Capítulo 31 - Inês

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Jorge olhou curioso em sua volta, admirando a sala que parecia se estender pelos jardins afora, com as paredes de vidro. Perscrutando tudo, observador.

- Quer beber alguma coisa? - perguntei, largando a bolsa em cima do sofá de couro branco.

- Não, obrigado. - declinou, aproximando-se de mim.

- Ainda bem que não quer! - ri-me nervosa, lembrando que não tinha nada para oferecer. - Não há nada mesmo ...

Agora que estávamos ali, a sós, eu me sentia nervosa e sem jeito, como se fosse meu primeiro encontro sexual. Quando se aproximou, eu me afastei dele, com o pretexto de ir abrir as portas de acesso ao jardim e desatei a falar, explicando que o bar e a geladeira estavam vazios. A casa era nova. Ainda não tinha feito compras nenhumas. Desistira da empregada e ainda não organizara nada. Falei à toa, sem parar, feita tagarela, de coisas que nada interessavam. Perante um Jorge quieto e calado, observando-me com um sorriso divertido nos lábios enquanto eu falava pelos cotovelos e cirandava sem graça pela sala, tentando afugentar meu repentino constrangimento.

Na verdade, retardando o momento.

Jorge percebeu meu nervosismo e relutância.

- Inês ... - interrompeu-me - Vem cá.

Fui. Fui ter com Jorge, com meu coração ribombando reprovador. Parei a dois passos dele.

- Tem certeza que quer fazer isto?

Fitou-me sério, dentro dos meus olhos, indagador.

Acenei que sim, decidida.

- De certeza? - insistiu.

A dúvida transparecendo em seu rosto.

Gostei da sua delicadeza. Ele estava mortinho para saltar em cima de mim. No entanto, percebia-se que estava preocupado comigo. Receoso de prosseguir e eu depois me arrepender. Eventualmente se questionando o porquê do meu convite. Provavelmente adivinhando o óbvio, que eu estava traindo meu marido por vingança.

Não. Eu não ia me arrepender.

- Tenho ... - murmurei - Tenho a certeza toda do mundo.

Deu um passo até mim, parando à minha frente. Alto, moreno, os olhos acinzentados varrendo lentamente o meu rosto. Num gesto calmo, envolveu-me a cintura, puxando-me devagarinho para ele. Senti de imediato o seu corpo rijo e sarado e deixei-me envolver no seu perfume agradável. Ele continuou fitando-me sério, como se me questionando se era mesmo para continuar. Respondi-lhe erguendo meus braços para me pendurar em seu pescoço e Jorge beijou-me de relance o braço.

Gostei da sensação do toque quente e firme dos seus lábios. A sua boca era bonita, tipicamente masculina, de lábios grossos e sensuais. Devia beijar bem. Devia ser gostosa de se beijar também.

Fechei os olhos e suspirei fundo, tentando relaxar, quando ele se inclinou em busca da minha boca. Mas as batidas de meu coração duplicaram em meu peito e involuntariamente meu corpo se retraiu quando nossos lábios se encontraram. Estranhei o toque, a textura, o gosto daqueles lábios diferentes. Meu coração explodiu como que contrariado, revoltado comigo e com o que eu estava fazendo.

Jorge percebeu a minha súbita rigidez e parou, erguendo a cabeça. Eu abri os olhos. Viu-o comprimir os lábios numa linha fina e abanar a cabeça num ligeiro aceno. Depois a linha dos lábios se desfez num sorriso tênue e ele falou baixinho.

- Você está muito tensa ... - comentou - Não parece estar a fim de trepar comigo.

- Só estou nervosa porque ... faz muito tempo que eu não estou com outro homem. É só isso ... - justifiquei.

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