Olhei para o celular quando tocou. Na esperança que fosse Inês. Não era. Era Natália. Deixei ele tocar até que ela cansou e desistiu. Os outros já me olhavam, um tanto incomodados. Estava almoçando com meus irmãos e os meus cunhados César e Pedro.
O clima estava meio que pesado. Madu, a noiva de David, sofreu um aborto espontâneo. Uma merda. Todo mundo ficou consternado. Ao mesmo tempo havia no ar uma espécie de alívio. Todos pensámos que era a oportunidade para meu irmão desistir desse casamento.
Para nosso espanto, David não estava querendo desistir. Falou que cancelar o casamento nesta altura do campeonato seria injusto para Madu. Os convites inclusive já tinham sido enviados. Ela já estava na pior fossa pela perda do bebê. Para quê piorar?
Eu achava uma idiotice ele não cancelar o casamento. Não era o único a pensar que ele devia aproveitar para cair fora daquela furada. Apenas minha mãe julgava que o casamento o iria ajudar a esquecer a outra moça. Eu não acreditava muito nessa possibilidade. Além de ele continuar apaixonado, ela estava grávida dele. Esse pormenor não dava para esquecer. Nem dava para superar. Saber que um filho ia nascer e provavelmente nunca o iria conhecer. Era fodido.
Meu celular tocou de novo, interrompendo a conversa na mesa. Natália outra vez. Aborrecido, recusei a chamada. Farto da insistência dela. Me ligou um milhão de vezes desde domingo. Não atendi nunca. Era difícil para ela entender que eu não estava a fim de papo?
Tomaz olhou de relance para o meu celular, chateado.
- Natália? - franziu a testa, estranhando.
- Deselegante espreitar o celular dos outros. - respondi azedo.
- Deselegante ter o celular tocando na mesa. - ripostou aborrecido, sem me olhar - Pelo menos ponha essa merda a vibrar.
Mudei mas mantive o celular em cima da mesa. Tinha certeza que hoje a diabinha entraria em contato comigo. A certeza absoluta.
César e Pedro ficaram de antena ligada quando ouviram falar no nome de Natália. Os dois me olharam desconfiados, com suspeita. Especialmente Pedro. Para ele, Natália era sinônimo de sexo.
- Anda pulando a cerca? - sorriu-me cínico.
- Não. - fui franco.
Não contestou mas também não pareceu ficar muito convencido. David acabou explicando o que aconteceu. Eu contei o resto.
- Puta merda! - Pedro largou uma gargalhada - Está fodido, cara. Minha irmã vai atazanar você até à inconsciência.
- Caraca! - Tomaz também riu divertido.
Fuzilei-o com o olhar.
César foi o único que não achou graça a toda a situação.
- Inês alugou casa? - olhou-me preocupado - Merda ... Então vai ser difícil convencer ela a voltar para você.
- Não. Não vai ser difícil. - garanti tranquilo.
David trocou de olhar comigo. Meu irmão conhecia os motivos da minha autoconfiança mas não abriu a boca.
- Ah! Não se preocupe, César. - Tomaz falou despreocupado - Inês depressa vai entender que foi tudo um mal-entendido.
- Mas já conseguiu falar com ela? - César perguntou-me.
- Ainda não ...
Ainda não tinha conseguido falar com Inês desde domingo mas eu tinha certeza que hoje a gente ia conversar. E se acertar.
- Se quiser eu falo com Inês. - César sugeriu-me - Eu vi Natália com Wagner. Ela estava esperando por ele quando nós terminámos de jantar. David também viu.
- Obrigado, César. Não é preciso.
Eu dava conta do recado. Do meu jeito.
A verdade é que eu estava danado com Inês. Nunca atendeu as minhas chamadas. Recusou me receber no hotel onde se hospedou. Durante o dia, nunca consegui ir atrás dela. Os últimos três dias foram complicados, repletos de reuniões importantes e assuntos inadiáveis. Os negócios simplesmente não podiam parar, ficando pendentes de uma crise familiar. Tentava falar com ela entre reuniões. Fui todas as noites no hotel, lá no Leblon. Me ignorou sempre, deixando-me cada vez mais irritado e chateado.
Eu até compreendia que ela estivesse confusa. Pensando o pior. O que não entendia era a sua atitude infantil. Se recusando a dialogar. Se recusando a me ver.
A minha paciência esgotou-se quando recebi os papéis do divórcio no escritório. Claro que não foi uma surpresa receber a papelada. Sabia perfeitamente o que ela andava aprontando. Alex manteve-me sempre informado das andanças dela. Por isso, os papéis do divórcio não foram surpresa nenhuma.
Surpresa ia ter a diabinha.
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Quer pagar pra ver? Volume II
ChickLitPara Inês, descobrir que Simão sempre a amou é um sonho tornado realidade. Para Simão, descobrir quem anda assediando Inês com as mensagens anônimas torna-se a grande prioridade. A verdade é desvendada e eles finalmente podem viver em paz. Mas nem t...