V4DI4 GANANCIOSA

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O meu reflexo se tornava distorcido em contraste com a neblina provocada pela fumaça do cigarro que queimava lentamente entre meus dedos.

O cinzeiro de vidro ao lado da maleta de maquiagens trazia uma ironia cintilante, porque eu não permaneceria bonita se continuasse fumando assim.

Eu esfreguei um batom vermelho canela nos meus lábios. As sobrancelhas estavam arqueadas e a expressão era indiferente.

Eu poderia estar comentando um grande erro.

Sentada de frente para a penteadeira, encarava os meus segredos escondidos por trás das minhas pupilas dilatadas sem nunca entender, realmente, a motivação para os erros que cometi.

Senti a presença de Bruce Mackenzie no instante em que ele pisou no quarto.

Tudo nele brilhava e queimava. Ele era a porra de um meteoro. Uma espécie de bruxo ou mago. Toda aquela energia era avassaladora e a sua presença era simplesmente sufocante, como se Bruce pudesse sugar todo o ar dos meus pulmões.

E os seus passos, ainda assim, eram lentos. Os seus movimentos seguros, firmes, mas imprevisíveis. Somente ele conhecia o que se passava dentro da sua mente, e eu não tinha certeza de ele possuía uma alma.

— Está pronta? — Ele parou em pé atrás de mim, encarando meus olhos pelo o reflexo.

— Acho que sim. — Eu respondi sem ter certeza.

— Não, não está. — Bruce afirmou.

— O que está faltando? — Questionei, confusa.

Eu estava usando um longo vestido preto com decote em "V". Eu não tinha muito volume nos seios, mas ainda assim aquela fenda era o suficiente para deixá-los atraentes. Talvez fosse muito exagerado, ainda mais com aquele batom vermelho canela.

Bruce nunca me impediu de usar qualquer tipo de roupa, porém eu entenderia se aquela não fosse apropriada para a ocasião, o tão esperado jantar na mansão da Magareth Violet. Para ser sincera eu não sabia ao certo como deveria me portar diante daquela mulher.

— Está faltando isso. — Bruce respondeu simplesmente, a voz mais rouca e grave do que nunca. Ele tirou uma pequena caixa preta do bolso interno do seu terno e me entregou.

— O que é isso? — Eu perguntei sem entender.

— Abra.

A sua voz me causava calafrios.

Eu segurei a pequena caixa com as minhas mãos, respirei profundamente e fiz o que ele mandou sem saber ao certo o que iria encontrar.

Bruce era um homem imprevisível.

Analisei com cuidado o que estava diante dos meus olhos.

Dentro da caixa havia uma coleira de couro com a grossura de mais ou menos três dedos e, na parte central, a enorme letra "M" era formada por inúmeras pedras brilhantes.

— Diamantes. — Bruce respondeu antes que eu perguntasse.

— O que isso significa, Bruce? — Minha voz saiu embargada por um mix de surpresa e confusão.

— Mackenzie. — Ele apontou para o M.

— Por que está me dando isso? — Encarei seus olhos pelo espelho. Bruce era como uma sombra atrás de mim.

— Porque você é minha.

Eu não disse nada, porque simplesmente não consegui dizer.

Olhei para a coleira novamente. Eram centenas de minúsculos diamantes. Brilhavam tanto que eu mal conseguia raciocinar. Eu escorreguei o polegar pelo M sentindo as pedras preciosas queimarem a minha digital. Eu nunca tinha visto nada parecido. O couro da coleira também era de ótima qualidade, era tão preto e firme que certamente marcaria o pescoço de quem o usasse. E além do mais, o couro e os diamantes despertavam uma beleza crua e contraditória.

J∆DE (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora