- Tem certeza?
- Tenho, sim. - Alex respondeu convicto - Acabaram de entrar no complexo de condomínios. Os dois carros.
Fiquei hirto. Em silêncio. A minha mão quase esmagando o celular. Um frio glacial invadiu-me, dilacerando cortante numa dor absurda. Sustive a respiração, completamente petrificado. Ferido de morte. Quando finalmente inspirei o ar, senti um frenesim tumultuoso de emoções ruins crescer descontrolado dentro de mim. De repente, meu sangue pareceu acelerar em minhas veias, fervendo e ebulindo desnorteado.
Era raiva, incredulidade, fúria, revolta, muita dor e desespero mas sobretudo negação. Recusa em aceitar que Inês fizesse tal loucura. Como se a minha recusa de algum modo impedisse isso de acontecer. Me trair por vingança? Inês não podia fazer isso comigo. Não podia. Ela não podia me ferir desse jeito, me apunhalar assim tão feio.
Foda-se! Ela me amava. Eu não tinha dúvida dos sentimentos dela. Ela me amava louca e apaixonadamente. Como ela tinha coragem de deitar tudo a perder, destruir deliberadamente a nossa relação, a nossa família? A diabinha não podia fazer isso comigo! Ela não podia! Me trair por vingança?
Precisei de uns segundos para me controlar e conseguir falar.
- Me aguarde aí. - falei gélido, com voz metálica, sem denotar nenhuma emoção - Dê um jeito pra eu entrar lá sem problemas nem demoras.
- Sim, senhor.
Desliguei e saí esbaforido, cego de um ódio nunca antes sentido. Um ódio contra ninguém em especial. Um ódio contra o mundo e a ideia do que podia estar acontecendo naquele preciso momento. Sabendo que ela agia por desforra, mera revanche, por uma estúpida e injustificada vingança.
Corri para o carro com a cabeça zoando aturdida, num zunido ensurdecedor como se tivesse sido atingido por um soco violento. Todos os músculos de meu corpo doendo de tão rígidos. A garganta subitamente muito áspera de tão ressequida. Quase não conseguia engolir a saliva. Na boca, um gosto insuportável a fel.
Percorri a Avenida das Américas numa velocidade furiosa, sem ver a estrada, os carros ou os semáforos. A única coisa que eu via na minha frente era a imagem da diabinha. A imagem do seu rosto belo e exótico de menina-mulher. A menina sapeca, rebelde e impetuosa. A mulher apaixonada e sensual. O rosto que me conquistou para a vida, assim que pousei os olhos nele.
Dirigi o caminho todo visualizando aqueles olhos lindos de safira. Enormes e expressivos, me desafiando sedutores e convidativos. Guiado pelo seu sorriso belo e contagiante, de tão alegre e luminoso. O tempo todo falando em voz alta, como se estivesse falando com ela, repetindo desesperado as mesmas palavras, como um mantra.
- Não faz isso comigo ... Não faz isso comigo ...
Cheguei lá em menos de oito minutos. Alex aguardava, encostado no carro. Assim que me viu aproximar, entrou de imediato no carro dele e arrancou, conduzindo-me até àquela casa maldita. Não tive de parar no controle da portaria. Segui direto.
A fachada principal da casa via-se da estrada, ladeada de palmeiras imperiais. Um extenso jardim gramado na frente, sem muros nem vedação. O Volvo estava estacionado na ladeira de acesso à garagem. Ao lado dele um BMW X1 azul metalizado.
Senti um calafrio de morte.
Quis gritar. Uivar de dor. Fazer tremer a terra e o céu com a minha revolta, explodir a minha fúria e dor. Em vez disso quase arranquei o volante, tal a força desmedida com que o segurava.
Estacionei ao lado dos outros carros e saí. Alex deixou o carro dele na estrada e apressou-se a vir ter comigo.
- Quer que o acompanhe?
- Não. - respondi baixinho - Pode ir embora.
A partir de agora era comigo. Só comigo.
Olhei para a casa, ganhando coragem para avançar e enfrentar a realidade, por mais dolorosa que ela fosse. Consciente que era o fim. Eu nunca iria perdoar a diabinha. Nunca.
Caminhei lentamente. Agora que aqui estava, estava sem pressa. Sem pressa para ver o inevitável. As minhas pernas pesando chumbo. Me arrastei lento mas decidido a enfrentar o pior dia da minha vida. Cada passo dado em frente, o aperto em meu peito aumentava mais, me comprimindo em agonia.
Contornei a casa em direção às traseiras. Conhecendo a diabinha como eu a conhecia, ela de certeza que não ativou o alarme. Bastava partir um vidro de alguma porta ou janela para entrar.
Entrar e flagrar.
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Quer pagar pra ver? Volume II
Chick-LitPara Inês, descobrir que Simão sempre a amou é um sonho tornado realidade. Para Simão, descobrir quem anda assediando Inês com as mensagens anônimas torna-se a grande prioridade. A verdade é desvendada e eles finalmente podem viver em paz. Mas nem t...