Capítulo 4 - Inês

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Me mirei no espelho, vaidosa. Vaidosa e feliz. Me sentindo muito bonita e maravilhosa. O longo vestido branco de alças fininhas, com uma fenda lateral desde a coxa, realçava minha feminilidade, fazendo sobressair a minha pele de um bronzeado dourado e os meus cabelos cor de areia.

Um colar de fio fininho em camurça pendendo até minha cintura e uma sandália rasteirinha de dedo em cor caramelo conferiam a meu visual elegante aquele pormenor alegre e despojado que eu gostava. Peguei nos óculos escuros redondos e na bolsa de crochê da D&G e saí correndo, com minha alma transbordando de energia positiva e felicidade.

Hoje acordei especialmente animada, cheia de uma energia boa. Num perfeito estado de nirvana, decidida a romper de vez com o ciclo de sofrimento e angústia dos últimos tempos. Decidida a ser feliz. Esquecer a porcaria das mensagens e quem, por ventura, estivesse por detrás daquela sacanagem, independentemente quem fosse a culpada.

Mesmo que fosse minha mãe eu não ficaria abalada porque hoje eu despertei decidida a me manter feliz e inabalável. Resoluta a me focar no que era verdadeiramente importante. Desfrutar das coisas maravilhosas que a vida me oferecia. Simão, esse amor que eu tanto almejei, a minha filhotinha linda, a família e amigos que me eram queridos e nos queriam bem, as amizades por descobrir e florescer. Tudo o mais era insignificante.

Amar e ser amada. Isso sim, era uma bênção da vida.

Sorri ao recordar o momento delicioso desta noite. Quando Simão regressou, eu já estava dormindo. Despertei quando ele se enfiou na cama e me aconchegou no seu abraço forte e protetor. Eu permaneci de pálpebras fechadas e Simão pensou que eu dormia. Então ouvi a sua voz sussurrar junto de minha cabeça.

- Te amo diabinha ...

Suspirei profundamente e belisquei com força a minha bochecha. Só então Simão deu conta que eu estava desadormecida.

- Que tá fazendo? - estranhou.

- Me beliscando ... - respondi sonolenta, mantendo as pálpebras fechadas - Para ter certeza que não estou sonhando ...

- Tontinha ... - riu baixinho.

Meu corpo foi suavemente sacudido pela sua risadinha.

- Resolveu seu problema?

- Sim.

- Ah, que bom ... - suspirei sussurrante, me deixando cair de novo no sono.

- Vai ficar tudo bem, diabinha ... te prometo.

Foi a última coisa que escutei. Adormeci sorrindo, embalada por sua voz rouca e forte, pelas suas palavras confiantes. Tranquilamente aninhada naquela promessa e no calor de seus braços.

A pipoquinha já estava pronta, me esperando de mãozinha dada na Sílvia. A mochilinha nas costas. Fui logo pegando nela, comendo ela com muito beijinho. Minha filhota retribuiu da mesma maneira, lambuzando feliz a minha cara toda.

- Oieee meu amor!

- Oieeeee!

- Ai, coisa boa da mãe! - apertei-a bem apertadinha.

Ele lá tinha coisa mais linda que meu querubim? Coisa mais fofinha do que escutar a sua vozinha de bebê?

- Não vai tomar o café da manhã? - Celeste me repreendeu de um jeito meigo quando me viu pegar em Mariana, pronta para sair porta fora.

- Não, estou de dieta! - gracejei, atrasada como sempre.

- Pular o café da manhã não faz emagrecer. - admoestou - E quem disse pra você que tá gorda, hein?

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