Capítulo 29 - Inês

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Jorge desviou o olhar do laptop e mirou-me surpreso, em silêncio. Admirado por me ver ali. Hipnotizado pela minha imagem produzida. O olhar masculino percorreu-me lentamente o corpo, de alto a baixo, apreciador.

- Não está de férias? - perguntou-me por fim.

- Não vim trabalhar ...

- Não? - franziu as sobrancelhas, desconfiado.

Tentei sorrir sedutora. Conhecia de sobeja o poder do meu sorriso irresistível. Sabia o efeito que ele causava nos homens. No entanto, não sei porquê, saiu um sorriso xucro, desajeitado. Estava nervosa. Surpreendentemente, fiquei sem jeito, parecendo uma adolescente inexperiente, trilhando os primeiros passos na arte da sedução.

Então disparei de chofre, antes que perdesse a coragem.

- Está a fim de me comer?

Jorge arregalou os olhos, ainda mais surpreso, com um ar de quem não acreditou ter escutado bem. Se recostou na cadeira, sem ação. Sem tirar os olhos do meu corpo, também. Estavam vidrados no meu decote generoso. Só faltava babar ...

- Você falou mesmo o que eu ... penso ter escutado?

- Falei ...

Incrédulo, acenou a cabeça em negação, num movimento quase imperceptível. Os olhos semicerrados. O sobrolho franzido. A dúvida e perplexidade estampadas no rosto.

- Não. - murmurou.

- Falei sim. - repeti, me esforçando por entoar uma voz quente e sensual, para que ele não tivesse dúvidas.

O aceno de cabeça tornou-se mais explícito.

- Não ... não estou a fim. - esclareceu.

- Não!?

Meu queixo caiu.

Foi a minha vez de esbugalhar os olhos, espantada. Puta merda! Por essa é que eu não esperava. Ele sempre foi interessado em mim. O meu espanto foi tão grande que nem senti constrangimento por estar me oferecendo desfrutável e ele me rejeitando.

- Não me quer?

Fitou-me com um ar desconfortável, esticando o pescoço como se estivesse com algum torcicolo. Engolindo em seco, como se tivesse alguma coisa entalada na garganta.

- Querer ... querer ... eu quero, porra! - bufou forte, numa careta de frustração - Mas ... merda! Não dá!

- Não? - repeti incrédula - Me paquerava o tempo todo.

- É ... mas isso foi antes de conhecer o grandalhão do seu marido.

- Vocês se tornaram amigos? - indaguei aparvalhada.

- Não ... mas não quero que a gente se torne inimigo.

- Hã?

- Ah Inês! Além de grandalhão, seu marido é um homem influente. Bem capaz de me foder os negócios, levar minha empresa à falência, se descobrir que eu ando comendo a mulherzinha dele.

- Sério!?

- Sério ... - suspirou frustrado - Não posso correr esse risco, não.

Por amor da Santa! Essa não! Tudo menos isso! Me dissesse que não me achava gostosa, que não sentia mais tesão por mim, que não estava mais a fim de mim por estar ligadão noutra mulher. Tudo isso eu entenderia. Agora ... por causa de Simão?

Puta que pariu!

Como era possível? Como era possível os tentáculos de domínio e poder de Simão chegarem até aqui? E sem ele mexer um dedinho? Meu! Assim também era demais!

Senti o calor da fúria me dominar. Tive de respirar fundo para não explodir e enxovalhar Jorge. Mesmo assim, minha língua se soltou viperina.

- Cobardolas! - ripostei despeitada - Bom, se não me quer comer, vou à procura de quem queira. Bom fim de semana!

Virei costas e saí em passo apressado. Sem entender muito bem se me sentia humilhada com a sua rejeição, se me sentia aliviada por ele me ter rejeitado.

Mas minha frustração era grande.

Eu queria muito me vingar de Simão. Eu precisava me vingar dele para conseguir respirar em paz, manter a minha mente equilibrada. Não era apenas uma questão de orgulho. Era uma questão de justiça, de honra. Uma questão de "estamos quites", foda-se!

Simão, além de me trair, ainda me forçava a permanecer amarrada naquele casamento tóxico, com as suas chantagens. A minha revolta era tão grande, me corroía tão ácida que, se eu não conseguisse me vingar dele, ainda arranjava uma úlcera no estômago.

Jorge era o candidato ideal a amante. Gostosão, um belo pedaço de mau caminho. Simpático, divertido, apenas interessado em sexo. Não era um estranho. Não fazia parte dos círculos da elite carioca. Principalmente, estava disponível de 2ª a 6ª feira para uma rapidinha durante o dia ... Poxa! Ele era o amante perfeito.

Droga!

Nem parei para me despedir dos colegas e meninas da recepção. Atirei para o ar um "bom fim de semana" desanimado e saí porta fora. Eles também mal me responderam. Desde que entrei que todos se comportaram de maneira muito estranha comigo. Talvez intrigados com a minha presença ali, estando eu de férias, se indagando o que eu queria com Jorge.

As portas do elevador já estavam fechando quando vi surgir um braço, impedindo que fechassem.

Era Jorge.

Entrou e se encostou na outra parede, em frente a mim. Fitou-me com um olhar pesado.

- Que se dane! - falou.

Meu coração disparou desgovernado, num frenesim de nervos e excitação. Nervos pelo que a sua presença e palavras significavam. Excitação por a minha vingança afinal ir ser consumada.

- Vamos no meu carro ou no seu?

- Cada um no seu. - murmurei.

Estranhou mas não comentou.

- Algum hotel seu preferido?

Acenei que não com a cabeça. Não queria ir para nenhum hotel. Eu desisti do divórcio mas não desisti da casa alugada no condomínio. A casa seria o meu refúgio ideal. O palco perfeito dos meus pecados. O templo sagrado onde consumar a minha vingança. O altar onde a testa de Simão seria divinamente sacrificada.

Ele me enganava? Me chantageava? Me fazia de trouxa?

Pois bem, eu ia fazer ele de corno também.


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