Capítulo 38 - Simão

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Observei David. Estava preocupado com meu irmão. Ultimamente ele andava mais tenso e nervoso. De semblante sempre carregado e azedo. Inconformado e amargo. Parecendo odiar o mundo.

Sabia a razão. Diana continuava desaparecida. Todas as buscas e investigações seguindo infrutíferas. O tempo passando e nada. David não desabafava mas eu sentia que ele andava desesperado. Em breve a criança nasceria. Seria pai. E nem saberia se era menino ou menina. Isso, se a garota não tirou o bebê. Havia essa possibilidade também. Viver nessa ignorância estava empurrando meu irmão na beira de um precipício.

A mim me enfurecia ver o sofrimento de meu irmão e me sentir impotente para ajudar.

Estendi-lhe o copo de café e tirei outro para mim. Virou costume nos encontrarmos ainda de madrugada no escritório e bebermos o primeiro café expresso juntos. O escritório ainda deserto. Apenas as faxineiras cirandando aqui e ali, efetuando a limpeza antes da hora de expediente.

Normalmente falávamos de trabalho. Aproveitando para decidir juntos alguns assuntos, acertar ideias sobre outros.

- Já viu o vídeo da maquete do resort subaquático?

O e-mail tinha chegado ontem de noite. O projeto de engenharia e tecnologia subaquática desenvolvido por uma empresa europeia.

David assentiu.

- Que achou? - perguntei.

Deu um gole no café, antes de responder.

- O projeto é megalómano ... com impacto ambiental. Não vamos conseguir obter licença para construir.

Era a minha opinião. Na zona onde pretendíamos obter a licença, não tinha área livre de recifes suficiente para construir um resort nas dimensões que o consórcio árabe ambicionava.

A ideia era construir sem impactar o ambiente e a vida marinha. Depois, implantar recifes de coral artificiais em entorno do resort e deixar a mãe natureza fazer o resto.

- Os custos também são astronómicos, mesmo em parceria com os árabes. - fez uma pausa, refletindo prudente - Ainda afundamos a Paradisum.

- É ... mas podemos pegar no projeto atual e estudar alterações que sejam comportáveis a nível financeiro e ambiental. Quer ver isso agora? Ou vai estar muito ocupado?

- Tudo bem. Vamos lá.

Os dois estávamos entretidos, parecendo dois garotos brincando e sonhando com a ideia do resort, quando Paula ligou.

- Sua mãe está aqui. - anunciou.

Nem tive tempo de dizer para mandar entrar. A porta abriu e dona Maria Luiza entrou, sorridente e elegante.

- Oi, meus amores!

Se inclinou sobre David e beijou-o carinhosa na testa, como se ele ainda fosse um menino. Fez o mesmo comigo.

- Temos alguma reunião agendada? - perguntei sério.

Por vezes nos reuníamos para tratar de assuntos relacionados com as Fundações. Mas não tinha nada marcado na agenda.

- Não ... - sorriu-me doce - É uma visita de mãe, mesmo.

- Hum ... - franzi ligeiramente a testa.

- Precisamos ter uma conversa de mãe pra filho.

Mau! Fechei a cara.

- Estamos trabalhando, dona Maria Luiza. - avisei.

- Prometo que não vou tomar muito do seu precioso tempo.

Assegurou com um sorriso encantador mas instalou-se no outro cadeirão, ao lado de David. Meu palpite foi que a conversa seria longa e que eu não gostaria do assunto.

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