- A baixinha fez o quê?
- Isso que te contei ...
- Puta merda!
Assobiou incrédulo, com uma expressão de assombro na tromba sisuda e recostou-se no sofá, digerindo a notícia. O rosto rígido, com olheiras profundas das noites mal dormidas. Quase me arrependi de contar para ele. Os meus problemas ao pé dos dele eram peanuts.
- Você não quebrou o filho da puta na porrada?
Acenei que não.
- Caralho! - fechou a cara - Se fosse comigo arrebentava o cabrão. Amassava ele até ficar irreconhecível, grudado no chão, nunca mais era homem na puta da vid...
- Pra quê? - interrompi.
David franziu a testa, como se tivesse escutado mal.
Esbocei um sorriso de satisfação e meu irmão franziu ainda mais o cenho, pasmo comigo.
- O cara me fez um favor ...
- Te fez um favor? - olhou-me desconcertado.
- Um não ... Na verdade, me prestou dois favores.
- Foda-se! - bufou confuso - Agora me perdi no raciocínio.
Recostei-me refastelado no sofá, com os pés cruzados em cima da mesa de centro e dei um grande sorriso de satisfação, para espanto de meu irmão.
- A diabi ... Inês não conseguiu me trair. - expliquei com a felicidade estampada no rosto - Ela não conseguiu me trair ... Quando chegou o momento da verdade, ela simplesmente não conseguiu ...
- Ela é apaixonada por você. - David sorriu - Sempre foi ...
É mesmo ... Agora eu tinha a certeza.
- Você não imagina como foi bom escutar ela falando para o cara que não conseguia transar com outro homem ... - confessei.
- Imagino, sim ...
- Como bônus, o cara ainda me ofereceu de bandeja o argumento para eu proibir ela de continuar trabalhando lá.
David acabou dando uma risada, algo que ultimamente era difícil de arrancar dele. Entendeu perfeitamente o meu regozijo, careca de saber o quanto eu odiava a ideia da diabinha trabalhar fora do nosso grupo. Especialmente naquela empresa, com aquele gavião bonitão rondando ela o tempo inteiro.
- Bom ... vendo a parada desse prisma, você devia era agradecer ao cara. - caçoou irônico - Pagar um drinque, convidar pra almoçar.
Fechei duro a cara.
- Não exageremos.
Olhei de relance a minha mão. Os nós dos dedos estavam ficando arroxeados. O filho da puta tinha um queixo duro. Do jeito que contei para David, até parecia que nada daquilo me incomodou ou abalou. Nada disso. Muito pelo contrário. Eu ainda estava remoendo tudo.
Claro que adorei escutar a diabinha falando que me amava e não conseguia me trair mas também odiei saber que planejou me chifrar. Ainda tinha náuseas sempre que revia em minha cabeça aquela cena desgraçada. O sujeito admirando os seios nus da diabinha, falando o quanto ela era tão linda. As mãos dele apalpando as suas maminhas. Isso estava difícil de perdoar à diabinha. Estava difícil pra caralho.
Quando lá cheguei e me deparei com aquela cena, foi como levar um tremendo soco na boca do estômago. Roubou minha respiração. Perdi momentaneamente a razão. Congelei todo, da cabeça aos pés. Não porque fosse surpresa inesperada. Afinal, eu fui lá de propósito para dar um flagra nos dois. Mesmo assim, foi um choque tremendo. Uma porrada monumental. Uma sensação devastadora de tão ruim. Rasgou tudo cá dentro.
Fiquei literalmente sem chão. Sem chão e sem ação.
Só passados uns segundos reagi e virei um vulcão de ódio e fúria. Aí, quando eu ia soltar a fera enraivecida dentro de mim e arrebentar com tudo na minha frente, a diabinha se soltou das mãos daquele filho da puta e desatou a chorar, falando que não conseguia me trair, confessando que queria se vingar de mim mas que não conseguia. Simplesmente não conseguia.
As suas palavras me pegaram de surpresa. Foi como outro choque. Um choque inverso, bom. Uma sensação avassaladora de alívio, uma descarga de felicidade. Ali, eu soube o quanto a diabinha me amava. Fiquei grogue, paralisei de novo, anestesiado por aquelas palavras. Neutralizado pelo significado delas.
Só quando o cara deu conta da minha presença é que a raiva e o ódio vieram de novo à tona. Aí, a imagem das suas mãos tocando no que era meu, me toldou de novo o discernimento.
Avancei para eles, dividido entre a vontade feroz de estilhaçar o cara e o desejo de esquecer o que vi e perdoar a diabinha. Me segurei quanto pude mas perdi a cabeça quando o pulha falou aquela merda como desculpa, tipo que era homem, não era de ferro. Fiquei tão cego de ódio que nem medi a força quando a diabinha se atravessou na minha frente, intercedendo em defesa dele.
Aí ... deu merda.
- Não dá pra a gente ir no jantar. - avisei - Inês machucou feio o pé. Está morrendo de dor. Você avisa Madu?
- Claro. Fica tranquilo. - fitou-me desanimado, com ar cansado e acabou desabafando - Se pudesse, também me livrava desse jantar. Não quer acertar no meu pé?
- Você devia era livrar-se desse noivado. - falei sincero, ignorando a gracinha dele.
- Não. - falou decidido - Não vou voltar atrás.
- Esse casamento vai dar merda ...
Deu de ombros.
- Não dão todos? - olhou-me cínico - A baixinha não continua brava com você?
Foi a minha vez de suspirar desanimado.
- Brava é pouco ...
Eu também estava bravo. Revoltado por ela não acreditar em mim. Zangado por ela ter planejado me trair por vingança. Furibundo por ter deixado aquele cara botar as mãos em cima dela. Desgastado com as nossas brigas. Atormentado com o resultado de nossas brigas. Preocupado também. Quando vim embora, Inês estava cheia de dor. A carinha dela até estava desfigurada.
E a culpa era toda minha ... Eu que a empurrei.
Merda.
- Simão ... - David interrompeu meus pensamentos - Em vez de proibir Inês de trabalhar lá, por que não explica pra ela que fica difícil pra você ela continuar trabalhando com esse cara, depois de tudo o que aconteceu. Inês vai entender a sua posição. Vai ficar menos brava com você. Quem sabe não te perdoa também?
- Me perdoar? Porra! Eu não fiz nada de errado! Ela sim ... Ela fez! Isso não está fácil de perdoar, não ... Só me apetece é esganá-la!
- Simão, não importa se você está inocente. O que importa é que a baixinha pensa que você a enganou. Aí, quando ela pede o divórcio, você joga duro, a chantageia. Ela só quis se vingar. Qualquer mulher faria o mesmo. Muita sorte a sua ela ser tão apaixonada por você. Não ter conseguido chegar aos finalmentes. Não conseguir te chifrar. Porra, ela te provou que te ama. Quer maior prova?
- Ela devia confiar em mim. - desabafei zangado - Essa é a única verdade que importa!
- Você quem sabe ... A mulher é sua mas ... se fosse comigo, eu adocicava a coisa ... tentava fazer as pazes. Confessava para ela que aquele acordo do divórcio não passa de blefe. Falava a verdade, poxa! Que só fez aquilo porque era o único jeito de ela desistir do divórcio. Abrindo o jogo, a baixinha vai confiar em você. Fica mais fácil para ela acreditar na sua inocência.
Fiquei calado. Se eu abrisse o jogo com Inês, ela ia embora na hora. Eu tinha certeza disso. Ela se recusava a acreditar na minha inocência. Esse era o meu dilema. Eu precisava ganhar tempo.
Percebendo a minha relutância, David não insistiu mais comigo e acabou se levantando.
- Eu vou andando. Você ainda fica por aqui?
- Não. Também vou.
Estava sem cabeça para me concentrar no trabalho.Desejoso para chegar em casa. Preocupado com a diabinha. A culpa me remoendo aconsciência. Ela tinha o pé naquele estado por minha causa.
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Quer pagar pra ver? Volume II
ChickLitPara Inês, descobrir que Simão sempre a amou é um sonho tornado realidade. Para Simão, descobrir quem anda assediando Inês com as mensagens anônimas torna-se a grande prioridade. A verdade é desvendada e eles finalmente podem viver em paz. Mas nem t...