Capítulo 36 - Inês

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"Você é minha mulher. Vai dar pra mim sempre que eu quiser. Não vai se negar nunca, entendeu? Nunca!"

Adormeci com as palavras de Simão martelando na minha cabeça. Provocando arrepios de revolta e mágoa. Medo também. Revolta por me sentir encurralada nas suas exigências, obrigada a ceder aos seus desígnios. Sentindo a minha liberdade sendo roubada, o meu orgulho sendo aniquilado, a minha dignidade sendo esfacelada.

Pior era a mágoa e a dor. Ele não me amar o suficiente e me trair. Eu era sua mulher mas não era a única mulher da sua vida. Doía saber que eu não era o bastante para ele. Por uns efémeros momentos em minha vida pensei que fosse mas ... nunca fui. Agora eu sabia e doía. Era uma dor que corroía, minava e destruía tudo cá dentro.

Medo também ... medo de não resistir ao prazer do seu toque. Derreter toda apaixonada e melada em seus braços. Eu me conhecia. Era fraca de corpo e alma. Me perdia sempre que sentia as suas mãos, a sua pele, o seu cheiro, os seus beijos, o seu corpo. Amava me sentir mulher em seus braços. Nunca outro homem me fez perder a cabeça de paixão nem subir ao paraíso dos prazeres como Simão.

Na primeira semana, Simão nunca se aproximou de mim, exigindo seus "direitos de marido". Apenas exigiu que dormisse na nossa suíte. Eu protestei e esperneei, reclamando uma suíte só para mim mas ele foi irredutível.

Denise e Lili tiveram trabalho dobrado, levando de volta as minhas roupas e acessórios para o closet da nossa suíte.

Fiz greve de silêncio com Simão. Já que minha voz foi amordaçada de falar as minhas vontades, eu simplesmente me calei. Escondida numa carapaça de indiferença e desprendimento.

Na cama, virava as costas para ele. Ele se encostava em mim e me envolvia em seu braço. Me mantinha rígida e frígida. Por dentro ardia num fogo incandescente.

Só quando o inchaço do pé melhorou, a mão dele voltou a se enfiar entre as minhas coxas, me acariciando e preparando para o receber. Sua boca voltou a percorrer minha pele em carícias quase carinhosas. Quase todas as noites, a sua língua se perdia em minha barriga e umbigo. Os lábios nos meus mamilos. Os dedos em meu brotinho. Penetrava-me cuidadoso, sempre em posições confortáveis. O corpo ondulando suave sobre o meu. Calmamente. Os olhos azuis presos nos meus. Brilhando penetrantes, parecendo quase apaixonados.

Me comia sem pressa, sem conversa nem sacanagens sussurradas. Em silêncio e no escuro. No escuro da noite só se escutava o roçar dos nossos corpos e o som dos nossos gemidos quase inaudíveis.

Quando tudo terminava e Simão saía de cima de mim eu me virava logo de costas para ele. Ele insistia em se encostar e me envolver em seu braço. A sua mão aconchegando meu seio. Por vezes, quando me comia de conchinha, nem saía de dentro de mim depois do orgasmo. Adormecia com ele agasalhado dentro de mim.

Eu não queria que fosse bom ... mas era.

Então me odiava por me deleitar naquele mar de volúpia e prazer. Me sentir confortável naquele abraço aconchegante, adormecendo embalada no seu perfume masculino.

Lembrando o quão errado era tudo aquilo.

Nas noites em que ele chegava tarde ou ficava fora em viagem, eu me indagava se estaria se divertindo nos braços de outra mulher. Sentia raiva e ciúmes. Odiando a ideia de ser corna mansa.

Sabendo que não podia continuar vivendo assim.


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