Capítulo 22 - Inês

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Devastada.

Não tinha outra palavra para descrever o quão miseravelmente infeliz eu me sentia. Era tudo muito pior do que quando eu recebia os telefonemas e as mensagens. Naquela época, eu não tinha a ilusão de ser amada. Não tinha a esperança de um dia conquistar o coração de Simão. Ainda não tinha vivido nossa felicidade de fantasia.

Neste momento, eu me sentia mil vezes mais enganada e ferida. Depois de todas as suas declarações de amor, de todos os momentos intensamente felizes, a sua traição era infinitamente mais dolorosa, rasgando mais fundo e lancinante, estilhaçando tudo cá dentro.

Estava devastada mas nunca me senti tão lúcida e resoluta na vida. Decidi me hospedar num hotel. Um hotel da concorrência, no Leblon. Não queria voltar para casa de minha mãe. Dispensava censuras e recriminações, do tipo "eu bem que te avisei", ou o seu ar de regozijo e satisfação.

No percurso para o hotel, enviei uma mensagem a Jorge, avisando que precisava tirar uns dias de férias para resolver assuntos urgentes. Ficou preocupado, perguntando se havia algum problema. Respondi que não. Apenas urgência em resolver alguns assuntos.

Mentalmente fiz uma lista de tudo o que impreterivelmente tinha de tratar nos próximos dias, planejando e priorizando as coisas, para dar rumo em minha vida.

Ir no advogado para iniciar o processo de divórcio.

Contatar uma agência imobiliária para alugar casa, de preferência mobilada, pronta a habitar. Mais tarde, com tempo, compraria minha própria casa.

Contratar empregada. Babá não seria necessário. Caso Sílvia não quisesse continuar trabalhando para mim, eu dispensaria os serviços de uma babá.

Assim que estivesse instalada numa nova casa, mandaria buscar as minhas coisas e as de Mariana. Basicamente eram roupas, joias e brinquedos. Nada de complicado.

Por último, ir buscar a minha filha na fazenda. Estava na hora das férias terminarem, de nossa nova vida começar.

Só depois de ter tudo organizado, eu me daria ao luxo de chorar. Chorar tudo. Chorar até secar as lágrimas e não haver mais lágrimas para derramar. Prometi a mim mesma que nunca mais iria sofrer por causa de homem. Estava oficialmente vacinada contra os homens. Amor e paixão era coisa do passado. O futuro seria apenas prazer.

Homem não ama. Essa era a verdade nua e crua. Uma verdade que eu conheci toda a vida. Como eu pude me iludir? Acreditando no seu amor, na sua entrega, na sua promessa implícita de um "felizes para sempre", como nos contos de fadas. Para quê me fazer sentir tão feliz e amada, para depois me enganar e fazer sentir tão miseravelmente infeliz?

Felizmente, a azáfama da mudança anestesiou o meu sofrimento. Focada em restruturar a minha vida, consegui evitar que a tristeza, a dor e o desalento me destruíssem. Pelo menos durante o dia. A noite era outra história. Mas não derramei uma única lágrima. Precisava de canalizar toda a minha energia no refazer da minha vida.

A reunião com o advogado foi rápida. O processo de divórcio seria simples. Simão e eu casámos em regime de separação total de bens. Não havia partilha de bens para empatar o processo. Só não seria um divórcio extrajudicial porque Mariana era menor. Um juiz teria que aprovar os termos relativos à guarda, visitação e pensão alimentícia. A pensão da pipoquinha era uma mera pró-forma, obrigatória por lei. Eu não precisava do dinheiro de Simão para nada.

A procura de casa também foi fácil. Optei por um condomínio na Barra da Tijuca. Assim, teria portaria e segurança garantidas 24 horas. A sua localização também me facilitava a vida com a pipoquinha, pois ficava mais próximo da sua escolinha. Não teria de andar para trás e para a frente, aos ziguezagues entre casa, creche e escritório.

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