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Capítulo Quarenta

Naquela mesma hora, Beatriz está terminando de se arrumar para a festa de Holly. Decidira usar o mesmo vestido plissado com que foi para o jantar onde sua tia foi pedida em casamento - aquela notícia ainda a deixa com um nó no estômago. Ela não sabe o que pensar desse plano insano de Ian de se casar com a tia dela, só para os dois continuarem com o caso deles.

Ela sai do quarto e passa pela sala, onde Mona está sentada no sofá com uma tigela de sopa e de camisola, assistindo ao jornal da noite. Ian não está com ela, trabalhando até tarde no escritório.

Mesmo vestida casualmente, ela ainda atrairia muitos olhares dos homens. Sua beleza é do tipo que não se consegue com maquiagem ou plásticas, mas que vem de nascença. E da qual Beatriz não tinha tido a sorte de puxar.

- Estou indo para a festa da Holly – ela avisa, antes de sair.

- Bia, espera – Mona coloca a tigela de sopa pela metade na mesinha de centro e se levanta do sofá – eu queria falar com você antes.

- O que foi? – ela pergunta com simplicidade. Espera que não seja nada de ruim.

Mona senta no braço do sofá, e aperta o rabo de cavalo loiro.

- É que, eu percebi que você não ficou muito... contente com o meu noivado com o Ian – ela fala sem demonstrar raiva, apenas preocupação – e eu queria saber o por quê.

Beatriz olha para baixo. Não sabia que tinha deixado tão óbvio sua aversão sobre esse casamento. Ela deve contar a verdade a ela? Que é porque ela está trepando com o seu futuro marido?

Nem pensar.

- É por que você acha que seus pais vão te levar para a África se souberem que vai ter um homem morando permanentemente aqui? – ela sugere, quando Beatriz não diz nada – porque eu posso conversar com eles. Não quero que você vá embora antes de terminar a escola e decidir morar sozinha. E você e o Ian se dão tão bem, tenho certeza que se seus pais o conhecerem, vão gostar dele como você.

Não se souberem o que ele anda fazendo com a filhinha deles. Pensa Beatriz, com amargor.

- Não tia, não é nada disso – ela fala, com a vontade de revelar a verdade na ponta da língua – é só que... – ela brinca com a alça da bolsinha dourada em seu ombro – vocês não namoram há muito tempo, não acha que é muito cedo para pensar em casar?

O rosto de Mona se suaviza quando ela percebe a preocupação da sobrinha com ela.

- Eu sei que é meio inusitado – diz Mona – que eu sempre disse que nunca me casaria, mas é que... Eu andei pensando muito sobre a minha vida ultimamente, e as decisões que eu tomei. Em como resolvi focar na minha carreira ao invés de formar uma família, como a sua mãe – ela olha para Beatriz, meio sentida.

Beatriz se lembra que ela costumava criticar a sua mãe por ter ido trabalhar na África ao invés de ficar com ela. “Se ela queria tanto salvar o mundo, por que formou família?”, era o que ela dizia.

- Eu já estou com trinta e dois anos – continua Mona – e nunca tive um relacionamento sério na minha vida. Acho que está na hora de sossegar e pensar em ter uma família – ela sorri com a ideia.

Beatriz paralisa ao ouvir isso.

- Você quer formar uma família com Ian? – ela tenta não soar tão chocada.

- Por que não? – ela dá de ombros – nós vamos nos casar, nós nos amamos, temos nossas carreiras, vamos começar uma vida juntos, e com o tempo, os filhos vão vir.

Beatriz não consegue olhar para a tia. Mona está mesmo apaixonada por Ian. Não, pior, ela o ama. Não é só um caso passageiro como Beatriz pensa. O que só aumenta o nó no seu estômago.