LINHAS NA PALMA DA MÃO

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Eu realmente era muito azarada.

Gracie estaria de folga nos dois dias seguintes, justamente enquanto Bruce estivesse fora da cidade. Aquilo significava que eu iria passar mais tempo sozinha com Levi do que eu realmente merecia. Tudo estava conspirando contra mim, foi quando encontrei a solução na adega.

Trouxe sete garrafas de diferentes vinhos tintos para a beira da piscina ao anoitecer, um cobertor e também alguns petiscos já que eu não tinha me alimentado durante o dia.

Eu pensei em tudo o que me levou até aquele exato momento. A inconsequência da minha mãe, os abusos, a relação conturbada com a minha avó, os homens mais velhos que se aproximaram de mim ao longo da minha adolescência... Tudo formava um imenso mosaico de desilusões.

Eu busquei um culpado e encontrei a mim.

Eu nunca pensei que acabaria rica e vazia bebendo vinho na beira da piscina durante uma noite estranhamente gelada. E quando me dei por conta já havia amanhecido. Não pude ver o sol nascer porque as enormes mansões encobriam boa parte do céu.

Eu estava fumando o último cigarro do maço quando Levi chegou. Eu não o cumprimentei, também não o questionei por estar tentando entrar pela porta dos fundos, na verdade, eu fingi não ter reparado na sua presença. E Deus sabe como eu desejei que ele fingisse não reparar na minha também.

Eu não queria brigar, eu realmente não queria ter que trocar sequer uma palavra com qualquer um dos Mackenzie's naquele momento, porque tudo o que eles diziam era propositalmente para me machucar.

Porém, contrariando tudo o que eu desejava, Levi simplesmente caminhou até mim e se sentou ao meu lado.

Eu havia armado uma pequena cama naquela espreguiçadeira, a mesma onde eu estava sentada antes de cair na piscina no outro dia. Estava coberta com o meu lençol e não sentia frio, não mais.

Levi analisou em silêncio as garrafas de vinho vazias e o cigarro que queimava devagar entre meus dedos. Ele parecia estar tentando me entender para no fim me julgar. Foi quando eu virei o rosto na direção do seu e nossos olhos se encontraram.

— Levi. — Minha voz não passou de um sussurro, o esboço de uma falsa surpresa que não existia.

— Você está com uma cara horrível. — Ele disse, simplesmente.

— Você também.

Levi deu de ombros.

Não, ele não estava com uma cara horrível. O cabelo negro bagunçado, a expressão indiferente e o olhar profundo eram estranhamente vazios, mas ele não parecia estar na fossa... não tanto quanto eu.

— Está triste porque ele foi viajar?

Era somente as nossas vozes em contraste com o silêncio e a luz morna da manhã. Fazia em torno de 24 horas desde a última conversa com Bruce e, pela primeira vez desde então, eu esbocei um sorriso.

— Não estou triste.

— É claro que está. — Apontou para as garrafas vazias. — Mas se não quiser acabar como uma alcoólatra depressiva, é melhor se acostumar. Bruce praticamente não mora aqui, ele apenas passa alguns dias e em seguida viaja.

— Eu já sou uma alcoólatra depressiva, Levi. — Respondi vagarosamente, entre um trago e outro, enquanto olhava nos seus olhos fixamente.

Levi usava calça jeans, camiseta branca e jaqueta de couro como um típico badboy. Era o conjunto perfeito para alguém que vai foder cada um dos seus neurônios lentamente.

— Não, não é. — Levi disse simplesmente, encarou o céu e suspirou. Ele era tão presunçoso que  fingia saber mais sobre mim do que eu mesma. — Tem um cigarro para mim?

J∆DE (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora