Capítulo 17 - Inês

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A viagem toda foi uma grande emoção. Uma aventura fascinante. Adorei tudo. Não conseguia eleger meu parque natural favorito, meu país preferido. Em todos eles, vivi momentos únicos e inesquecíveis. Cravadas para sempre em minha memória e coração, as imagens e as emoções dos momentos mais especiais.

A surpresa inesperada de encontrar rinocerontes logo no primeiro safári, no Lago Manyara. Uma fêmea com um filhote bebê. No sopé da montanha, mesmo onde terminava o enorme vale. Dirigindo-se para a densa vegetação, em busca de esconderijo. Eu e Simão fomos ao rubro. Dos famosos big five, os rinocerontes, apesar de grandes, eram dos mais difíceis de avistar, por serem muito tímidos e arredios. Ao contrário dos babuínos que deambulavam em bandos gigantescos ao longo da estrada de terra, na densa floresta da montanha.

Difícil imaginar final mais feliz para um passeio que nos encantou com a sua imensidão de flamingos rosa, os grous e tantas outras aves. Os hipopótamos no lago. As pequenas manadas de búfalos, zebras e gnus pastando pelo meio das colónias de aves. Onde nos deliciámos também com uma família de elefantes, rolando esponjados e felizes num charco de lama.

O encanto de ver um bando de leões juvenis correndo e brincando entre eles, cheios de energia, numa colina verde junto da estrada, quando descíamos para a cratera de Ngorongoro, enquanto as mães leoas ainda bocejavam e se espreguiçavam sonolentas, na beira da estrada, mesmo ao lado do jipe. Uma delas acabou se erguendo e se aproximou, curiosa com a gente. Tão próximo que dava vontade de esticar o braço e fazer uma carícia na cabeça dela. Linda, parecendo sorrir. Os olhos de um âmbar dourado muito claro.

No imenso vale da cratera, o jipe parando para dar passagem às manadas de gnus e zebras. Uma das vezes, vindo logo atrás de uma manada de gnus, um verdadeiro exército de hienas. Aproximando-se em passo tranquilo, atravessando a estrada pela frente e por detrás do jipe. Eram mais de vinte hienas. Indo no encalço da manada, talvez para uma caçada. Caçada que não vimos acontecer. Assim como não vimos a caçada dos leões.

Quando os encontrámos, eles já estavam se banqueteando com o búfalo. Empanturrados já. O leão já estava deitado de lado, de barriga cheia, pronto para dormir. Algumas hienas movimentavam-se por perto, agitadas e ansiosas. Aos guinchos, numa espécie de risada. Esperando sua chance de chegar nos despojos. Para meu delírio, duas das leoas resolveram descansar na sombra do nosso jipe. Os focinhos ainda sujos de sangue fresco. Esfregando carinhosamente as cabeças uma na outra e lambendo-se para limparem o sangue.

A paisagem única e de encantar das árvores baobás em Tarangire. Árvores milenares e fantasmagóricas, salpicando de beleza e magia aquele paraíso. O paraíso dos herbívoros. Por todo o lado, ladeando os trilhos, manadas de elefantes, zebras e gnus, famílias de girafas e javalis, multidões de impalas, gazelas e springbocks. O jipe parando, vezes sem conta, para lhes dar passagem. As girafas atravessando em passadas tranquilas. Os elefantes, com os mais pequeninos no meio deles, também cruzavam calmamente. Mais nervosas, as zebras e os gnus atravessavam rápido, quase a trote. As impalas e gazelas dando saltos, parecendo voar para as ervas no outro lado do caminho.

Tarangire foi muito especial, oferecendo-nos momentos mágicos. Como aquele em que ficámos uma eternidade de tempo ao lado de um gigantesco elefante, escutando-o bramir docemente enquanto arrancava ramos de folhas e comia. Tão perto que víamos o detalhe dos longos cílios e a cor castanho-avermelhada do seu olho. Solitário, aquele gigante parecia estar tendo tanto prazer na nossa companhia quanto nós na companhia dele. Mas a verdadeira magia aconteceu quando descobrimos um bando de leoas empoleiradas em cima de uma acácia. Dormindo tranquilas, escarranchadas sobre os grossos ramos, com as patas penduradas no ar. Uma verdadeira delícia.

Aquele momento único e arrebatador ao entardecer no Serengeti, quando o guia parou o jipe no meio da planície e nos convidou a olhar a paisagem em nosso redor. Olhando em qualquer direção, a planície estendia-se plana e infinita, a perder de vista no horizonte. Parecia que não havia nada naquela imensidão, além de nós. Mas bastava um olhar mais atento na paisagem de capim amarelo para perceber que fervilhava de vida.

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