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Capítulo Um

É o primeiro dia de aula, e Beatriz está ansiosa, quando chega na escola, para reencontrar suas melhores amigas, depois das férias longas de dois meses longe delas. Beatriz era tímida e não tinha muitas amigas, e as duas únicas amigas que tinha, viajaram com suas respectivas famílias e a deixaram sozinha, com a sua jovem tia de trinta e dois anos, que quase não ficava em casa, sempre ocupada com o emprego ou um novo namorado. Sabia que elas teriam várias histórias para contar, ainda que ela mesma não tivesse nenhuma.

Beatriz caminha pelo pátio a céu aberto, com várias mesas de piquenique de concreto e guarda-sóis de madeira em cima, espalhados por ali. Os alunos da sua escola tinham o costume de matar o tempo ali antes da hora da entrada, na hora do almoço, quando tinha aula vaga, ou quando resolviam cabular aula mesmo. Ela procura entre os vários rostos de alunos, sentados em grupinhos, até encontrar a mesa onde duas garotas estão sentadas, se abraçando.

- Ei, meninas! – ela grita, acenando e caminhando para a mesa aonde elas estão.

As duas garotas olham em sua direção e acenaram de volta.

Beatriz sorri para os tão familiares rostos das suas amigas. Ali estava Angeline, uma garota loira, voluptuosa e confiante, que não tem medo de usar camisetas apertadas e saias curtas, mesmo correndo o perigo de ser pega pela diretora e ser mandada para a escola. Ela tinha cortado o cabelo naturalmente loiro, que costumava bater na bunda, na altura do queixo, o que a deixava com a aparência mais madura e atraente. Só uma pessoa muito confiante faria uma mudança radical dessas. Beatriz sempre admirou isso nela.

Ao seu lado, estava Holly, que era ruiva natural, tinha uma pele branquinha de porcelana, e um ar de menina doce. Ela era simpática e inteligente, do tipo que nunca fazia nada de errado, respeitava os mais velhos e se vestia recatadamente. Beatriz se identificava em muitos aspectos com Holly. Só não tinha a facilidade que ela tinha em lidar com as pessoas.

Ao invés disso, ela era aquela garota quietinha e tímida, que não falava com ninguém e sempre ficava nas sombras, com seu cabelo castanho, liso e sem graça, e sua vestimenta básica de camiseta e calça jeans. Era por isso que ela nunca tinha coisas interessantes para contar, porque não tinha a mesma coragem de se aventurar como suas amigas. Na verdade, o fato dela ser amiga de Angeline e Holly já era um certo êxito, que nem ela sabia como explicar. Ter sido amiga delas na infância, não era garantia que elas continuariam interessadas nela depois que chegassem ao ensino médio e se tornassem mais populares. Mas, de algum jeito, ali estavam elas, todas com quinze anos, e ainda melhores amigas.

- Oi, meninas – Beatriz diz, assim que se senta na mesa, entre as duas amigas, distribuindo um beijo na bochecha de cada uma.

- Oi – Holly a cumprimenta de volta – há quanto tempo não nos vemos, estava morrendo de saudade – Holly sempre foi a mais carinhosa do grupo.

- Eu também estava de vocês – diz Beatriz, com um leve rubor nas bochechas por ser tão sentimental.

- E eu – se manifesta Angeline – mas vamos ao que interessa. Aprontaram muito nas férias? – ela ergue uma sobrancelha, maliciosamente.

Beatriz ri. Como sentira falta da sua amiga indiscreta e sacana!

Angeline espera pela resposta das amigas. Beatriz fica calada, com vergonha demais de admitir que passou seus dias assistindo séries novas no Netflix, abraçada com seu gato, Thor.

Angeline se volta para Holly. Estranhamente, a amiga não diz nada, olhando para as pontas do seu cabelo ondulado, obviamente tentando fugir do assunto.

- Qual é, meninas? – Angeline insiste – suas férias não podem ter sido piores que as minhas – ela joga o corpo pesadamente contra a mesa – fiquei um mês inteiro com minha mãe e seu novo marido, que estavam em lua de mel e não paravam de se agarrar na minha frente. Fala sério! Se eles iam ficar agindo como dois adolescentes excitados, podiam ter me deixado em casa. Foi um saco – ela faz cara de cansada.