NÃO SOU ELA

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Aos dez anos eu presenciei a minha mãe convulsionando em overdose.

Durante todo o período em que esteve hospitalizada eu não sai sequer um segundo do seu lado. Era como se a responsabilidade fosse completamente minha. E, observando ela se definhar em uma maca, eu entendi que se eu não fizesse escolhas diferentes das dela, dentro de dez anos seria eu no seu lugar.

A única diferença é que eu não a teria lá por mim da mesma forma que eu estava ali por ela.

E como uma criança inocente, eu acreditei fielmente que ela mudaria e que não cometeria os mesmos erros no futuro. Mas ela era uma drogada narcisista que jamais cumpriria com a sua palavra.

Foi assim que eu aprendi a odiá-la.

— Como ele está? — Bruce questionou o médico com impaciência e agressividade. Eu nunca tinha visto ele tão ansioso quanto naquele momento.

— Calma, Sr, Mackenzie! — Irla interveio. Eu tinha esquecido que ela também fazia parte da família.

— Calma o caralho! Onde você estava quando tudo isso aconteceu? — Bruce rebateu, tirando as mãos dela de cima dos seus ombros.

Bruce não estava simplesmente preocupado, ele estava furioso.

Eu olhei para Irla, sem saber ao certo o que sentir. Ela estava com as sobrancelhas franzidas e os lábios rijos. Era como se estivesse se controlando para não perder a cabeça. Fazia isso por Levi, porque entendia que naquela sala de espera, ela era a única pessoa que Levi desejaria ver ao acordar.

A questão, é: ele acordaria?

— Preciso conversar com o senhor sobre o quadro do seu filho. Podemos? — O médico finalmente conseguiu falar em meio a tanta confusão.

Bruce penteou a sua franja loira para trás, impaciente. Molhou os lábios e concordou com a cabeça, o aval necessário para o doutor continuar.

— O Levi deu entrada com um quadro avançado de overdose, teve uma parada cardíaca...

Neste momento Irla colocou a mão sobre a boca, surpresa.

— O meu filho está bem? — Bruce perguntou pausadamente, quase que com dificuldade de respirar. — Não me diga que...

— O quadro dele é grave, mas estável. Fizemos o possível, porém não há previsão de alta. Em tantos anos de profissão eu nunca vi alguém sobreviver a uma dose tão alta de cocaína. A quantidade dessa substância encontrada em seu organismo foi tão alta que só há duas possibilidades: A primeira é que alguém tentou matá-lo e a segunda é que ele mesmo tentou suicidar-se.

Aquela informação caiu como uma bomba atômica sobre nossas cabeças. Irla virou de costas, querendo vomitar. Enquanto isso Bruce apenas ficou estático, olhando para o médico sem reação nenhuma.

Eu também estava em estado de choque. Não sabia muito bem o que sentir. Era como se eu estivesse revivendo tudo novamente em um loop infinito.

Naquele momento eu me senti responsabilizada por sua situação médica. Afinal de contas eu havia transformado a sua vida em um verdadeiro inferno, porém nunca pensei que ele tentaria acabar com ela antes de acabar com a minha.

— Em um ponto de vista profissional, acredito que após a internação o seu filho precise ter acompanhamento psicológico. Na verdade... — Olhou para nós três. — A família toda precisa. Bom, de qualquer forma os manterei informados. As primeiras vinte e quatro horas são as mais perigosas.

J∆DE (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora