J∆DE (+18)

BEM VINDA, JADE

— Brigou na rua de novo, querido? — A voz doce e suave ecoou pelo o quarto escuro. Ouve um breve segundo em silêncio antes das cortinas serem abertas e o sol explodir as minhas córneas. Afundei o rosto no travesseiro e gemi de dor. Ouvi a risadinha de Grace e os passos em direção à porta do meu quarto. — Não esqueça do jantar com o seu pai hoje à noite. Leve a Irla com você... O senhor Mackenzie gosta mesmo dela.

Grace saiu do quarto sem que antes eu pudesse contestar. Ela fazia absolutamente tudo o que meu pai mandava. Não duvidava do seu carinho por mim, uma vez que me criou como filho na falta da minha mãe, entretanto ela ainda era uma subordinada que cumpria ordens diretamente ao magnata Bruce Mackenzie.

De tudo o que eu mais odiava nele, a sua prepotência estava em primeiro lugar. Bruce era o dono do mundo. A maior parte do tempo estava viajando a negócios e na outra me dando ordens como o fazia com os seus piões.

A cada seis meses ele me apresentava uma namorada diferente. Eram modelos, atrizes de Hollywood e até mesmo universitárias. Ele nunca se mantinha preso em um relacionamento por muito tempo. Essa era a nossa única semelhança.

Me movimentei na cama e envolvido nos lençóis o meu corpo rolou até o chão gelado. O tombo perfeito para despertar. O dia mal havia começado e eu já estava na merda.

. . .

Irla Rajesh era a minha melhor amiga e talvez a única garota com quem eu não havia transado naquela cidade.

Crescemos no mesmo bairro, nossos pais eram sócios e ela ia a todos os eventos importantes comigo. Nosso relacionamento era forjado. Os seus pais gostavam de mim e o meu pai gostava dela. A família de Irla era muito conservadora e eles arranjavam relacionamentos com base em seus interesses.

Enquanto Irla fingisse estar comigo, sua família estaria tranquila e eu teria uma acompanhante para apresentar a todas as namoradas oxigenadas do meu pai.

Outro ponto importante é que Irla se interessava por garotas. A única forma de esconder sua bissexualidade e ser poupada de casar-se com um desconhecido, era estar ao lado do único homem em que ela confiava. Eu.

— Como você acha que eu estou?

— Normal. — Respondi casualmente. — Me ajuda a colocar essa gravata, pelo amor de Deus!

— Como você é chato, Levi. Por isso não faz sucesso com as garotas. — Ela levantou irritada da cama e se aproximou. Com suas mãos pequenas e ágeis, Irla fez o nó na gravata em segundos.

— Você deveria me ensinar.

— Jamais revelaria meu segredo da sedução. — Piscou um dos olhos pretos.

— Não seja tão cruel... Somos amigos desde criança. Não temos segredos.

Isso não era verdade. A única pessoa em quem eu confiava totalmente era Noah, muito embora Irla também fosse como uma irmã para mim.

— Você fica bonito vestido que nem gente. — E apertou a gravata, enforcando meu pescoço levemente.

O terno preto tudo bem, mas eu me recusava a usar sapatos formais. O All Star quebrava a formalidade idiota imposta pelo meu pai e me fazia sentir um pouco mais confortável.

Afrouxei o nó recém feito por Irla e encarei o meu reflexo desafiadoramente. O cabelo preto estava penteado para trás com gel, mas uma mecha rebelde insistia em cair na testa todas as vezes que eu a afastava.