede, inclinando a cabeça para trás, procurando aliviar a tensão em meu pescoço. Bufando irritado. Xingando raios e coriscos. Preocupado, sentindo o nervoso miudinho me invadir como um pronúncio de merda anunciada.

Atravessei o lobby numa passada apressada. Inês devia estar lá fora, esperando que lhe trouxessem o carro. Mal cheguei na entrada, vi o Volvo dela arrancando a toda a velocidade.

Merda!

Paula veio ter comigo cá fora.

- Inês foi embora? - perguntou admirada.

- Peça para me trazerem meu carro, urgente. - pedi, sem vontade de conversar - E avise meu irmão que eu não vou jantar.

Paula passou de admirada a preocupada.

- Algum problema?

Não lhe respondi e Paula me deixou sozinho, estugando o passo para providenciar meu pedido. Acendi um cigarro para descomprimir a tensão. Ansioso por meter as mãos no volante e ir atrás da diabinha. Temendo o pior. Nervosa, dirigindo feito uma louca, ainda estampava o carro, pensei aflito, de coração nas mãos.

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