Quer pagar pra ver? Volume II

Capítulo 3 - Simão

Despertei com Inês me contemplando de um jeito tão apaixonado que minha pele arrepiou. Um sorriso meigo bailava timidamente nos seus lábios voluptuosos.

- Nossa, acordou antes de mim ... Que deu em você?

- Bom dia ... - ronronou rouca, depositando-me um beijo no peito, subindo depois por mim acima, olhando-me como se mendigasse meus beijos.

Beijei com prazer, deixando-lhe a boca e o queixo avermelhados da minha barba despontando rija.

- Dormiu bem?

- Como um anjinho ...

Verdade. Desde esta madrugada que a minha diabinha parecia um autêntico anjinho. Um anjinho doce e lindo. A minha alma estava parva com o poder mágico de certas palavras. Até tive medo de sentir saudade daquela outra diabinha que adorava me infernizar.

Medo infundado. Em três tempos Inês estava igual a ela mesma e eu sosseguei mais tranquilo quando ela bateu o pé, insistindo em não querer nenhum segurança atrás dela como uma babá. Ameaçou e xingou Alex, prometendo fazer a vida negra ao pobre coitado.

Eu fingi acatar sua exigência e dispensei Alex. Inês ficou toda feliz com a sua vitória. Alex suspirou de alívio. O homem quase agradeceu quando trocou de serviço com um outro segurança lá do escritório. Um segurança que a diabinha não conhecia. Sem proteção é que ela não ficava. Pelo menos, enquanto não descobríssemos quem andava maquinando toda aquela sacanagem.

Eu continuava cismado com Rita, com grandes suspeitas de ser ela a informar a minha rotina para alguém. Era muita coincidência junta para ignorar. Exceto daquelas duas vezes, todas as outras mensagens coincidiam com os meus compromissos à noite. Na noite da gala e na noite em que eu fui ter com Tomaz podia ter sido um cúmplice dela a dar conta do serviço. O tal homem que pagou à putinha para obter fotos de David, insinuando que era eu na farra. Isso significava que alguém espiava os movimentos de nossa casa.

Ronaldo e um outro segurança visualizaram minuciosamente as imagens de videovigilância captadas nas imediações da propriedade, em busca de qualquer movimentação suspeita. Não levaram muito tempo a identificar a presença de um Chevrolet Onix preto em várias noites. Umas vezes rodando a baixa velocidade, de faróis desligados, outras vezes parado fora da estrada, em locais diferentes, escondido pelo arvoredo. Uma das imagens era da noite em que fui ter com Tomaz. Iniciou a marcha logo que meu carro passou. Só ligou os faróis quando ficou fora do alcance das câmeras. Me seguindo.

Infelizmente, em nenhuma das imagens se conseguiu perceber a placa de identificação nem os ocupantes. Mas eu tive a certeza que quem lá ia dentro fazia parte do esquema.

Voltei a contratar o primo de Alex, o detetive, para ele investigar a Rita e o irmão, os maiores suspeitos. Enviei a ficha de funcionária de Rita para ele.

Quanto a Rita, eu tinha de a testar. Enredar ela numa armadilha. Marquei na agenda do Outlook um jantar com Tomaz e Pedro para a noite seguinte. Sendo a secretária da administração, Rita tinha acesso à minha agenda, tal como às agendas de David e César. Para melhor chamar a sua atenção, pedi a ela para reservar uma mesa para três pessoas no meu restaurante favorito.

Eu e David saímos juntos do escritório. Na garagem trocámos de paletó e de carro. David foi no meu Bentley. Eu no Mercedes cabriolet dele. David foi direto no restaurante. Eu direto para casa. Entretanto, Pedro e Tomaz foram ter ao restaurante. Todos nós esperando que a nossa encenação desse resultado e confundissem David comigo.

Em casa, eu e Inês ficámos esperando, sentados na sala, olhando fixamente para o celular em cima da mesa de centro. Inês recostada no sofá, com as pernas cruzadas, enrolando distraída uma ponta do cabelo, mexendo sem parar os dedos dos pés, naquele seu tique nervoso. Eu parecendo uma estátua. Inclinado para a frente com os braços apoiados nas pernas afastadas. Os punhos cerrados fazendo pressão um no outro. As veias saltadas e os nódulos esbranquiçados dos dedos denunciando a minha tensão.