Capítulo 26 - Inês

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Gritei uma "boa-tarde" toda mal-humorada, passando por Paula e Rita sem parar. As duas ficaram assarapantadas quando me viram caminhar, chinelando em passo duro até à sala de Simão.

- Inês, ele está em reunião! - Paula ainda me advertiu.

Não quis saber. Abri a porta de rompante e entrei.

Estava acompanhado de David e por outros dois executivos que eu não conhecia. Reunidos na mesa redonda de vidro, no lado oposto aos imponentes sofás de couro preto.

Pararam de conversar, admirados com a interrupção.

Simão e David viraram a cabeça em simultâneo. Ambos de testa franzida. Os dois com expressão aborrecida por serem interrompidos. Um irmão parecendo o espelho do outro. Quando viram que era eu, Simão simplesmente desviou o olhar. David fechou calmamente a sua agenda organizer e levantou-se.

- A gente continua numa outra hora. - decidiu.

Os outros dois olharam meio confusos para Simão que concordou com um ligeiro aceno de cabeça. Apressados, pegaram nos laptops e também se levantaram.

Ao passar por mim, David inclinou-se para me beijar na face.

- Vai com calma, baixinha ... - sussurrou-me.

Fitou-me sério, por uns segundos, com o olhar negro penetrante, como se me avisando para ter cuidado. Depois, sem falar mais nada, seguiu tranquilamente para fora da sala.

Simão foi o último a erguer-se, dirigindo-se calmamente para a sua mesa, junto da parede envidraçada. De passagem, os outros dois me cumprimentaram com um aceno de cabeça, olhando com indiscreta curiosidade para a minha indumentária.

Danada de raiva, nem me dei ao trabalho de trocar de roupa. Vim mesmo como estava. Shorts de sarja branca, chinelo havaianas no pé, e uma blusa regata de tecido acamurçado, com cavas bem decotadas e franjas compridas na barra. Bem pouco convencional para aquele ambiente de escritório tão chique e formal.

Assim que os dois funcionários saíram, fechando delicadamente a porta atrás deles, eu aproximei-me furiosa de Simão, determinada a confrontá-lo.

Estava já descontraidamente encostado na beirinha da mesa, com as pernas compridas esticadas e os pés cruzados. As palmas das mãos assentes na borda da mesa. Naquela pose, as calças de uma bonita cor de carvão e de corte ajustado, evidenciavam o generoso volume entre as suas pernas. O colete do terno, abotoado sobre a camisa azul céu, modelava na perfeição o tronco alongado e definido, realçando os ombros largos e o porte atlético.

Como sempre, primorosamente elegante no seu estilo sofisticado. O rosto anguloso imperturbável. O olhar azul índigo me seguindo frio. Todo ele emanando atitude e confiança. Uma forte energia de poder. Seguro de si mesmo e do seu poder carismático. A imagem perfeita de homem no apogeu da sua beleza e autoridade masculina.

Céus! Como o desgraçado era lindo ...

Um arrepio violento trespassou-me o corpo e eu quase me perdi, esquecendo o meu propósito, sucumbindo à minha eterna paixão. Subjugada pelo desejo, dominada pela tentação que o pulha sempre despertava em mim.

Fiquei toda agitada e alvoroçada. O coração palpitando feito uma adolescente idiota. Irritando-me comigo mesma por não conseguir ser indiferente a ele. Reagi chateada, jogando o envelope em cima da mesa dele, num gesto rude.

O interpelei numa voz ainda mais rude, tentando disfarçar o meu estado bagunçado, escondendo as minhas fraquezas, reprimindo os meus sentimentos. Mostrando apenas o meu desagrado e raiva.

- Que porcaria é essa?

Desviou lentamente o olhar para o envelope e retornou impassível ao meu rosto, me respondendo tranquilo.

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